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A catequese do cardeal Meisner aos jovens I parte - «Buscar a verdade como sentido profundo da existência humana»
2005-08-18 22:39:38

Nesta quarta-feira, começaram as catequeses que até a próxima sexta-feira, dirigirão bispos e cardeais de todo o mundo em numerosos idiomas aos jovens congregados em Colónia para participar nas Jornadas Mundiais da Juventude.

Esta foi a catequese que dirigiu o cardeal Joachim Meisner, arcebispo de Colónia, na Pista de Helicóptero (Eissporthalle) de Neuss sobre o tema: «Buscar a verdade como sentido profundo da existência humana».

Buscar a verdade como sentido profundo da existência humana
Onde está o rei dos judeus que nasceu? Vimos sua estrela no Oriente (Mt 2:2).

Queridos jovens:
1.Em certo modo, as catequeses constituíram a base sobre a qual se assenta a Jornada Mundial da Juventude. Aqui, tanto os catequistas como vós sereis confrontados com a temática da Jornada Mundial da Juventude. Deus é a Palavra. No prólogo do Evangelho de São João se diz que “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (João 1:1). E por isso, Deus pode expressar-se e é audível. E isto se produz precisamente nas catequeses. Deus pode expressar-se com palavras e se faz ouvir.

Não esqueçamos a regra dos beneditinos! Esta regra é um dos dois documentos fundamentais do Ocidente e começa com as palavras: “Escuta filho”. O apóstolo São Paulo afirma: “Logo a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (compare-se Rom 10:17). Ao princípio está a palavra e não a imagem. Por esta razão, nosso Criador nos deu dois ouvidos e uma só boca para que escutemos duas vezes mais do que falemos. Mas agora resulta que Satanás, o inimigo do homem, desde o princípio teve a intenção de roubar o ouvido dos homens. Quando o homem já não ouve, deixa de saber a quem pertence e aonde pertence. E é então quando cai nas redes de qualquer enganador social.

Todos os sistemas totalitários sempre começaram roubando-nos os ouvidos. Ainda recordo bem minha infância e juventude: uma infância sob o regime nazista. Nos domingos havia os grandes desfiles da polícia nazista acompanhados de música militar, enquanto que nos países comunistas todos os sábados e domingos ressoavam por alta voz durante todo o dia as mensagens de combate e as canções socialistas. Isso era ainda pior que as sirenes das fábricas que soavam nos dias de trabalho. Por isso, a catequese deve converter-se em um espaço de silêncio interior no qual somos capazes de ouvir a palavra de Deus para logo cumpri-la.

2.Segundo umas palavras de Cristo não recolhidas na Bíblia se nos dá o seguinte bom conselho: “Quem quer estar com Deus, necessita dez coisas: nove partes de silêncio e uma parte de solidão”. O silêncio é imprescindível para não confundir a palavra de Deus com as palavras de si mesmo. Pois ao rezar Cristo no deserto ou no alto da montanha ou outros lugares solitários, não dava uma palavra a Deus, mas calava até que ouvia Deus falar. “Nove partes de silêncio” significa que voltamos a considerar nossas palavras como frutos maduros, tal e como o faz Cristo quando nos diz que nossas palavras são como cardos ou uvas. As uvas necessitam muito tempo até que amadureçam e são comestíveis. Também no silêncio das catequeses da Jornada Mundial da Juventude, as palavras terão a oportunidade de amadurecer – palavras que deveremos contar aos demais quando regressemos a casa. Jesus manteve silêncio durante 30 anos antes de começar a pregar durante três anos seguidos. Neste sentido são válidas as palavras de Friedrich Nietzsche quando diz que “Quem muito há de anunciar uma vez, cala muito de si mesmo. E quem uma vez há de ascender o raio, há de ser por longo tempo nuvem”.

