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Primeiro teste para Bento XVI perante meio milhão de jovens
2005-08-16 23:31:06

Ratzinger inicia depois de amanhã a primeira viagem como Papa, para presidir à XX Jornada Mundial da Juventude, que hoje oficialmente se inicia na Alemanha. É o baptismo de fogo depois de eleito em Abril para suceder a João Paulo II. A comparação com o antecessor, que iniciou os encontros com jovens há 20 anos, o diálogo ecuménico e inter-religioso e a sua capacidade de comunicação estarão em pano de fundo.

Pelo menos 800 mil pessoas - na maioria jovens - são esperadas no próximo domingo, no campo de Marienfeld, em Colónia (Alemanha), na missa de encerramento da XX Jornada Mundial da Juventude, que hoje se inicia com 400 mil inscritos para cinco dias de debates, música, oração e convívio. Presidida pelo Papa Bento XVI, na sua primeira viagem fora de Itália depois de eleito, a jornada constituirá o primeiro grande teste do novo Papa. Mas os encontros previstos com judeus e líderes de outras confissões cristãs constituirão também momentos importantes para avaliar intenções e gestos de Ratzinger.
A chegada de Bento XVI, eleito a 19 de Abril para suceder a João Paulo II, está prevista para depois de amanhã, às 12h00 locais (11h00 em Lisboa), ao aeroporto internacional de Colónia/Bona, onde fará o seu primeiro discurso. Nessa tarde, o novo Papa terá o seu primeiro encontro com os participantes na Jornada - os últimos números, ontem divulgados, apontam para 400 mil inscritos. Mas para eles estão guardados os momentos centrais destes quatro dias alemães de Bento XVI: a vigília de sábado à noite e a missa de domingo.
Na sexta-feira, acontecerá aquele que é porventura um dos actos simbólicos mais importantes da viagem a Colónia: a visita à sinagoga judaica da cidade. Bento XVI seguirá, assim, os passos do seu antecessor, que em 1986 visitou o Templo Maior de Roma, tornando-se o primeiro Papa a entrar num lugar de oração do judaísmo.

Prioridade ao diálogo
com outras igrejas
Ao fim da tarde, Ratzinger encontra-se com representantes de outras confissões cristãs - sobretudo protestantes, já que a maioria dos cristãos alemães se reparte entre o protestantismo e o catolicismo.
O diálogo com as outras igrejas cristãs, com o judaísmo e com o islão tem sido uma das prioridades que Bento XVI mais tem repetido desde que foi eleito. Sobre o diálogo ecuménico, o Papa Raztinger disse mesmo, na manhã seguinte à sua eleição, que eram necessários gestos concretos e não apenas boas intenções.
Pouco mais de um mês depois, a 29 de Maio, Ratzinger saiu pela primeira vez do Vaticano após a eleição, numa visita a Bari (a sul de Roma). E voltou a referir-se ao tema, afirmando a necessidade de curar a ferida aberta por quase um milénio de separação entre os cristãos da Europa Ocidental e Oriental (os ortodoxos), concretizada em 1054, após várias dissensões entre o Papa de Roma e o patriarca de Constantinopla.
A 9 de Junho, Bento XVI recebeu líderes judaicos, aos quais reafirmou a sua vontade de prosseguir a acção de João Paulo II, na reaproximação entre cristãos e judeus, após dois milénios de conflitos e perseguições. Em Julho, essa afirmação foi perturbada quando, após os atentados de dia 7 em Londres, o Papa se referiu a vários países que têm sido vítimas do terrorismo sem falar de Israel. A omissão ia dando origem a um pequeno incidente diplomático, mas o Vaticano esclareceu que os atentados contra aquele país foram sempre condenados pelos papas e que Bento XVI não pretendeu fazer uma lista exaustiva.
Sábado e domingo, o teste será sobretudo no modo como o novo Papa se vai relacionar com os jovens. Em pano de fundo, estará a inevitável comparação com João Paulo II. O Papa Wojtyla tinha uma empatia especial com os mais novos - ainda há dois anos, em Madrid, já idoso e gravemente doente, ele improvisara um diálogo bem-humorado com a multidão sobre a sua velhice.
Agora, a frieza alemã e a simpatia de pessoal de Raztinger serão postas à prova. Bento XVI não tem, aparentemente, o carisma pessoal do antecessor. Mas, nos seus primeiros banhos de multidão (em Roma e Bari) destacou-se a sua afabilidade.
Talvez para mostrar que não é tão mau quanto o pintava o seu cargo anterior - o de prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé -, Ratzinger tem previsto, no seu programa de Colónia, um passeio fluvial pelo Reno. Será já na quinta-feira, como que a dizer que o novo Papa se sente mesmo em casa.

Por António Marujo

Fonte Público

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