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Celebrar o nosso Deus Eucarístico
2005-05-26 23:58:52

A solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, ou como é comum dizer em Portugal, a festa do Corpo de Deus, é uma festa para celebrar uma nota fundamental da identidade do nosso Deus, próximo e serviçal, realmente presente no meio de nós: «Com efeito, que grande nação haverá que tenha um deus tão próximo de si como está próximo de nós o Senhor, nosso Deus, sempre que o invocamos?» (Dt 4, 7).

São palavras do Antigo Testamento, antes da Encarnação de Deus em Jesus de Nazaré e do seu prolongamento e actualização no mistério da Eucaristia. O que poderemos nós hoje dizer sobre o privilégio de termos um Deus eucaristicamente serviçal, fazendo-se «tudo para todos», feito «pão da vida», para que tenhamos «vida em abundância», de qualidade humanamente divina?!

Esta celebração tem lugar no calendário litúrgico, na quinta-feira seguinte à solenidade da Santíssima Trindade, nossa família divina, a que por graça pertencemos. A Eucaristia aparece como o presente que Deus permanentemente nos oferece, cumprindo-se assim a promessa de Cristo: «Eis que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (Mt 28, 20). O nosso Deus é um Deus eucarístico, que se faz maximamente próximo de nós, tão generoso e entregue que se torna pão nosso de cada dia.

Este ano, a solenidade do Corpo de Deus, sendo a de sempre, tem duas notas inéditas. Estamos celebrando o 1.º «Ano da Eucaristia» de toda a história da Igreja. Claro está que desde há dois mil anos, quando Cristo instituiu a Eucaristia, na quinta-feira antecedente à Páscoa da sua morte e ressurreição, todos os anos são necessariamente anos da Eucaristia. Contudo, o Papa João Paulo II (agora mais vivo do que nunca!), convocou a Igreja para a celebração de um particular «Ano da Eucaristia», tendo o seu início com a realização do 48.º Congresso Eucarístico Internacional, em Guadalajara, no México, de 10 a 17 de Outubro de 2004. A sua conclusão será por ocasião do Sínodo dos Bispos, em Roma, de 2 a 29 de Outubro do presente ano, subordinado ao tema: «A Eucaristia, fonte e cume da vida e da missão da Igreja». Nunca será demasiado acentuar que a Eucaristia é muito mais que uma devoção para almas piedosas. A Eucaristia é Cristo, o mesmo que na plenitude dos tempos encarnou em Maria de Nazaré, viveu uma vida comum, pregou a boa nova do Reino, deu a vida por nós na cruz e ressuscitou glorioso. A Igreja para ser de Cristo precisa de ser eucarística. Como recordou o Papa João Paulo II, na sua 14.ª e última Encíclica: «A Igreja vive da Eucaristia. Esta verdade não exprime apenas uma experiência diária de fé, mas contém em síntese o próprio núcleo do mistério da Igreja».

Uma segunda nota original do presente ano: toda a Igreja, unida ao sucessor de Pedro, celebra, pela primeira vez com este novo Papa Bento XVI, a solenidade do Corpo e Sangue de Cristo. Poderá alguém pensar que, depois de um Papa profundamente eucarístico, veio outro para quem a vida eucarística terá uma importância relativamente secundária. Mas não é assim. Basta dizer que Joseph Ratzinger, grande teólogo de méritos internacionalmente reconhecidos, escreveu pelo menos dois livros sobre a Eucaristia («A comunhão na Igreja» e «Deus próximo»), para além de muitos capítulos que lhe dedica em outras publicações da sua autoria. Estou certo que a fidelidade a Cristo, de quem é Vigário na terra, do nosso Papa Bento XVI o levará a ser profeta e apóstolo da Eucaristia.

Concluindo com algumas notas práticas:

– A celebração desta Solenidade é um particular estímulo para vivermos a praticar a Eucaristia, tendo em conta o contexto da sua instituição: servir o próximo ao jeito do Jesus do lava-pés. É também nesta altura que Cristo proclama o mandamento do amor: «Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros… como Eu vos amei» (Jo 13, 34). O sacramento da Eucaristia nasceu fazendo a ponte entre o amor e o serviço. Não separe o homem o que Deus uniu.

– Para viver eucaristicamente (ou seja, amando e servindo como Cristo), é preciso alimentar-se da Eucaristia, «pão da vida» de humana e divina qualidade. Precisamos de cristãos que não se contentem com sobreviver, em estado de desnutrição espiritual e humana. Importa cultivar práticas eucarísticas, começando pela participação frequente na Missa, comungando a Cristo, visitando-o e adorando a sua presença real e eficaz no sacrário. Sem raízes eucarísticas, a nossa árvore da vida não dará frutos de caridade e serviço.

– Neste dia, costumam realizar-se procissões eucarísticas. Sirvam elas de desafio a testemunharmos na vida, sem temores nem vergonhas, a fé que professamos e o Senhor Jesus que seguimos. Jesus Cristo, do qual a Eucaristia é sacramento de real presença, não veio para ser servido mas para servir e dar a vida por todos.



Manuel Morujão, S.J.

Fonte Ecclesia

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