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Homilia do Cardeal-Patriarca na Bênção dos Finalistas Universitários de Lisboa
2005-05-19 22:29:45

O Cristão na Cidade

Queridos Finalistas, 1. A vossa presença aqui, nesta cerimónia de bênção, é uma expressão do cruzamento da nossa realidade humana com a fé e a luz que ela nos trás.


É importante perceber que não pode haver dicotomia ou separação existencial entre estas duas realidades. A fé faz parte da realidade humana, abre para a profundidade e é desafio de perfeição na vivência da nossa realidade humana. É por isso que ela é, ao mesmo tempo, exigente e libertadora. Hoje temos de viver a nossa vida num quadro civilizacional que separa comodamente a fé do concreto da vida, como se esta, a nossa realidade humana, nada tivesse a ver com a fé, que é relegada para uma zona intimista e socialmente irrelevante, expressão das inclinações religiosas de cada um. Para nós cristãos, essa dicotomia é um caminho que nos afasta da verdade. A fé faz tanto parte da nossa realidade humana como o curso que agora terminais e vos prepara para a vossa participação activa na sociedade.



A realização positiva da vossa vida girará à volta de alguns eixos, interligados entre si, cuja harmonia e convergência possibilitarão viver uma vida que valha a pena: a identificação das vossas qualidades ou carismas, que devem ser objectivados pela competência; a descoberta de que a vida se vive com os outros e para os outros, amando e servindo; a fonte do sentido ético da liberdade, que define valores e inspira as opções na escolha de objectivos e de meios para os alcançar. Em cada uma destas áreas axiais da existência, a fé cristã significa um valor decisivo. Só Deus nos conhece verdadeiramente, porque nos criou, e o completo auto-discernimento das nossas potencialidades, ganha muito em ser iluminado por essa luz profunda que brota da Palavra de Deus e da fé. A própria competência que há-de objectivar essas qualidades, não pode ser só científico-técnica. No mundo de hoje exige-se, cada vez mais, uma verdadeira competência humana, a preparação para se ser homem com os outros homens. No definir o horizonte do amor e do serviço, a Palavra de Cristo é decisiva, desafiando para um amor generoso e absoluto, que pode ir até ao sacrifício de si mesmo, vencendo medos e egoísmos, percebendo que é no dar que se recebe. Esse desafio evangélico é importante para a definição do horizonte ético da nossa liberdade. Cada vez mais uma sociedade de rosto humano não pode ser só fruto da eficácia, mas também da prossecução de valores. Para ajudar a construir um mundo belo, não bastam programas, é precisa a utopia de um ideal, na vivência do amor familiar, no serviço do bem comum, no potenciar da solidariedade, que é o primeiro passo para a fraternidade.



2. Tudo isto nos leva à meditação da importância da missão dos cristãos na cidade. Eles exercerão a sua competência com sentido humano e fraterno, o modelo de cidade que querem edificar não se esgota no progresso material, pois ela só será verdadeiramente humana, se for fraterna. Também se aplica a esses construtores da cidade terrena, com sentido, generosidade e ideal, a frase do Evangelho em que Jesus diz que faltam obreiros para a messe, essa tarefa imensa de humanizar o mundo e a história. Também na nossa cidade faltam esses trabalhadores, dinamizados por um ideal.

Esse é o principal objectivo do Congresso Internacional da Nova Evangelização e da Missão na Cidade, que se realizarão este ano em Lisboa. Ser evangelizador na cidade pode ser também isso: empenhar-se profundamente na realidade humana da cidade, movidos pelo ideal cristão de verdade, de amor e de serviço, de fraternidade e de paz, dando a Deus, na construção da cidade, o lugar que Lhe pertence e que ninguém Lhe pode tirar; quando muito podemos esquecê-l’O.



A vossa presença aqui, acolhendo a bênção de Deus para a vossa participação activa na edificação da cidade dos homens, faz-me crer que estais dispostos a ser enviados em missão. Conto convosco. E que o Espírito Santo que é abundante e continuamente derramado sobre os cristãos, como força de Deus, vos fortaleça, vos inspire e conduza e vos dê a alegria de viver, servindo, e anunciar o amor, vivendo.



Cidade Universitária, 14 de Maio de 2005,

† JOSÉ, Cardeal-Patriarca


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