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Quaresma, caminho para a Páscoa
2005-02-16 18:38:47

Nota Pastoral de D. Teodoro de Faria sobre o tempo quaresmal
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1 — Viver da Palavra
Nem só de pão vive o homem, respondeu Jesus ao espírito tentador, vive da Palavra que sai da boca de Deus.


A Quaresma é o tempo privilegiado para o cristão saborear a Palavra de Deus que é semeada, regada e cultivada no coração para transformar a vida. Esta Palavra é fornecida em abundância nos domingos e dias feriais. A primeira leitura é retirada do Antigo Testamento. Faz sempre um grande bem espiritual meditar na primeira Aliança, para conhecer os desejos e sofrimentos do coração humano de todos os tempos e reconhecer como Deus respondeu com a sabedoria admirável dos seus patriarcas, reis, e profetas. O evangelho apresenta os temas cruciais da vida quotidiana dos cristãos – a conversão interior, o perdão dos pecados, a fidelidade à lei de Deus, a divisão de bens como forma de amor aos que estão próximo ou ao longe. Para conhecer Cristo e celebrar a Páscoa, é preciso sentar-se na escola da Palavra para entrar no conhecimento do plano de Deus a nosso respeito e do seu mistério de salvação universal. Maria, a Virgem de Nazaré, é o nosso modelo de discípula e nossa Mestra.

2 — «Reconheceram-n’O ao partir do pão»
A Quaresma prepara o mistério pascal e o dom do Espírito Santo no Pentecostes. A plenitude do que se realizou na noite Pascal começa a preparar-se desde a quarta-feira de cinzas. Com a sua Páscoa gloriosa, Jesus Cristo passou a existir de uma outra forma, entrou na esfera do Espírito, vive para o Pai e permanece na Eucaristia como o Deus connosco, que nos alimenta com o seu corpo e sangue, fonte da vida nova do povo que redimiu com o seu sangue. Participando da glória do Pai, Jesus Cristo não tem limites de tempo nem espaço, está liberto das nossas limitações. Na Eucaristia está presente o Cristo ressuscitado e glorioso.
Durante o Ano da Eucaristia, que terminará no próximo mês de Outubro, somos convidados pelo Santo Padre «a dar relevo à dimensão eucarística própria de toda a vida cristã». Para além da participação na Santa Missa recomenda também a adoração ao Santíssimo Sacramento. Na Eucaristia revive-se a maior manifestação do amor de Deus à humanidade – a Eucaristia de quinta feira santa, a morte dolorosa de sexta feira santa e o acontecimento revolucionário da noite pascal com a derrota da morte e a vitória da vida. «Tudo é recapitulado nEle,» escreve o apóstolo Paulo aos cristãos de Éfeso e Colossos (Ef. 1, 10; Col. 1,15). A construção da nossa vida pessoal, familiar e comunitária deve partir da Eucaristia que, na Quaresma, deve encontrar um tempo privilegiado para celebrar e adorar o Senhor que os discípulos de Emaús reconheceram ao partir do pão.

3 — Ele é a vida e a longevidade dos teus dias» Dt. 30,20
Cada Quaresma é diferente. O cristão, embora reflectindo sobre as mesmas verdades eternas, entra cada ano numa dinâmica nova que recebe do Espírito Santo, e este não se repete, surpreende sempre. Mesmo sem recorrer a ideias ou programas espectaculares, em cada ano se propõem novas iniciativas, simples mas actuais, para ajudar-nos a reconhecer os sinais dos tempos e tornar a Quaresma uma ocasião forte de caridade e dedicação aos irmãos.
É de novo o Santo Padre que, na fragilidade dos seus 84 anos, nos chama a atenção, na Mensagem para a Quaresma para os idosos e para o papel que ainda poderão desempenhar na sociedade e na Igreja. Segundo a Bíblia, atingir uma longa idade é sinal de uma bênção de Deus e um dom concedido para o bem da sociedade. A medicina e a ciência têm contribuído para o alargamento da vida humana e para o aumento dos idosos na sociedade contemporânea.
A diocese do Funchal não foge a esta regra. Temos paróquias, por vezes muito pequenas, constituídas na quase totalidade por idosos. Nas suas vidas encontramos luzes e sombras. Muitos deles conseguem romper o muro da solidão e viver com dignidade humana, outros dependem da caridade de familiares e vizinhos, e, infelizmente, um outro grupo, só de vez em quando encontra uma mão que afaga e aperta, um sorriso que aquece e uma oferta que, embora pequena, é sinal de amor.
O arcebispo P. Cordes de «Cor Unum» alerta para o perigo que ameaça os anciãos: «Os jovens crêem cada vez mais que os anciãos são um peso, ocupam espaço, limitam o tempo livre, porque então não eliminá-los da nossa vida? Ou exilá-los atrás dos muros? Ou oferecer-lhes uma morte doce?»
O Papa, para além da atenção aos doentes e incapacitados, pede para «fazer crescer na opinião pública a consciência de que os anciãos constituem, em qualquer caso, um serviço que deve ser valorizado». Há uma reserva imensa de sabedoria e experiência, que pode ajudar a conhecer os valores humanos e espirituais da cultura de um povo, que a terceira idade pode fornecer e constitui uma herança moral e espiritual que não deve ser desperdiçada. A Quaresma, escreve o Papa, «leva-nos este ano a focalizar estas importantes temáticas que dizem respeito a todos».

4 — Renúncia da Quaresma
A Quaresma, como caminho para a Páscoa, tem como companheira de viagem a caridade. Desde quarta-feira de cinzas que a esmola, a oração e o jejum, são apresentados como austeridade exterior para um renovamento interior. Quem não quer renunciar a nada e, se permite a tudo nos alimentos, divertimentos, prazeres, espectáculos, mostra que não entrou no clima de conversão e caridade que é o caminho para a Páscoa, e vive atolado na sociedade de consumo.
A alma humana pode elevar-se muito alto, no sentido da partilha e generosidade, como aconteceu por ocasião da catástrofe que varreu o sudoeste asiático.
Confiamos que a generosidade para com os povos do Oceano Índico, não atenuará a tradicional atenção para as intenções propostas pela Diocese para a Renúncia da Quaresma.
Devido ao Santo Padre alertar para a situação dos pobres da terceira idade, o fruto da generosidade dos nossos fiéis, será dividido por duas intenções, uma diocesana e outra exterior para Angola. A primeira será dedicada aos idosos pobres visitados pelos membros das Conferências de São Vicente de Paulo; a segunda, à «Luta contra a tuberculose e a malária» no campo dos medicamentos e formação dos agentes de saúde, na diocese do Lubango, fundada pela comunidade madeirense há mais de um século.
Quaresma é o tempo de reavivar a graça do nosso baptismo, de aumentar a caridade que o Espírito Santo derrama em nossos corações; é o tempo em que Deus nos dá um coração novo.

Funchal, 13 de Fevereiro de 2005, 1º Domingo da Quaresma
D. Teodoro de Faria, Bispo do Funchal

Fonte Ecclesia

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