paroquias.org
 

Notícias






A Casa é do Gaiato
2004-11-30 08:50:50

Conheço a Obra da Rua desde que nasci e nas minhas primeiras leituras constam alguns dos livros do Padre Américo. Mais tarde, nos anos 90, fiquei amigo do Padre Zé Maria e da Irmã Quitéria que tem a responsabilidade da Casa do Gaiato de Massaca (Boane), em Moçambique.

Passei lá alguns dias, em dois períodos diferentes, convivi com os rapazes e com alguns dos voluntários que lá se encontravam, participei nos trabalhos diários. Familiarizei-me então com as Casas do Gaiato de Portugal e com os seus Padres.
Sou assim testemunha directa e também beneficiário da imensa obra de bem que nasceu do carisma do Padre Américo.
Por isso senti também a enorme injustiça que resulta das notícias que tem vindo a lume e experimento espanto igual com o que do relatório da segurança social vem sendo conhecido. O conhecimento integral do relatório obviaria as suspeitas lançadas com dados parcelares e desintegrados do seu conteúdo. A prudência manda que se aguarde com serenidade.
Porém, há desde já uma palavra que, como responsável político, devo dizer sobre a que me parece ser a questão de fundo: a dificuldade do Estado em respeitar a autonomia das instituições sociais, sejam católicas ou não.
O problema nasceu com a “nacionalização” das crianças em risco, operada pelos governos estatistas. Nessa operação compreendia-se o desenho, pelo Estado, de um único modelo de acção social dirigida àquelas crianças, traçado a esquadro e régua por profissionais da sociologia e ramos afins, em geral desligados da realidade sobre que se debruçavam.
Nesse modelo não cabem as crianças das Casas do Gaiato (hoje, cerca de quinhentas), que os Padres da Obra da Rua procuram criar com amor e fraternidade, num ambiente familiar, que torna os rapazes protagonistas da sua vida, numa experiência de unidade. Infelizmente, a mentalidade dominante, tem sido um obstáculo ao reconhecimento desta obra social. Um relatório truncado é prova desta falta de verdade.
Nesta encruzilhada restam duas opções: as crianças em risco pertencem ao Estado que decide sobre a sua vida e destinos e progressivamente vai tomando conta de um grupo cada vez maior destas (e acautelem-se por isso as famílias portuguesas que vivem em franjas sociais mais sensíveis) ou então (com menor custo, a Casa do Gaiato recorde-se não recebe um tostão do Estado, e maior proveito humano e social) reconhece a sua incapacidade de dar colo e ajuda a que vivam e respirem aquelas realidades nascidas da sociedade civil, por iniciativa própria, e que tem dados tantos frutos de boa formação, de educação integral e preparação para uma cidadania completa.
Ao Estado democrático e livre não assiste legitimidade para esmagar as iniciativas sociais que, sem custo para o orçamento público, dão uma resposta positiva, de inegável valor e resultados, em prol do bem comum e da resolução de problemas sociais.
Saudando todas as declarações ouvidas no sentido do respeito pela motivação fundacional e a originalidade pedagógica da instituição impõe-se-nos recordar o lema do Padre Américo: a Casa do Gaiato é “obra de rapazes, para rapazes, pelos rapazes”. A Casa é do Gaiato.

António Pinheiro Torres
Deputado do PSD


voltar

Enviar a um amigo

Imprimir notícia