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O primeiro dia do futuro da Igreja
2005-04-18 18:06:51

Mais uma novidade no primeiro Conclave do terceiro milénio. Será transmitida pela televisão, para todo o mundo, a entrada dos 115 cardeais na Capela Sistina para o Conclave que hoje começa. Às quatro e meia da tarde, lá estarão as câmaras do Vaticano a filmar os cardeais, pelos corredores, entoando o cântico «Veni Creator», invocando a assistência do Espírito Santo na decisão que se preparam para tomar. Um rito antigo, adaptado a modernos hábitos.

Quando, algumas horas antes, o cardeal Joseph Ratzinger disser a missa em honra desta eleição, na igreja da Igreja, a Basílica de São Pedro, também com transmissão em directo, saberá que tem os olhos do mundo postos nele. E não desperdiçará a ocasião: ele tem sido apontado como o favorito dos «papabili». E sabe quanto vale, nos dias que correm, e depois do Papa Wojtyla, o poder da popularidade. Mesmo numa decisão que se pretende o mais afastada possível das influências externas. Foi o próprio Ratzinger que convocou, num apelo inédito, os fiéis à Basílica de São Pedro para a missa de hoje.

Ainda não em completa clausura, os cardeais dos quatro cantos do mundo entraram ontem à noite na Casa de Santa Marta, já conhecida por «Hotel Conclave», que os irá albergar até ao fumo branco. O cardeal José Policarpo, no fim da missa que rezou na igreja portuguesa de Roma, a de Santo António dos Portugueses, também disse ao Correio da Manhã, com o truque que todos os cardeais usam nestes dias para se refugiarem só nas notícias oficiais: “O meu dia--a-dia? Olhe, hoje já vou dormir à Casa de Santa Marta”. E, ontem, de facto, todos os cardeais-eleitores jantaram juntos, “num ambiente de grande familiaridade”, que Navarro Valls tem descrito aos jornalistas. O porta-voz do Vaticano diz também que “até agora ainda não se falou de nomes”. Mas o que é certo é que os chamados vaticanistas não páram de relatar jogos de bastidores e ‘lobbies’ à volta dos principais ‘papabili’: Ratzinger e o jesuíta italiano Martini podem ser o primeiro duelo, tradicionalistas contra renovadores. Se houver empate sem solução, então, pode uma solução de consenso: o português Policarpo ou o jovem (60 anos) vienense Schonberg. Essa a versão mais comentada.

Em todo o caso, a nenhum cardeal escapará o peso do acto histórico que vive. Quando entrar na Capela Sistina, os azuis do céu de Miguel Ângelo, recentemente restaurados, lembrar-lhe-ão mais uma das vertentes do multifacetado Papa para o qual têm a responsabilidade de encontrar um sucessor. Foi João Paulo II que mandou renovar os frescos, em trabalhos que duraram 20 anos e foram pagos por uma televisão japonesa. Naquele cenário maravilhoso é feito o juramento de segredo e uma jura, mão direita sobre a Bíblia, de que, seja qual for o que dali sair Papa, cumprirá a sua missão de seguir o exemplo de Pedro. Depois de alguns empregados do Vaticano terem distribuído os boletins de voto, o mestre das cerimónias, o laico Piero Marini, proclama o «Extra Omnes»: tirando os cardeais, todos para fora.

Este é o primeiro Conclave da era da Internet e dos telemóveis. Serviços internos já passaram a pente fino a casa de Santa Marta – onde os cardeais ficam em clausura até tomarem uma decisão – e a capela em busca de microfones e câmaras ocultas, numa operação conhecida nos meios de anti-espionagem por ‘debugging’. E foi instalado um sistema magnético que impede o funcionamento dos telemóveis.

Como todo o cuidado é pouco, além dos cardeais, também o pessoal à sua volta já prestou juramento de segredo. Religiosos ou laicos, que trabalham na casa de Santa Marta, freiras que tratam da limpeza (há duas portuguesas no tratamento da roupa) e cozinheiros, todos assinaram um documento em como se comprometem, agora e para sempre, a não dizer nada do que ouçam ou vejam. Não escaparam ao sigilo nem os motoristas que conduzem os minis-bus que pelas traseiras da Basílica levam e trazem, quatro vezes ao dia, os cardeais entre a Casa de Santa Marta e a Capela Sistina.

Hoje à tarde, os cardeais vão tomar a primeira decisão: fazem, já hoje, o primeiro escrutínio, ou deixam-no para amanhã? Os milhares de fiéis e turistas que devem ir para a Praça de São Pedro, apesar da chuva, olhando para a estreita chaminé que se vê ao lado direito da cúpula de São Pedro, podem ficar frustrados, sem fumo, nem branco, nem negro, por falta de votação. Mas isto é o Vaticano, terra dos desígnios insondáveis, esta tarde até fumo branco já pode haver.

SUITE COM VISTA

Se a sorte for um sinal de favor do Espírito Santo, o cardeal D. José Policarpo está mais perto do Pontificado. De facto, o sorteio ontem realizado para distribuir os quartos entre os 115 cardeais participantes no Conclave deu ao patriarca português uma das duas melhores entre as 106 suites da Casa de Santa Marta, onde ficarão alojados os cardeais durante a eleição do Papa. Os aposentos de D. Policarpo ficam na esquina do 1º andar do 2º bloco do edifício, situação que permite gozar de uma vista privilegiada.

SEGUTANÇA TOTAL GARANTE SEGREDO
LIMPEZA

Detectores que captam microfones de espionagem do tamanho de moedas foram usados para vistoriar a Capela Sistina e a Casa de Santa Marta.

POLÍCIA

Durante o Conclave o apertado aparato de segurança do Vaticano é reforçado com agentes das forças especiais italianas e de empresas internacionais.

MICROFONES

O Vaticano está há muito protegido com um «capacete» electromagnético para impedir que sejam captadas por microfones as conversas nos edifícios.

LASER

Segundo alguns jornais, foram instalados sistemas de protecção contra lasers capazes de reproduzir conversas através das vibrações dos vidros das janelas.

Fonte CM

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