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A loucura dos jovens à beira do Reno para ver o novo Papa
2005-08-19 21:54:13

Falam de uma "multiplicidade de culturas", de uma experiência espiritual com gente de todas as partes do mundo, conhecendo outras formas de viver a fé. Os participantes da Jornada Mundial da Juventude, que até domingo decorre em Colónia, estavam ontem eufóricos com a chegada do seu convidado especial: Bento XVI passeou-se pelo Reno e foi aclamado pela multidão que se juntou ao longo de dez quilómetros, nas duas margens do rio.

Numa coisa estão de acordo a portuguesa Joana Baptista, 23 anos, de Viseu, e a norte-americana Ashleigh Johnson, 16 anos, de Austin (Texas): o que se vive em Colónia (Alemanha), na Jornada Mundial da Juventude (JMJ), é "uma loucura". Ontem à tarde, foi isso que se viveu, ao longo dos cerca de dez quilómetros no passeio de barco pelo Reno, naquele que foi o primeiro grande banho de multidão do Papa Bento XVI, depois de aqui ter chegado ao meio-dia (11h em Lisboa).
"Esta multiplicidade de culturas, esta loucura que é tanta gente de tantas partes do mundo, esta grande experiência espiritual", espanta-se Joana, para quem o mais importante da JMJ é a possibilidade de "aprofundar a fé e conhecer outras culturas". "É uma loucura, uma grande experiência ver diferentes culturas", acrescenta Ashleigh.
Nas duas margens do Reno, banhadas de gente, esta loucura foi colectiva: centenas de milhares de pessoas agitavam bandeiras, assobiavam, batiam palmas ou acenavam. Aos mais de 400 mil participantes que já estão na JMJ, oriundos de quase duzentos países (cinco mil vindos de Portugal), juntavam-se muitos alemães de Colónia, cidade com quase um milhão de habitantes. A multidão acenava na direcção da longínqua figura de branco, que, na proa do barco de cruzeiro, dos que fazem o circuito do Reno e ornamentado com bandeiras de todos os países ali representados, respondia saudando a multidão.
Perto da catedral, na margem esquerda, um grande cartaz fala português: "Obrigado João Paulo II, estamos contigo Bento XVI." A multidão usa todos os sinais possíveis para se identificar, para se reconhecer: T-shirts, algumas delas com o nome Benedetto (Bento, em italiano) e o número 16 na dorsal, como os futebolistas; bandeiras nacionais agitadas; bonés coloridos - tudo serve para dizer de onde se vem, a que grupo se pertence.
Nos dias da JMJ, já se criou uma moda: as trocas de recordações. Vale tudo: crachás, chapéus, bandeiras, cartões telefónicos, até moedas. Alguns brasileiros chegam junto do seu grupo a anunciar que já trocaram reais por euros de diversos países. Com a catedral ao fundo recortada contra o sol, a luz intensa na água do rio, Mariangela Lima, 44 anos, mostra uma bandeira portuguesa, moedas, uma pequena bota em pano, porta-chaves, brincos.
Mariangela integra o Caminho Neocatecumenal, um movimento católico que se caracteriza pela experiência intensa da religiosidade, através de cânticos e da leitura da Bíblia. Veio de Brasília com duas sobrinhas. "Onde o Papa vai, nós estamos atrás, porque ele representa a figura de Jesus."
Isso significa que concorda com tudo o que os papas dizem? "O que ele fala é o que está nas escrituras", assegura Mariangela, para quem "o cristão é chamado a amar". Depois de ter estado em várias JMJ, Mariangela, solteira, nutricionista, diz que o mais importante que levará de Colónia é "o que o Papa falar".

Sombra de João Paulo II ainda está presente
No Rhein Terrassen, uma grande esplanada sobre o Reno, misturam-se as grandes canecas de cerveja com os pés de quem quer pôr-se mais alto à espera do Papa. Há grupos a cantar ao desafio e, às vezes, umas palmas ou alguém que se mexe fazem um falso alarme. Os bancos e as mesas compridas, servem de chão para se ver melhor o largo rio. Até que surge o barco onde vem Bento XVI e a multidão vai aclamando, numa onda que se propaga, o sucessor de João Paulo II.
A sombra do anterior Papa está ainda presente. Joana diz mesmo que veio a Colónia porque foi João Paulo II a convocar os jovens. "Vim conhecer Bento XVI, estou aberta ao que ele nos propuser."
Mais reticente está o chefe do agrupamento de escuteiros a que Joana também pertence. Salomão Carvalho, 36 anos, professor de Educação Visual, reagiu muito mal à eleição do alemão Joseph Ratzinger para Papa. "Deixei-me levar pelos rótulos, mas entretanto comecei a ler o livro "Diálogos Sobre a Fé" e gostei imenso: é um Papa da clareza, que não fica pelo meio-termo."
A universalidade de fé, a diversidade cultural e religiosa, são referidas por muitos. Christian Castro agita uma grande bandeira do Japão quando o barco onde segue Bento XVI passa de novo à sua frente, ao regressar para junto da catedral. Japonês, de ascendência filipina, Christian, 17 anos, diz que veio a Colónia ver o Papa e fazer a experiência da diversidade. Mesmo para poder, no Japão, dialogar com o budismo maioritário. "Mesmo separados, Deus é o mesmo para todas as religiões."
Mais tímida é Mary Mubiru, 28 anos, contabilista. Veio do Uganda com duas amigas e quer tirar fotografias para mais tarde recordar. Apesar de os africanos serem em menor número que os jovens de outros continentes, Mary espera que a mensagem que o Papa lhes dirigirá seja para todos. "Estamos aqui de muitos países, é muito bom."

António Marujo

Fonte Público

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