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Muitos Abraços e Algumas Lágrimas para 415 Autocarros
2005-01-02 16:56:24

Juntam-se em semicírculo e entoam "Mhotar Abeta", que é como quem diz "muitos anos". É o final de um hino litúrgico ortodoxo de saudação e basta um segundo para dar o tom e todas as vozes saírem afinadas. São sérvios, de Novi Sad; a maior parte integra um coro de uma das igrejas da cidade.

Em Carnide, este é um dos grupos que se preparam para deixar Lisboa, depois de quatro dias a viver o Encontro Europeu de Jovens, promovido pela comunidade monástica de Taizé (França), fundada em 1940 nesta aldeia da Borgonha pelo então pastor protestante Roger Schutz. Quando se chega, são centenas que se estendem por uma alameda com autocarros de um lado e outro.

A partir das três da tarde, o ambiente foi-se repetindo: chegavam carros das famílias que acolheram os jovens, retiravam-se mochilas e sacos de viagem. Muitos abraços, canções e sorrisos, algumas lágrimas, acenos e promessas de reencontro.

Os 415 autocarros de 21 países (transportando mais de 20 mil jovens) partiram ontem de quatro pontos da zona de Lisboa: estação ferroviária de Moscavide, Estádio de Alvalade, Colégio Militar e Carnide. Aqui, Lina Góis e Emília Fonseca, moradoras na Pontinha, despedem-se de dois sérvios cada.

"Foi óptimo, deu para perceber que, quando há solidariedade e amizade, não há entraves", diz Emília, a mais velha. Diz que "há 30 anos que não andava na escola", mas agora desentorpeceu o inglês. Lina achou o encontro "uma experiência muito boa, com tantas culturas diferentes em sintonia".

Em Alvalade, um grupo de espanhóis e franceses toca trompete e canta "When the saints" para se despedir de um autocarro francês que se põe em andamento. Enquanto Marie, 19 anos, estudante de inglês em Poulouse (França), fala a correr para dizer que "os portugueses têm um coração grande, assim", abrindo os braços, largos.

Para a sua cidade, Marie e a amiga Alice, 18 anos, que estuda história, levam o testemunho de uma "igreja unida e uma fé muito forte" que viram na paróquia em que ficaram - São João da Talha. "Foi magnífico, neste encontro ultrapassam-se as barreiras das fronteiras para receber o amor de Deus e dá-lo de novo quando chegarmos junto dos nossos amigos."

Lupe, 28 anos, economista, e Miguel Angel, 29, mecânico, vieram de Valência (Espanha), dois dias antes do início do encontro, para ajudar no acolhimento. "As pessoas mobilizaram-se nas paróquias para nos receber. E houve gente que reencontrou, na mesma paróquia e na mesma casa, amigos que tinham conhecido em Paris, há dois anos." "As famílias perguntavam todas quando voltamos", diz Lupe. E voltarão? "Hombre, pues!", exclama a jovem economista.

Duas espanholas da Catalunha - Rita e Queralt - foram recebidas por Maria Firmina e Manuel Cruz, ela professora do secundário, ele advogado aposentado. Vivem na Reboleira (Amadora) e dizem que já têm saudades das jovens que acolheram.

"Criaram-se laços de amizade", sublinha Maria Firmina. O encontro de Lisboa, diz, "foi um sinal de que Deus vive e que as pessoas procuram o bem e são capazes de fazer grandes viagens para se encontrarem em conjunto por um ideal, que para estes jovens é Jesus Cristo".

Na paróquia onde vive este casal, a passagem de ano foi diferente: à meia-noite, espanhóis, sérvios, polacos, ingleses, lituanos e portugueses estavam em silêncio, rezando pela paz e pelas vítimas da tragédia asiática.

Depois, como noutros sítios, cantou-se e dançou-se. No Colégio São João de Brito, por exemplo, um grupo de espanhóis mostrou que aprendera a declamar a "Mensagem", de Fernando Pessoa: "Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal." Uma ucraniana cantou duas músicas do seu país e espanhóis da Andaluzia deram voz e expressão ao "Salve Rociera", o hino da romaria de Nossa Senhora do Rocio.

A vigília pela paz e em comunhão com as vítimas do desastre da Ásia foi vivida por milhares de jovens nas quase 200 paróquias de acolhimento dos participantes. Antes disso, também o irmão Roger, na última oração comum realizada na FIL, expressou a sua solidariedade com os povos atingidos por esta "grande provação".

Numa curta intervenção, o fundador da comunidade que hoje reúne católicos e protestantes lembrou as rupturas entre cristãos, recordando a sua juventude. "Cheguei ao ponto de me dizer: tenta o impossível para que seja criada uma comunidade de homens na qual se procurará viver em comunhão, na bondade e no perdão."

Foi assim que começou Taizé, referiu, acrescentando: "Não é possível adiar indefinidamente a comunhão entre cristãos. Compreendermo-nos, perdoarmo-nos, reconciliarmo-nos: eis um dos apelos mais essenciais do evangelho." Até porque essa comunhão "pode contribuir para a construção da paz onde ela é ameaçada pelos conflitos e violências".

A passagem de ano foi diferente: à meia-noite, espanhóis, sérvios, polacos, ingleses, lituanos e portugueses estavam em silêncio, rezando pela paz e pelas vítimas da tragédia asiática.

Fonte Público

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