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A Igreja está sem linguagem para os jovens
2005-07-15 20:27:51

O pároco do Campo Grande não quer ser "padre da moda", mas antes alguém que estimula as pessoas. E lamenta que a Igreja esteja sem linguagem para os jovens, um sector em que ele próprio trabalhou durante vários anos.

A ideia que se tem da sua paróquia é também a de um espaço da moda. Vê-se como um padre da moda?
Não me sinto nem quero sê-lo. É verdade que o tipo de palavra que anunciamos pode ser sugestivo para pessoas com um certo grau de cultura ou alguma responsabilidade na cidade. As minhas homilias nas missas [principais] demoram meia hora e as pessoas não deixam de vir, pois estão a tentar encontrar respostas para os seus problemas e sentem que a palavra de Deus pode ajudar.
Um outro pároco de Lisboa dizia, há tempos, que a Igreja não consegue hoje chegar aos pobres. Concorda?
Tem dificuldade mas, como párocos, temos o dever de reparar, na nossa paróquia, onde estão os pobres. As 100 crianças do nosso ATL fomos buscá-las aos bairros [mais desfavorecidos]. Esta é a vida que temos que animar, não é sermos burocratas. Temos na paróquia 28 projectos, todos liderados por leigos.
Um desses projectos é o da catequese das crianças. Este é o sítio onde as crianças, em plena missa, podem fazer barulho, chorar, correr. Porquê?
Como é que eles louvam a Deus senão com os seus gestos? As crianças têm direito de estar aqui. Os pais inventam a maneira de as entreter ou chamar a atenção para o que está a passar-se. A catequese está muito bem organizada. Tem um grande líder - o padre João [Resina] e 12 coordenadores dos diversos grupos, que se reúnem todas as semanas. Esta é uma pedagogia importante: o pároco não é o dono da paróquia, apenas o motor que estimula elementos mais generosos. É por isso que ser padre é apaixonante e criativo todos os dias.
Foi responsável da pastoral juvenil nacional. A linguagem, a moral, os sítios por onde os jovens se divertem passam ao lado da Igreja... Parece que a Igreja está num certo marasmo em relação aos jovens?
Tenho pena. Tenho a sensação que a Igreja está sem linguagem para os jovens. O Papa João Paulo II tentou oferecer um dinamismo diferente. Mas não sei se ele está a ser verdadeiramente interpretado pelas comunidades, que se mantêm muito tradicionais...
Mas passava também pela multidão e esquecia a dimensão individual ou o grupo...
... A dimensão do aprofundamento da fé. Lembro-me que, com o [historiador António] Matos Ferreira, começámos a falar de catequese juvenil. O grupo que continuou a JEC, o MCE [Movimento Católico de Estudantes], manteve essas preocupações. Mas, nas comunidades paroquiais, começou a perder-se esse dinamismo. A Igreja tem que pensar a sério até que ponto está ou não a captar os jovens. Aqui, temos experiências fantásticas, como as "Noites ao Luar". Repare o que é, depois de uma grande eucaristia de duas horas, dizer "agora vão às discotecas". E eles vão sentir o cheiro daquela forma de divertimento. Depois regressam, às quatro, cinco da manhã e fazem a avaliação do que viram.
Não vão para se divertir...
Também. Não vão para esquecer ou snifar, vão viver uma situação diferente e serem críticos. E, na sua crítica, redescobrir a importância de conhecer a realidade que têm que enfrentar no dia-a-dia.

Por António Marujo (texto) e Daniel Rocha (fotos)

Fonte Público

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