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50 propostas para viver o Sínodo
2005-10-25 22:09:13

Pela primeira vez nos 40 anos da história do Sínodo dos Bispos, o Papa decidiu tornar públicas as propostas (propositiones) da assembleia sinodal, as quais servem como base para a redacção da exortação apostólica pós-sinodal, documento com o qual é oficialmente encerrado o Sínodo.

Bento XVI disse ontem, na recitação do Angelus, que estas “reflexões, testemunhos, experiências e propostas” estarão presentes na referida exortação apostólica pós-sinodal que, “tendo em conta as diversas realidades do mundo, ajuda a desenvolver o rosto da comunidade católica que tende a viver unida na pluralidade das culturas".
As 50 propostas finais, votadas na manhã do passado sábado, no final dos trabalhos, apresentam uma série de recomendações sobre algumas das questões mais discutidas na vida da Igreja. A versão oficiosa deste documento foi publicada em italiano e representa um guia essencial para perceber a importância deste primeiro Sínodo do pontificado de Bento XVI, que reuniu mais de 250 Bispos no Vaticano, de 2 a 23 de Outubro.
A “lista final” (Elenchus finalis) está estruturada em três capítulos. Após uma introdução, que engloba duas proposições, o primeiro capitulo tem como título “O Povo de Deus educado na fé na Eucaristia”, com vários subcapítulos: “A fé na Eucaristia” (3-6); “Eucaristia e Sacramentos” (7-12); “Catequese e mistagogia” (13-17).
A segunda parte trata da “Participação do Povo de Deus na celebração eucarística”, passando pela “Estrutura da celebração” (18-24, com algumas propostas de mudança nos momentos da Missa); “Ars celebrandi” (25-29) e “A participação dos fiéis” (30-37).
O último capítulo refere-se à “Missão do Povo de Deus alimentado pela Eucaristia”, falando da “Eucaristia e a comunidade cristã” (38-41) e da “Eucaristia para o mundo” (42-49). A última proposição, intitulada “Verum Corpus natum de Maria virgine”, é a conclusão do documento.

Celibato sacerdotal
A proposição número 11 é relativa à escassez de padres no mundo e reafirma claramente “a importância do dom inestimável do celibato na prática da Igreja latina”.
A propósito da questão da ordenação de viri probati (homens casados de virtude reconhecida), o Sínodo precisa que “esta hipótese foi julgada como um caminho a não percorrer”. O Sínodo apela, por outro lado, à promoção do ministério dos diáconos permanentes "segundo as indicações conciliares".
Para fazer face a situações de crise, os padres sinodais encorajam a promoção da pastoral das vocações e convidam a uma “distribuição mais justa” do clero no mundo.
Uma outra proposição pede às várias Conferências Episcopais que analisem a questão das celebrações "nas comunidades à espera de padre” (expressão que substitui a habitual “na ausência de padre”). “Será conveniente evitar qualquer confusão entre a celebração da Santa Missa e a assembleia dominical à espera de padre”, refere o documento, “encorajando os fiéis a ir, quando possível, onde a Missa for celebrada”.
“O padre é, de maneira insubstituível, aquele que preside a toda a celebração eucarística”, sublinha o texto.

Situações irregulares
O documento sinodal reafirma a “tradição da Igreja” segundo a qual os divorciados que voltaram a casar “não podem ser admitidos à Santa Comunhão”, mas precisa que eles “continuam a pertencer à Igreja que os acolhe”.
A estas pessoas em situação matrimonial irregular, o Sínodo pede que cultivem “um estilo de vida cristão, através da participação na Missa, mesmo sem receber a Comunhão”. A proposição 40 lembra que os divorciados que voltaram a casar e que não obtiveram a nulidade dos seus casamentos podem comungar desde que “se comprometam a viver a sua relação segundo as exigências da lei de Deus, transformando-a numa amizade leal e solidária”.
Ao mesmo tempo, os padres sinodais fazem votos de que seja reforçado o trabalho dos tribunais eclesiásticos, relativos às causas de nulidade de casamento, “aprofundando ulteriormente os elementos essenciais para a validade do casamento, tendo em conta também problemas que surgem do contexto de profunda transformação antropológica da nossa época”.
O documento pede ainda uma grande atenção para a formação dos noivos antes do casamento e evoca a questão da poligamia, lembrando que “a natureza do casamento exige que o homem esteja ligado de forma definitiva a uma só mulher”.

Ecumenismo
A preocupação com o caminho ecuménico esteve sempre presente nos trabalhos da assembleia, que contou com a participação de 12 delegados fraternos de confissões cristãs não-católicas.
Na proposição 41 é notado que o “único Baptismo” não permite a admissão de fiéis de outras confissões à Comunhão: “a separação na mesa do Senhor é vivida com dor”.
“A Comunhão Eucarística com os cristãos não-católicos não é possível, em geral”, refere o documento, apontando que “a concelebração ecuménica é ainda mais excluída”.
A assembleia sinodal pede aos cristãos de outras Igrejas que “compreendam” e “respeitem” as normas da Igreja Católica, precisando que “o carácter eclesial da Eucaristia poderia ser, também, um ponto privilegiado no diálogo com as comunidades nascidas da Reforma”.

