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O ideólogo que chegou a Papa
2005-04-20 21:03:20

Inteligente, frio, muito culto. Toca piano com algum talento, tem uma preferência pelas sonatas de Beethoven e pensou em jovem dedicar-se à pintura. Joseph Ratzinger, 78 anos, desde ontem o oitavo Sumo Pontífice germânico, é um teólogo brilhante desde a juventude, visto como rebelde nos anos 60, assumido guardião da fé mais conservador a partir da década de 80. "Tenho medo dele", soltou há uns anos João Paulo II, com quem falava sempre em alemão e que não o chamava para rezar na intimidade. Ratzinger, à época, não se impressionou "Talvez Sua Santidade tenha dito isso por graça", comentou com um sorriso perfeito.

Inteligente, frio, muito culto. Toca piano com algum talento, tem uma preferência pelas sonatas de Beethoven e pensou em jovem dedicar-se à pintura. Joseph Ratzinger, 78 anos, desde ontem o oitavo Sumo Pontífice germânico, é um teólogo brilhante desde a juventude, visto como rebelde nos anos 60, assumido guardião da fé mais conservador a partir da década de 80. "Tenho medo dele", soltou há uns anos João Paulo II, com quem falava sempre em alemão e que não o chamava para rezar na intimidade. Ratzinger, à época, não se impressionou "Talvez Sua Santidade tenha dito isso por graça", comentou com um sorriso perfeito.

Sonhou, desde adolescente, ser cardeal - é ele que o conta no seu livro-entrevista O Sal da Terra - O Cristianismo e a Igreja Católica no Limiar do III Milénio. Conseguiu-o aos 50 anos e, quatro anos depois, foi nomeado prefeito da Doutrina da Fé "Seria dizer de mais admitir que estava predestinado ao lugar", referiu no livro. Agora, há semanas, depois de Karol Wojtyla ter expirado, não se pôs de fora da ascensão do trono de Pedro: "Estou disponível para as tarefas que o Senhor quiser pôr sobre os meus ombros", disse.

Joseph Ratzinger, o ideólogo do Vaticano durante o pontificado de João Paulo II, iniciou uma viragem ideológica num sentido mais conservador e severo, contrariando uma linha que considerou demasiado racional e sistemática e defendendo o regresso aos "padres da Igreja", os filósofos/teólogos dos primeiros séculos do catolicismo, como Santo Agostinho. A escolha desse paradigma católico-romano da Idade Média foi associada a uma recusa intransigente de realidades actuais "Ir contra a corrente e resistir aos ídolos da sociedade contemporânea faz parte da missão da Igreja", afirmou numa missa da última Páscoa.

Ratzinger é um Papa contra a Teologia da Libertação e o envolvimento na Igreja na luta política contra pobreza. É contra a integração na União Europeia de um país muçulmano como a Turquia. É contra a homossexualidade. Contra o preservativo e os anticoncepcionais em geral. É muito contra a possibilidade de divórcio e absolutamente contra o aborto, a que chama "cultura da morte. É contra a adopção por homossexuais. No que à Igreja diz respeito, é contra o casamento dos sacerdotes. E contra a ordenação das mulheres.

Duas frases, para dar o tom "A homossexualidade é uma depravação e uma ameaça à família e à estabilidade da sociedade", afirmou em 2003. "O matrimónio é santo, enquanto que as relações homossexuais contrastam com a lei moral natural."

A infância e a guerra. Joseph Ratzinger nasceu num Sábado de Aleluia em Marktl am Inn, na Baviera, em 16 de Abril de 1927, e foi batizado no mesmo dia. Filho de uma doméstica e de um comissário da polícia, viveu em várias cidades alemãs ao ritmo dos destacamentos frequentes do seu pai.

Ratzinger começou a estudar latim e grego ainda criança e em 1939, aos 12 anos, entra para o seminário de Traunstein - tendo pertencido à Juventude Hitleriana, o que era obrigatório no sistema de ensino. Quatro anos mais tarde, em plena II Guerra Mundial, é convocado com outros colegas de seminário para o destacamento antiaéreo Flak, responsável pela proteção de uma fábrica da BMW em Munique. No meio dessas tarefas, e do caos em que a Alemanha de Hitler se ia transformando, continua a frequentar as aulas em Munique, no Maximilians-Gymnasium, três vezes por semana.

Em 1944, quando atingiu a idade militar, o jovem Joseph é dispensado da Flak e alista-se na infantaria alemã. Na Primavera de 1945, porém, com a aproximação dos exércitos aliados, deserta do exército e foge para a casa de família em Traunstein. É vítima das ironias da guerra um destacamento americano ocupa a vila e resolve instalar o quartel-general na casa dos Ratzinger. Joseph é identificado como soldado alemão e, em seguida, enviado para um campo de prisioneiros de guerra. Libertado meses depois, regressa ao seminário acompanhado pelo irmão.

