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Voluntariado
2005-09-01 16:37:39

Vou relatar dois casos que têm a ver com o nascimento de crianças.

Há cerca de um mês, uma Missionária italiana que aqui conheci e com quem contacto diariamente, foi chamada para transportar uma senhora que estava a entrar em trabalho de parto. Quando chegou ao local para onde foi chamada, deparou-se com três mulheres a conversar como se nada se tivesse passado. Pois uma destas mulheres tinha acabado de dar à luz uma menina. Ali estava ela, de pé, toda descansada da vida.

Criança embrulhada numa capulana.
Não havia nenhum homem por perto, pois faz parte da cultura o homem não estar presente. Tem até de estar muito longe.
Não obstante, a missionária levou-a ao Hospital, pelo menos para ser verificada e para que lhe fizessem a higiene necessária.
O outro caso é bem pior.
Há dias houve uma reunião com mulheres do Gurúè, antiga Vila Junqueiro, reunião que tem por objectivo a promoção humana e social da mulher.

É orientada por mulheres missionárias.
Nessa reunião estava presente uma senhora grávida. Tudo normal. Nem passou pela ideia das missionárias que aquela mulher estivesse tão perto de dar à luz. Portanto nem falaram de necessidades e dificuldades que sempre existem nestes momentos.
Passados dois ou três dias entrou em trabalho de parto. Começou a correr mal. A perder muito sangue. Teve de ser transportada numa maca ali improvisada durante muitos quilómetros até chegar à Missão de Invinha. Tudo a pé. Carros aqui são raros.
Não sendo permitido aos homens aproximar-se, imaginemos a situação.
Ainda bem que os celulares também já cá chegaram. Nem todo o progresso é mau. A Irmã telefonou com muita insistência para que uma ambulância fosse buscar a Senhora e a transportasse ao Hospital mais próximo. Doutro modo teria que esperar que houvesse alguma boleia. Seria tarde demais. Graças a Deus pôde ser salva.
O problema surgiu depois. A Senhora não tinha roupa para a sua menina nem leite do seu peito para a amamentar. Lá vão as Irmãs tentar comprar roupa porque também a não têm. E o leite, quando sair do Hospital vai ser um grave problema. O leite artificial é aqui muito caro.
É um bem para ricos.
Coitados dos pobres.

A mortalidade, quer de parturientes, quer de recém-nascidos é bastante elevada, mesmo dentro do Hospital, onde, ao que me disseram, as parteiras nem se dão ao trabalho de chamar o médico, a menos que a parturiente seja conhecida ou rica. Antes da entrada destas novas parteiras não era nada assim. É sempre o dinheiro, sem recibo, a fazer girar tudo.
Olhando estes casos, pergunto-me: Onde está a solidariedade humana? Afinal o que é isso da globalização? Nós lá na Europa com tudo. Até nos damos ao luxo de esbanjar. Este povo, que continua a ser explorado, é assim, com nada.
Faz-me lembrar a parábola de Lázaro que nem as migalhas caídas da mesa do rico podia comer.

João José Pereira da Silva Antunes
25 de Agosto de 2005


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