Liturgia
Na sua introdução, o documento evoca a “validade” da reforma litúrgica pós-conciliar, precisando que há cada vez menos abusos litúrgicos, mas que eles ainda existem. Os padres sinodais insistem, por isso, “no valor, importância e necessidade de observar as normas litúrgicas”.
As conferências episcopais são convidadas a “aumentar as tentativas de inculturação” nas celebrações litúrgicas ao mesmo tempo que se estimula a utilização do latim em cerimónias de carácter internacional.
Retomando um dos temas discutidos na assembleia, o documento convida a “estudar melhor a prática da concelebração quando o número de padres é muito elevado” e recomenda a genuflexão “nos momentos fortes da Oração Eucarística”.
A proposição 33 exige que a colaboração dos leigos no serviço litúrgico tenha lugar “segundo as exigências reais” e que as pessoas “sejam escolhidas com cuidado, bem preparadas e acompanhadas com uma formação permanente”.
Aos padres é pedida uma maior atenção no que diz respeito às homilias, propondo-se que elas sigam os diferentes temas da fé, ao longo do ano. A este respeito, é pedida a elaboração de um "subsídio pastoral", baseado no Leccionário trienal.
Algumas alterações foram propostas no que diz respeito às Orações Eucarísticas (introdução de aclamações), à saudação da paz (deslocada, eventualmente, para outro momento da celebração) e ao envio final “Ite missa est”, com o objectivo de “sublinhar a missão no mundo dos fiéis que participaram na Eucaristia”.
O papel dos meios de comunicação social, incluindo a Internet, no serviço aos que não podem participar na Missa foi destacado. Os padres do Sínodo lembram que os Media “podem chegar aos baptizados que se afastaram, e mesmo aos não-cristãos”.

Centralidade do Domingo
A “lista final” reafirma a centralidade do Domingo e da celebração eucarística dominical, encorajando “fortemente” a adoração eucarística e sugerindo que “na medida do possível, as igrejas em que o Santíssimo Sacramento está presente permaneçam abertas”.
Os padres sinodais recordam que “o estado de graça” (Confissão e absolvição dos pecados) é necessário para receber a Comunhão, recomendando aos Bispos que “não permitam nas suas Dioceses o recurso às absolvições colectivas, salvo em situações objectivamente excepcionais”, já previstas pela Igreja.
O Sínodo encoraja ainda “uma renovação da catequese” sobre a prática das indulgências e uma maior atenção para as pessoas com deficiência mental “baptizadas e confirmadas”.
No documento defende-se que a idade certa para a Confirmação “poderia ser repensada”, com a proposta do itinerário Baptismo–Confirmação-Primeira Comunhão a poder ser feita, na Igreja latina, não só aos adultos, mas também às crianças.
Os padres sinodais falam, no número 16, na necessidade de "um itinerário mistagógico, a viver na comunidade e com a sua ajuda, fundado nos seus três elementos essenciais: a interpretação dos ritos à luz dos acontecimenos bíblicos, segundo a tradição da Igreja; a valorização dos sinais sacramentais; o significado dos ritos em vista do compromisso cristão da vida".
Outra proposta foi a criação de um "Compêndio" ou de um instrumento de apoio pastoral que reuna elementos litúrgicos, doutrinais, catequéticos e de devoção sobre a Eucaristia “para desenvolver a fé e a piedade popular”.

Política
A proposição 46 aborda a coerência eucarística nos políticos e legisladores católicos, que o Sínodo chama a “sentirem-se particularmente interpelados na sua consciência, correctamente formada, sobre a pesada responsabilidade social de apresentar e apoiar leis iníquas”.
Os padres sinodais notam a ausência de “coerência eucarística” quando são promovidas leis que não vão ao encontro do “bem integral do homem”, indo contra a “justiça e o direito natural”.
Referindo que “não se pode separar a opção privada da pública”, o documento convida os Bispos a aplicar esta orientação “face à realidade eucarística”, com as virtudes da “força e da prudência”.
O documento sinodal evoca, por fim, a dimensão social da Eucaristia, que “encoraja os cristãos a comprometerem-se e a trabalharem na vida política e na acção social”.
“Aqueles que participam na Eucaristia devem comprometer-se na construção da paz no nosso mundo, marcado por múltiplas violências e guerras, hoje em particular pelo terrorismo, a corrupção económica e a violência sexual”, apontam.
A lista final de 50 proposições resultou do trabalho de 12 “Círculos Menores”, grupos de trabalho em várias línguas, durante o Sínodo. Inicialmente apareceram 280 propostas, posteriormente reduzidas a 120 para dar origem à lista final. Esta foi apresentada à assembleia sinodal e tornou-se objecto de cerca de 500 emendas antes da redacção conclusiva.

Fonte Ecclesia

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