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Cardeais Preparam Igreja do Século XXI
2001-05-22 18:56:57

Não é um pré-conclave, dizem responsáveis do Vaticano, mas o ambiente é esse: desde ontem, estão reunidos em Roma cerca de 150 cardeais (dos 183 que actualmente existem) para traçar o que devem ser as orientações pastorais da Igreja Católica para as próximas décadas.

Este sexto consistório de cardeais convocado pelo Papa João Paulo II permite que os participantes, além de poderem conhecer-se melhor e definir opções para uma eventual escolha de um futuro Papa, estabeleçam os traços gerais da orientação de um novo pontificado.

O início, ontem de manhã, não podia ser mais claro e diversificado: o catolicismo tem que sair de si e ir para o terreno, disse o cardeal eslovaco Jozef Tomko. Antigo presidente da Congregação para as Missões, Tomko defendeu que uma Igreja de manutenção, consagrada aos afazeres quotidianos, não interessa. "É preciso sair das igrejas e dos gabinetes, é precisa uma Igreja missionária", afirmou o cardeal.

Uma perspectiva que veio como que responder ao primeiro relatório apresentado na reunião, da responsabilidade do cardeal francês Roger Etchegaray. Apresentando o seu relatório sobre o Jubileu celebrado o ano passado, Etchegaray referiu-se ao entusiasmo que considera ter existido com o pretexto dos 2000 anos do nascimento de Jesus. Mas esse olhar positivo - extensivo à China, país que o cardeal visitou várias vezes nos últimos anos - não o coibiu de recordar que o rosto de Cristo não é ainda conhecido em muitas regiões do mundo. "Como não pensar na imensa Ásia onde a Igreja é minoritária entre uma população que representa a maior parte da humanidade?", perguntou.

O desafio mais provocador, acrescentou o cardeal francês, "e o mais urgente para a evangelização do novo milénio" é só um: "Só uma Igreja pobre por detornar-se uma Igreja missionária e só uma Igreja missionária pode exigir uma Igreja pobre."

Uma agenda de temas difíceis
Pré-conclave ou não, o consistório deverá enfrentar algumas questões centrais para o futuro próximo da Igreja. Com o tema genérico "Perspectivas Pastorais da Igreja no Terceiro Milénio", os cardeais participantes deverão debater problemas enunciados num documento preparatório de 14 páginas e que vão desde o anúncio de Cristo num contexto de diálogo inter-religioso até ao papel da Igreja perante as novas religiosidades, passando pelas relações entre a universalidade do catolicismo e as comunidades locais, a mundialização da solidariedade e o escândalo da pobreza, as pesquisas científicas e a moral sexual e familiar, ou as novas técnicas de comunicação.

"É a primeira vez que um Papa no activo convoca um encontro que discutirá, de facto, as perspectivas do próximo papado", analisa o jornalista Marco Politi, citado pela Reuters. Para o co-autor do livro "Sua Santidade", sobre o papel de João Paulo II na queda do comunismo, o consistório é "uma oportunidade única para conversas calmas ao jantar sobre os candidatos à sucessão" do Papa.

O próprio João Paulo II pediu ontem aos cardeais, na abertura dos trabalhos, que os participantes falem em conjunto sobre "as vias mais convenientes" para que a Igreja Católica seja, hoje, um "sinal credível do amor de Deus por cada homem".

Referindo-se ao encontro, o patriarca de Lisboa, José Policarpo, afirmou à agência Lusa que o consistório, além de permitir aos cardeais conhecerem-se uns aos outros, irá criar a possibilidade de conciliar as perspectivas das igrejas locais com a dimensão universal da Igreja Católica.

Questões polémicas das relações entre o Papa e os bispos, entre a Cúria Romana e as dioceses locais, mas também a do ministério do Papa no contexto do diálogo ecuménico com protestantes e ortodoxos, deverão ser tratadas durante estes quatro dias. Foi nesta matéria que, ontem, ao apresentar o seu relatório, o cardeal Etchegaray se referiu ao sonho do Papa, de reunir na Terra Santa, durante o Jubileu, representantes de todas as confissões cristãs. A ideia não se concretizou, lamentou o cardeal francês, que disse: "A busca da unidade da Igreja cristã toma o aspecto de uma maratona que coloca à prova a nossa esperança".

Ontem e hoje é o tempo para as intervenções livres dos cardeais, amanhã haverá debate em pequenos grupos, seguido de balanço dos trabalhos, com uma síntese final que será preparada por Juan Sandoval Iniguez, arcebispo de Guadalajara (México). O encontro termina quinta-feira, com a missa do dia da Ascensão.

Em cima da mesa estão também as perspectivas enunciadas pelo próprio Papa na sua carta do início deste ano, "Novo Millennio Ineunte" ("No Início de um Novo Milénio"), em que se fala da necessidade de a Igreja promover a justiça num mundo em que coexistem paraísos tecnológicos com situações de pobreza extrema. A crise ecológica, os esforços pela paz mundial e a promoção dos direitos humanos são outras questões sociais que os cardeais começaram a enunciar.

Ontem, as primeiras intervenções já abordaram temas como a globalização económica (que deve ser acompanhada do princípio da solidariedade) ou o diálogo e a caridade inter-religiosa (em situações como a do Líbano, evocada pelo cardeal Nasrallah Sfeir, daquele país).

Fonte Público

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