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«Denúncia», por Francisco Sarsfield Cabral 2005-07-18 23:16:33
Circula na Internet um texto não assinado sugerindo aos católicos que transmitam (isto é, denunciem) a organismos do Vaticano, cujos endereços faculta, afirmações do padre Vítor Feytor Pinto numa entrevista ao Público. O pároco do Campo Grande não quis comentar a iniciativa, mas mantém o que disse sobre o preservativo e o aborto (Público de sábado). Com razão, visto que nada do que disse contraria o pensamento da Igreja. O tal texto, ligado a um site cujos autores também não dão a cara, não consegue beliscar minimamente a figura do P. Feytor Pinto, um grande cristão e um grande pastor, há dias homenageado com toda a justiça pelos seus 50 anos de sacerdócio incansável. Mas refiro o caso porque a proposta de delação é reveladora de uma atitude que começa a tomar corpo em alguns meios católicos.
O facto de a sugestão de denúncia a Roma ser anónima é desde logo revelador do carácter dos seus autores. Gente que mostra uma curiosa fixação em temas ligados ao sexo. E que apela à estrita observância da letra das normas, numa típica manifestação de insegurança interior face às mudanças do mundo. É algo hoje corrente em algumas confissões protestantes fundamentalistas, sobretudo nos Estados Unidos. Mas tem igualmente semelhanças com a posição dos miguelistas católicos no séc. XIX português para eles, só os católicos legitimistas eram "verdadeiros católicos", nunca os liberais. E julgo que o zelo destas pessoas pela ortodoxia não andará longe da decisão tomada no séc. XII por uma corrente islâmica de proibir a reflexão e o debate teológicos: pois se eles já possuíam toda a verdade, discutir a fé só iria criar heresias?
A quatro meses da realização em Lisboa do Congresso para a Nova Evangelização, vale a pena reflectir um pouco sobre o significado desta mentalidade.
Por Francisco Sarsfield Cabral
Fonte: DN
Fonte DN
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