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Igreja discute camisinha no Dia dos Namorados
2005-01-20 10:27:43

A questão do uso do preservativo como meio de combate à propagação da sida vai ser discutida pelos bispos portugueses na próxima reunião plenária da Conferência Episcopal que, por ironia, acontece no Dia dos Namorados.

Sendo certo que a reunião já estava marcada muito antes das polémicas declarações do Secretário-Geral da Conferência Episcopal espanhola, D. Juan António Camino, não deixa de ser curioso falar-se no tema em dia tão cor-de-rosa. Fará parte dos pontos a discutir antes da agenda prevista precisamente a 14 de Fevereiro, quando se intensificam as campanhas, junto dos jovens, de apelo ao uso do preservativo.

Ao que o CM apurou, o assunto vai “naturalmente ser abordado, não para que seja discutida a posição da Igreja Portuguesa, que coincide com as directivas de Roma, mas para analisar o incidente ocorrido em Espanha”.

PROBLEMAS DE COMUNICAÇÃO

Já anteontem alguns bispos portugueses, como D. Januário Torgal Ferreira, tinham manifestado a sua estupefacção e sublinhado que o mais natural seria a existência de um “erro de interpretação” das palavras de D. Juan António Camino.

“Isto seria uma autêntica revolução doutrinal”, disse ao CM o bispo das Forças Armadas, referindo que, “ainda em Dezembro os bispos espanhóis tinham reafirmado apoio total à posição oficial”.

Esta posição, que fala da abstinência e da fidelidade como meios eficazes e moralmente aceites de combate às doenças sexualmente transmissíveis, como a sida, deve ser reafirmada a 14 de Fevereiro pela Conferência Episcopal Portuguesa.

Em declarações ao CM, D. Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz de Braga, admitiu que o “incidente espanhol” venha a ser analisado como “exemplo a ter em conta quanto à problemática da comunicação”.

ESPANHA DÁ O DITO POR NÃO DITO

Afinal, Juan Antonio Camino, porta-voz e secretário-geral da Conferência Episcopal espanhola, não defende o uso do preservativo. Depois de, na terça-feira, ter referido o seu papel “numa prevenção integral e global da sida”, vem agora dar o dito por não dito. Em comunicado, publicado na página da internet da Conferência Episcopal, a igreja espanhola decidiu rectificar as declarações, referindo que “o uso do preservativo implica uma conduta sexual imoral” e que “a abstinência sexual e a fidelidade mútua entre os cônjuges constituem a única conduta segura que se pode generalizar frente ao perigo da sida”.

Posição que vai ao encontro do que defende o Vaticano que, apesar de não se ter pronunciado oficialmente sobre as primeiras declarações de Camino, veio reforçar, através de um dos seus representantes, José Luis Marchite, secretário do Conselho Pontifício para a Saúde, tratar-se de “um meio que a moral católica reprova”. A epidemia de sida deve ser combatida através de uma arma que considera eficaz: a castidade.

QUESTÕES DE PRESERVATIVO

A FAVOR

No exterior da Curia Romana começam a ouvir-se vozes que apoiam o uso do preservativo. É o caso do Arcebispo de Bruxelas, que o caracterizou, em declarações públicas, como “um mal menor” face à epidemia de sida.

CONTRA

“O preservativo pode ser uma solução mais fácil que a abstinência”, referiu o presidente do Conselho Pontifício da Saúde. No entanto, o emissário da Santa Sé defende “que os católicos devem ser coerentes com a sua fé”.

CIÊNCIA

Em termos científicos, restam poucas dúvidas da eficácia do uso do preservativo no combate às doenças sexualmente transmissíveis. Vários estudos referem-no como uma arma importante, que não deve ser relegada para segundo plano.

PAINEL DE OPINIÕES

DEPENDE DAS CIRCUNSTÂNCIAS

“Concordo com as declarações do porta-voz espanhol, mas no seu contexto. Quando se trata de seropositivos ou pessoas em risco de contágio, com uma vida sexual activa, o uso do preservativo é obrigatório. Mas não é a solução para uma educação sexual honesta e verdadeira e não deve ser entendido como obrigatório em todas as circunstâncias.” Padre José Luís Borga

EM DEFESA DO PRESERVATIVO

“Entendemos que a Igreja não tem o direito de transmitir mensagens erradas do ponto de vista científico apenas para fazer valer os seus valores morais. Penso que só ficava bem à Igreja portuguesa adoptar uma posição de defesa do uso do preservativo, sobretudo entre nós, onde a doença assume proporções graves.” Maria José Campos (Abraço)

"RECUO ERA INEVITÁVEL"

Afirmando que a mudança de opinião por parte da Conferência Episcopal Espanhola seria “uma autêntica revolução doutrinal”, o bispo das Forças Armadas sublinhou ser inevitável “o recuo e correcção à interpretação feita pelos jornalistas das palavras de D. Juan Camino”. É que, reafirma o prelado, “ainda há um mês tinham dito o oposto”. D. Januário Torgal Ferreira

"PALAVRAS MAL ENTENDIDAS"

Dizendo sempre que “assuntos tão delicados e problemáticos como este” não podem ser comentados de ânimo leve, D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga, não deixou de dizer que “o incidente de Espanha é um exemplo dos problemas que podem ser causados por palavras mal escolhidas ou mal entendidas”. D. Jorge Ferreira Ortiga.

Fonte CM

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