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Wojtyla e Ratzinger, descobrir as diferenças
2005-08-16 23:31:48

Teólogo rigoroso, homem de investigação e pensamento, até agora pouco dado a banhos de multidão, o novo Papa Bento XVI estará, a partir de quinta-feira, a ser seguido à lupa para encontrar as semelhanças e as diferenças em relação a João Paulo II.

Para muitos, o Papa Ratzinger será apenas um continuador da linha seguida por Wojtyla, o polaco que esteve à frente da Igreja Católica durante 26 anos e meio. Mas há já pequenas diferenças - subtis, por enquanto quase imperceptíveis - na forma de agir de Bento XVI.
Uma das áreas onde essa diferença se evidenciou foi no modo de proceder com os processos de beatificação e canonização. A máquina de fazer santos em que a Congregação para a Causa dos Santos se transformou sob o pontificado de João Paulo II foi já posta em mais sossego. Uma das primeiras decisões do novo Papa foi mesmo a de passar a fazer as beatificações nas dioceses de origem do candidato a santo.
Com esse gesto, Ratzinger desvaloriza claramente, por comparação com o seu antecessor, o processo de santificação. Mas a decisão pode acarretar outras consequências: a de as "igrejas locais", como na linguagem teológica são chamadas as dioceses, passarem a ter mais autonomia face a Roma. O que poderia ser um paradoxo com a centralização muitas vezes defendida pelo então cardeal Ratzinger, enquanto prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
Ainda no capítulo dos candidatos a santos, Bento XVI tomou uma decisão inédita: em meados de Junho mandou suspender o processo de canonização do padre francês Léon Dehon (1843-1925), a cujos escritos são imputadas acusações de anti-semitismo, levantadas por um historiador francês e corroboradas pelos bispos de França. Tal seria impensável ainda há bem pouco tempo e, mesmo se os escritos se devem ler no contexto da época, como defendem os defensores de Dehon, a decisão não deixa de constituir um caso único - pelo menos nas últimas décadas.
Em comparação, durante estes dias alemães do novo Papa, estarão ainda a sua capacidade de comunicar e se relacionar com as multidões e o seu desempenho mediático. Os dotes de João Paulo II eram conhecidos, os de Bento XVI serão agora postos à prova.
Onde não se devem esperar, para já, diferenças substanciais é em temas como a moral familiar ou o modo de entender a presença cristã na Europa. O novo Papa já reafirmou opções tradicionais da doutrina oficial católica no que respeita a temas como o aborto. É natural que Bento XVI aproveite a plateia que terá à sua frente para se referir a essas questões.
Quanto à Europa, ainda ontem Ratzinger se referiu à importância de o crucifixo estar nos lugares públicos. Mas já em diversas ocasiões o novo Papa falou da necessidade de a Europa reconhecer as suas "raízes cristãs", como tanto se debateu a propósito do Tratado Constitucional da União Europeia.

Por António Marujo

Fonte Público

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