3.Todos nós somos portadores da palavra, tal e como todos somos portadores de nossa fé. Mas minha fé não é minha fé, mas minha fé é tua fé. E a palavra de Deus dentro de mim não é minha palavra de Deus, mas tua palavra de Deus. Se não aceitamos ou rezamos ou amamos reciprocamente nossa fé, desmantelamos a fé de nosso próximo ou nos convertemos no ladrão da fé do outro. As palavras que me vão ajudar não me as posso dizer a mim mesmo, mas que me as têm que dizer os demais. Como bispo não posso confessar-me ante mim mesmo e não posso dizer-me a mim mesmo as palavras com as quais se absolvem meus pecados, mas que me as tem que dizer outro sacerdote. As palavras do perdão que se me concede as porta o outro em mim, não eu. Eu , ao contrário, as levo em mim para os demais. E por isso nos encontramos uns com os outros com o rogo frequentemente não expressado em voz alta: “mas só uma palavra tua bastará para curar minha alma”. Ainda primeiro tenho que escutar a palavra. “Escuta filho meu! Escuta filha minha!”, assim é como começa a regra dos beneditinos.

4.A Satanás também se lhe chama o “Diabolos”, o “que revolta tudo” e o “que faz muito ruído” e se propõe roubar-nos o ouvido. Sua tarefa consiste em prover constantemente dados e informações aos homens, de modo que quase ensurdeça e já não sejam capazes de perceber qual é o caminho verdadeiro, e, em especial, a voz da própria vida. A figura oposta a Satanás, que trás a ascensão de Cristo fez que os apóstolos por medo se dispersassem em todas as direcções, é Maria, que recolhe aos apóstolos de sua dispersão, que os volta a reunir: sob um mesmo teto, na mesma casa, na mesma mesa, isto é, na sala da última ceia em Jerusalém, onde se converte na rezadora das primeiras novenas de Pentecostes, a cujo termo se encontra o sucesso do milagre de Pentecostes. Maria nos recolhe da dispersão. Por isso é a “Symbola”, que significa “recoletora”, que faz frente ao Diabolos que semeia a confusão. Precisamente neste momento da catequese nos dirigimos a Maria com nossas súplicas.

Dos Três Reis Magos se diz: “Entraram na casa, viram a criança com Maria, sua mãe, e caindo de joelhos o adoraram” (Mt 2: 11). Também hoje, Maria nos oferece ao menino, Cristo, o centro de nossas vidas. E por isso vamos a ater-nos às regras do correcto escutar cristão:

1.Senta-te em silêncio!
2.Junta as mãos, ou seja, leva-as da dispersão ao recolhimento!
3.Fecha os olhos!
4.Inclina a cabeça – e
5.Dirige tua consciência da cabeça ao coração!

No maravilhoso momento da multiplicação do pão, no qual cinco mil homens adultos haviam seguido ao Senhor ao deserto sem trazer pão consigo, chega a produzir-se uma crise. A multidão está faminta. Diz então Jesus aos apóstolos: “Fazei-os sentar em grupos”! E seguidamente Jesus realiza o grande milagre do pão. Mas os cinco mil homens não sabem que Jesus é capaz de fazê-lo. E quando o Senhor ordena: Fazei-os sentar em grupos!”, efectivamente se sentam sobre a relva. Mas sentar-se sobre a relva no deserto com o estômago faminto e os bolsos vazios é com estar disposto a suicidar-se. Ainda assim, a multidão crê nas palavras de Jesus, que diz poder sacia-los. Neste momento se produz um milagre muito maior que o da maravilhosa multiplicação do pão, isto é, o milagre da obediência à fé: os homens se sentam famintos sobre a relva com a esperança de que Jesus saciará sua fome. E como sabemos do relato, todos foram saciados e dos pedaços de pão que sobraram se encheram 12 cestos ainda maiores. Este é o milagre do deserto. Este é também hoje o milagre desta primeira catequese: “Fazei-os sentar em grupos!” – “Mas só uma palavra tua bastará para curar minha alma!”.

Estou profundamente convencido de que nestes dias Deus vos dirá as palavras que talvez necessiteis para reorientar vossas vidas. Mas ainda não deveis saber de que palavras se trata, porque senão se trataria de palavras obra de vossa imaginação. O que realmente tens que fazer nestes dias é viver suplicando em vosso interior: “mas só uma palavra tua bastará para curar minha alma”.

Fonte Zenit

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