Um "teenager" da teologia. Em 1947 Ratzinger entra no Herzogliches Georgianum, um instituto teológico associado à Universidade de Munique, e, paralelamente, estuda Filosofia na Escola Superior de Freising. No dia 29 de Junho de 1951, aos 24 anos, é ordenado padre.

As qualidades intelectuais do jovem padre são rapidamente visíveis e, dois anos depois, a sua tese de doutoramento em Teologia é largamente aplaudida. Pouco depois publica o seu primeiro trabalho importante, "O povo e a Casa de Deus na doutrina de Santo Agostinho para a Igreja", e dedica a tese de pós- -doutoramento à história da teologia. Em 1959 começa a lecionar como professor titular de Teologia na Universidade de Bona, onde permaneceu até 1969, e na Universidade de Münster (de 1963 a 1966).

Tornou-se bastante conhecido e, em 1966, consegue uma cadeira em Teologia Dogmática na Universidade de Tübingen, tendo a sua indicação sido fortemente apoiada pelo teólogo progressista suíço Hans Küng. Este, décadas mais tarde, seria um dos principais críticos da guinada conservadora que Ratzinger imprimiu a partir dos anos 80 à doutrina da Igreja - tendo sido por isto suspenso pelo Vaticano da sua cátedra de Teologia.

Naquela altura, porém, o jovem Joseph era uma espécie de "estrela" da teologia, lutando pela "abertura da Igreja" e, ao mesmo tempo, combatendo o ateísmo e o marxismo que se popularizavam entre os jovens. Nas palavras do teólogo Michael Schmanz (à época muito importante), que criticou a sua passagem pelo Concílio Vaticano II como perito convidado, era um irritante "teenager da teologia".

Essa imagem rebelde, todavia, passa depressa. Em 1969, Joseph regressa à Baviera e vai leccionar Teologia Dogmática e História do Dogma na Universidade de Regensburg, onde chega a reitor.

No início dos anos 70 Ratzinger é já o principal conselheiro teológico dos bispos alemães. O seu prestígio, aliás, é reforçado pela direcção que imprime ao jornal trimestral teológico Communio, que se transforma num dos mais influentes jornais católicos do mundo. Em 1977, pela primeira vez, a influência ideológica de Ratzinger concretiza-se na hierarquia Paulo VI investe-o arcebispo de Munique e Freising e, meses depois, é-lhe atribuído o Ministério Pastoral da Grande Diocese da Baviera.

Em 1977 Joseph Ratzinguer ascende, pela mão do Papa Paulo VI, à púrpura cardinalícia - tem 50 anos. E as mudanças de pontífice que se seguem favorecem a sua carreira em 1981, um ano depois de ter sido eleito Papa, João Paulo II nomeia-o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. E dedicam-se ambos a contrariar com tenacidade, nos fundamentos básicos, a modernização da Igreja iniciada no Concílio Vaticano II.

O ideólogo conservador. "Com o Concílio Vaticano II passou-se da autocrítica à autodestruição", afirmou em 1984 o cardeal Ratzinger numa entrevista à revista italiana Jesus em que aprecia negativamente o concílio, os teólogos, o ecumenismo e a colegialidade episcopal. "O balanço parece negativo", disse sobre o Vaticano II. "Este período foi desfavorável para a Igreja Católica", conclui, "entre as tarefas do cristão está recuperar a capacidade de se opor a muitas tendência da cultura ambiente, renunciando à solidariedade demasiado eufórica pós-conciliar". Ao longo dos anos - e, mais recentemente, na missa que deu início ao conclave que o elegeu - recuperou esta trave mestra do pensamento político.

Para Joseph Ratzinger há quatro grandes heresias modernas que urge combater.

Primeira pouca importância dada a Deus, primeira pessoa da Trindade - "Está demasiado sublinhada a natureza humana de Jesus porque não se aceita a ideia de Deus a quem há que dirigir-se de joelhos", afirma.

Segunda não considerar a Igreja como mistério - "A Igreja para muitos é uma sociedade, uma organização puramente humana, cujos membros seriam livres de a estruturar a seu bel-prazer".

Terceira a fé no momento - "Cai a fé na fundação divina".

Quarta a forma como a Escritura é lida - "Todo o católico deve saber que a sua fé supera todo o novo magistério dos peritos, dos intelectuais".

Ratzinger, o novo Papa, tem um programa. "Combater o cansaço da fé", disse há anos em Fátima. "As pessoas esqueceram-se de que a Igreja serve para conhecer a Deus".

Fonte DN

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