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«Esta Palavra, perto de Ti"
2004-10-14 13:14:35

No dia 18 de outubro, para assinalar um ano da inauguração do Centro Pastoral de Amarante e doze anos de paroquialidade, será apresentado um livro da autoria do Pe Amaro Gonçalo, Pároco de São Gonçalo e de São Veríssimo, em Amarante.

Com o titulo «Esta Palavra, perto de Ti",trata-se de uma edição conjunta do Secretariado Diocesano da Catequese do Porto e das referidas Paróquias.
Um instrumento de trabalho que pretende oferecer aos fiéis uma ajuda prática
para a Leitura da Biblia, segundo o chamado método da "Lectio Divina" ou Leitura orante (crente) da Palavra de Deus. Depois de uma breve introdução histórica ao método
e da sua explicação, passo a passo, o livro apresenta a Lectio de 22 textos bíblicos e partilha uma experiência da Lectio nas Vigararias de Amarante.


Texto Integral da Introdução
Esta palavra, perto de ti.
Eis o título desta publicação, que tens agora entre mãos. Fruto simples de muitas reflexões e trabalhos, dispersos pelo ainda breve tempo da minha vida pastoral e aqui reunidos num curto espaço de largos encontros. O título inspira-se, como não podia deixar de ser, na própria Palavra da Escritura. Ela mesma nos confirma na certeza e na confiança de que “a Palavra está perto de ti” e, por isso, de cada um:
“Na verdade, esta Palavra, que hoje te prescrevo, não é muito difícil para ti nem está fora do teu alcance. Não está no céu, para se dizer: ‘Quem subirá por nós até ao céu e no-la irá buscar para a escutarmos e praticarmos?’ Não está tão pouco do outro lado do mar, para se dizer: ‘Quem atravessará o mar e no-la irá buscar para a escutarmos e praticarmos?’ A Palavra está muito perto de ti, na tua boca e no teu coração, para a praticares.» (Deut.30,11-14)
Esta é a convicção fundamental e o ponto de partida, para quem seguir o método e os passos da Lectio Divina ou de trilhar qualquer outro caminho de acesso e de contacto com a Bíblia. É preciso acreditar que a Palavra da Escritura não é um bicho de sete cabeças (Ap.12,3), nem um texto acessível apenas a peritos e especialistas da Bíblia ou da Literatura Universal. Onde quer que alguém se abra à graça de Deus, na escuta humilde da Palavra, aí estará o Espírito de Deus a inspirar quem lê e quem ouve, como inspirou quem falou, ditou e escreveu.
Esta Palavra é verdadeiramente pão e alimento para todos os insaciados de Deus, voz íntima do amor do Pai que desce a falar familiarmente ao coração de cada um dos seus filhos. As crianças e até mesmo os mais idosos, os jovens e os adolescentes, todos são capazes da Palavra, todos capazes de profetizar, de ouvir e testemunhar (Jl.3,1-5; Num.11,29; Act.2,17-21).
Creio firmente que, tendo nós a humildade de oferecer a Palavra na sua beleza, na sua nudez e rudeza, e a simplicidade para a acolher, sem adereços inúteis, sem explicações que não matem o desejo, a Palavra tornar-se-á pão dado por Deus ao hoje de cada dia. E dará frutos que permanecem.
Descoberto o encanto pelo método da Lectio Divina, graças e muito à leitura assídua e frequente das publicações do Cardeal Martini, parti para a vida pastoral, com esta convicção.
Os múltiplos encontros de oração e de reflexão, nas comunidade paroquiais a que presido, com o Grupo de Oração, com os jovens crismandos, com os grupos pastorais, têm sido o campo privilegiado da prática da Lectio Divina. E é nessa experiência frequente que tal convicção se confirma por inteiro. Até os que não sabem ler, mas sabem ouvir, são capazes de descobrir o encanto da Palavra e nela a beleza do mistério da sua vida em Cristo. Os testemunhos dos participantes, não raro expressos em frases simples e saborosas, dão-nos a percepção de que Deus e o Homem conseguiram entabular um diálogo e privar amorosamente na intimidade de cada um. Como dizia São Gregório Magno, «assim como da pedra fria, talhada pelo martelo, saltam faíscas, da lectio da palavra divina, por inspiração do Espírito Santo, brota fogo».
A Lectio Divina, na medida em que «permite ler o texto bíblico, como Palavra viva que interpela, orienta, plasma a existência» (N.M.I. 39), pode constituir, creio bem, uma formidável ajuda frente ao actual desafio do mundo ocidental. Um mundo em que o mistério de Deus está quase ausente nos sinais externos da vida e da sociedade; um mundo interiormente árido, que afoga a consciência e nos impede de descobrir na experiência diária o gosto pelo Deus vivo e verdadeiro. Só alimentando a nossa fé num contacto com a Palavra, é que poderemos atravessar indemnes o deserto espiritual da Europa moderna.
O Secretariado Diocesano da Educação Cristã fez-me o desafio de fazer a «collatio», a partilha e intercâmbio, de algumas das minhas experiências na prática da Lectio Divina. Nem sempre conseguidas, certamente que nunca perfeitas. Mas experimentadas sempre e finalmente com o saboroso encanto dos primeiros frutos. Foi um trabalho pensado também para os catequistas, mas destina-se a todos os ministros da Palavra, na certeza de que é necessário “alimentar-nos da Palavra para sermos «servos da Palavra» no trabalho da evangelização. Tal é, sem dúvida, uma prioridade da Igreja ao início do novo milénio” (N.M.I. 40).
Não tive aqui a preocupação de harmonizar esquemas, de uniformizar passos, de obedecer a uma rigorosa ordem. Quero simplesmente chamar outros a este caminho.
Numa altura em que a própria Diocese do Porto se aventura e procura encetar uma verdadeira “animação bíblica de toda a Pastoral”, pela prática da Lectio Divina, este é apenas um contributo e uma ajuda, para quem queira começar a dar os primeiros passos. Estamos todos ainda muito no princípio. Mas “no princípio, era a Palavra” (Jo.1,1)!
“É junto de ti que está a palavra: na tua boca e no teu coração. Esta palavra é a da fé que anunciamos”. (Rom.10,8). Bom apetite.

Fonte Ecclesia

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