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A Bíblia é de todos
2004-11-10 00:44:30 A “Bíblia Manuscrita” conquistou rapidamente o seu espaço um pouco por todo o país. Há já inúmeras pequenas histórias comoventes, “toques de humanidade” de grupos e de pessoas: a equipa de futebol do Vitória de Setúbal, famosos que preferiram o anonimato, idosos que voltaram para trazer amigos, autocarros de meninos de catequese...
“Quando insistimos na ideia de que isto se estava a tornar um movimento cívico, era com razão: temos mil vozes a apontar para a mesma direcção, a reconhecer a necessidade do projecto, a sua relação como o que nós somos”, refere à Agência ECCLESIA Alfredo Abreu, coordenador de “A Bíblia Manuscrita”.
A iniciativa da Sociedade Bíblica Portuguesa (SBP) arrancou na sexta-feira dia 5 de Novembro, quando o Cardeal-Patriarca, o Núncio Apostólico, o Presidente da República e mais 24 personalidades da vida pública escreveram vários versículos bíblicos à mão.
Não se pense, contudo, que a iniciativa pretende ser elitista. Nos próximos fins-de-semana, até 21 de Novembro, o público-alvo da “Bíblia Manuscrita” são os 10 milhões de portugueses, crentes ou não-crentes, convidados a reconhecer nas Escrituras uma referência fundamental de toda a nossa cultura. Entre famosos e desconhecidos, milhares de pessoas vão transcrever o livro mais lido e reproduzido de todos os tempos.
Isso mesmo levou Jorge Sampaio à reitoria da Universidade de Lisboa, apesar de se assumir como agnóstico. À surpresa dos jornalistas, respondeu que a Bíblia “ faz parte da cultura portuguesa”.
O Presidente deixou escritos os primeiros oito versículos do capítulo três do livro do Eclesiastes. Já o Cardeal-Patriarca de Lisboa escreveu os três primeiros versículos do livro da Sabedoria.
"São as regras da humildade", comentou D. José Policarpo sobre o excerto que escrevera. Quanto à iniciativa, que apoiou desde a primeira hora, o Patriarca disse que o projecto não é exclusivamente cultural ou religioso. "Esta é uma iniciativa religiosa de âmbito cultural", sintetizou.
O projecto pretende colocar todos os interessados a copiar a Bíblia à mão, à semelhança do que se fazia nos mosteiros medievais, esperando-se que daí resultem, pelo menos, três exemplares das Escrituras. Dois já têm destino: um irá para a Biblioteca Nacional de Lisboa, o outro para a Biblioteca de Alexandria.
Ao longo de milhares de anos os textos sagrados contidos na Bíblia têm influenciado pessoas de todas as origens e em todas as culturas. Essa influência é tão longa e está tão presente que quase nem damos por ela.
Nesse sentido, "A Bíblia Manuscrita" inclui, além da iniciativa central, um conjunto de actividades culturais - debates, exposições, conferências, concertos, edições de livros e discos e programas nas televisões. A Pastoral Universitária do Porto organiza cinco debates sobre a Bíblia na sua relação com a arte, ciência, história, economia e religião (quintas-feiras, 21h30, nos auditórios da Fundação Eugénio de Almeida e na Reitoria da Universidade do Porto).
Alfredo Abreu revelou à Agência ECCLESIA que durante a iniciativa será elaborada um pequeno inquérito para encontrar dados concretos sobre o número de pessoas que efectivamente lê a Bíblia. Recentemente, o Patriarcado de Lisboa levou a cabo um estudo neste âmbito, onde revelava que apenas 3% dos inquiridos lia as Escrituras.
O processo, como tudo o que diz respeito a esta iniciativa, é simples: a cada pessoa é entregue um destacável, onde não constará nenhum elemento de identificação, com 5 perguntas. A SBP procurará saber quantas Bíblias tem cada pessoa, quantas vezes a lê, que tradução utiliza, qual o significado que atribui ao texto e qual é a parte que mais aprecia nas Escrituras.
“Temos a percepção de que nunca houve tanta gente a ler a Bíblia como hoje: o interesse está a crescer, quer porque o acesso aos livros é mais fácil, quer porque há mais pessoas alfabetizadas, ou porque têm uma maior abertura em relação às coisas, às obras de cultural e de espiritualidade universais”, refere.
Fonte Ecclesia
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