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Papa reúne com excomungados
2005-08-30 15:08:21

O Vaticano vai retomar o diálogo com a Fraternidade de São Pio X, um grupo de católicos integristas seguidores do francês Marcel Lefebvre e excomungados pela Igreja Católica em 1988.

O anúncio foi feito ontem depois do Papa Bento XVI se ter encontrado com o líder da Fraternidade, monsenhor Bernard Fellay, na sua residência de Verão, em Castelgandolfo.

"Num clima de amor pela Igreja e de desejo de chegar à plena comunhão". Foi com estas palavras que um comunicado assinado pelo porta-voz da Santa Sé, Joaquín Navarro-Valls, descreveu o encontro realizado a pedido do líder da Fraternidade de São Pio X. Na reunião participou também o cardeal Darío Castrillón Hoyos, da Cúria.

No final do encontro, o Papa e o líder dos integristas católicos manifestaram "vontade de agir por etapas e com prazos razoáveis", uma vez que estão "conscientes das dificuldades" que um processo de reintegração exige.

O afastamento deste grupo conservador da Igreja Católica começou a desenhar-se no Concílio Vaticano II, que decorreu entre 1962-65. Na reunião conciliar, Marcel Lefebvre, um dos bispos presentes, votou contra os documentos sobre a liberdade religiosa e sobre as religiões não cristãs. Após a reunião, Lefebvre declarou-se contra muitas posições de Roma e decidiu fundar uma igreja autónoma. Os seus seguidores instalaram-se na Suíça, onde construíram um seminário, mas o movimento expandiu-se também por França e Inglaterra, explicou Peter Stilwell, professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, e especialista em diálogo inter-religioso.

O encontro de Assis que ocorreu em 1986, para o qual o Papa Paulo VI convocou os líderes de outras religiões (e que João Paulo II repetiu após o 11 de Setembro), foi outro momento de discordância que levou Lefebvre a acusar o Papa de se afastar da tradição católica, pondo, assim, em causa a sua autoridade como Chefe da Igreja.

A excomunhão da Igreja Católica deu-se automaticamente, quando Michel Lefebvre ordenou um bispo da sua igreja, acto que é matéria de afastamento automático e sinal de ruptura com Roma.

A Fraternidade de São Pio X reclama o regresso à missa em latim e recusa o ecumenismo e o diálogo inter-religioso. Em Portugal, existe uma pequena comunidade seguidora deste movimento instalada no Alentejo, mas da qual pouco se conhece actualmente.

O encontro de ontem concretiza, na opinião de Peter Stilwell, mais um passo no caminho iniciado por João Paulo II e que Bento XVI já mostrou querer prosseguir. "Basta recordar os gestos do Papa recentemente em Colónia, onde se reuniu com a comunidade judaica, e o discurso inicial no qual exprimiu este caminho como uma prioridade, para perceber que este caminho é importante", considerou Peter Stilwell. Mas para que haja comunhão e o movimento seja reintegrado na Igreja, continuou o teólogo, "é preciso que este queira voltar e esteja disposto a aceitar as regras" do Vaticano, relembrando que a ruptura partiu de Lefebvre e não de Roma. "Não acredito que seja o Papa a renunciar ao Concílio Vaticano II".

Este passo é positivo, considerou Peter Stilwell, pois "se há abertura e diálogo com protestantes e ortodoxos, também se compreende que haja com um grupo que rompeu com a Igreja Católica".

rita carvalho

Fonte DN

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