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Papa recebeu tuaregues e sublinhou "fraternidade universal" de Carlos de Foucauld
2005-11-14 12:09:53

Carlos de Foucauld, soldado francês que se tornou monge eremita no deserto do Sara vivendo entre os tuaregues, foi ontem beatificado no Vaticano, naquele que é o passo antes da canonização. Vários tuaregues com o véu tradicional e túnicas azuis estiveram presentes na cerimónia.

O Papa Bento XVI, que os recebeu no final da cerimónia, disse que a vida de Carlos de Foucauld é um convite a todos os que desejam a "fraternidade universal". A AP nota mesmo que o Papa saudou os sorridentes tuaregues, um por um.
Foucauld, que viveu entre 1858 e 1916, morreu assassinado durante a I Guerra Mundial. Precursor do diálogo interreligioso, apesar da sua proximidade com os nómadas do deserto e do apoio que dava aos mais pobres, Foucauld acabou vítima do conflito mundial e da luta que diversos grupos muçulmanos já travavam contra a ocupação francesa.
Foi o cardeal português José Saraiva Martins que presidiu à celebração de beatificação, na sequência da regra instituída pelo novo Papa: Bento XVI decidiu que presidirá apenas a cerimónias de canonização - ou seja, de proclamação de novos santos.
Na sua homilia, regista a AFP, Saraiva Martins afirmou que o monge francês "teve uma influência notável na espiritualidade do século XX e continua a ser, no início do terceiro milénio, uma referência fecunda".
Sublinhando a "simplicidade" daquele que é conhecido como o irmão Carlos, Saraiva Martins acrescentou que Foucauld levou o seu compromisso ao ponto de "testemunhar Jesus no respeito pelas outras experiências religiosas" e a "reafirmar o primado da caridade vivida na fraternidade".
Inspirado na espiritualidade franciscana, Carlos de Foucauld sonhou com o projecto de criar comunidades "semelhantes às comunidades dos primeiros tempos na Igreja". A sua ideia, que nasceu numa visita à Terra Santa depois de ter deixado o exército, acabou por dar origem a dez congregações religiosas, entre as quais as fraternidades dos Irmãozinhos e Irmãzinhas de Jesus, criadas só depois da sua morte.
Etnólogo e linguista, Carlos de Foucauld dedicou-se também a estudar a língua e a cultura tuaregue, tendo traduzido numerosos poemas e textos.

Milhares de fiéis
em Roma
Os frades e freiras que as integram vivem normalmente em bairros degradados, em meios pobres ou junto de populações desfavorecidas. Em Portugal, por exemplo, há uma comunidade dos Irmãozinhos de Jesus a viver em Setúbal, e três comunidades de irmãs nos bairros de Chelas (Lisboa), Prior Velho (Loures) e em Seia, além de um outro grupo em Fátima.
"A primeira coisa a fazer é respeitar uma cultura diferente da sua, de procurar compreender a luz da verdade e descobrir nela o projecto de Deus sobre cada ser humano", escrevia a irmã Magdeleine Hutin, ou Magdeleine de Jesus, que criou as Irmãzinhas de Jesus a partir da proposta de Carlos de Foucauld. "É somente a partir do respeito das culturas, das civilizações e das religiões que será possível revelar aos outros o amor de Deus."
Ontem, estiveram presentes na celebração em Roma dezenas de milhares de fiéis, entre os quais muitos franceses. Citado pela AFP, Jean-François Ribard dizia: "Sinto-me muito tocado pela espiritualidade do padre Foucauld, ao mesmo tempo contemplativa e fraterna". O ministro da Justiça e a mulher do primeiro-ministro francês assistiram também à missa, que contou com a participação de vários bispos católicos do Norte de África e do arcebispo de Paris, André Vingt-Trois, ido directamente de Lisboa, onde participou no Congresso Internacional para a Nova Evangelização.

António Marujo

Fonte Público

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