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Uma semana em Taizé: uma proposta diferente para experimentar este Verão.
2004-07-23 20:37:36

Todas as semanas, durante o Verão, milhares de Jovens provenientes de toda a Europa chegam a uma pequena aldeia do sul da Borgonha, chamada Taizé. Vêm em autocarros, em grupos mais ou menos organizados, mas muitos de mochila às costas, de boleia, comboio ou de carro. Em algumas semanas de Agosto chegam aos seis mil.

Em Taizé não há nenhum festival Rock, nem nenhuma Discoteca, nada daquilo que, aparentemente, atrai os jovens de hoje. Aliás ali não há praticamente nada: uma aldeia de cinquenta casas e uma cidade de tendas que cresce à volta de um edifício de configuração estranha, coroado por três cúpulas de estilo Bizantino.

A primeira coisa com que se depara um visitante é um painel com a palavra "bem-vindo" em várias línguas e jovens, de todos os tipos, tribos e raças , de seminaristas polacos de sotaina a punks ingleses de longa crista verde e abundantes piercings. Na maior parte do tempo formam grupos que se sentam um pouco por todo o recinto conversando animadamente. De repente os cinco sinos de uma imponente torre de madeira começam a tocar e , como formigas, os jovens encaminham-se para o referido edifício de configuração estranha e dimensões assinaláveis. Nas entradas alguns jovens empunham painéis de madeira onde se adivinha a palavra silencio, escrita em mais de 20 línguas diferentes.

Entrando, vemos que estamos numa igreja: o altar enquadrado por longos panais de tom avermelhado, velas, ícones da mais pura tradição ortodoxa, uma cruz inspirada no ícone franciscano mais conhecido pontua o lado direito da capela-mor. Bancos poucos, ao longo das paredes destinados a um ou outro adulto. Ao centro, separados por um delimitador de verdura cerca de 70 homens , de longo hábito branco, ajoelham numa postura de inspiração oriental. Os jovens, aos milhares, sentam-se no chão da igreja de suave declive.

Subitamente um cântico irrompe entoado a várias vozes, prontamente acompanhado em uníssono pelos milhares de jovens: uma melodia simples e curta, longamente repetida. O ambiente convida à introspecção. Ouvem-se leituras, repetidas em várias línguas: Inglês, francês, polaco, português. Depois silêncio: longos minutos só interrompidos pela voz profunda e cansada, num francês difícil, do Prior , o Irmão Roger Schutz..

“Nesta vida de comunhão, Deus, que permanece invisível, não nos fala forçosamente com palavras humanas. Fala-nos, sobretudo, por intuições que brotam no silêncio.” Diz num dos seus livros mais conhecidos –recentemente editado pela Gráfica de Coimbra – intitulado "Deus só pode amar", este suíço octogenário que, com alguns outros colegas do seminário protestante de Genebra , se instalou em Taizé nos anos da segunda guerra mundial, instituindo uma comunidade ecuménica pioneira, onde católicos e protestantes das mais diversas origens se comprometem juntos pela primeira vez desde a reforma na vida em comum, no celibato e na construção de uma parábola de comunhão.
"A comunidade que vive na pequena aldeia da Borgonha francesa representa, para o cristianismo, uma experiência de futuro, uma antecipação do que deverá ser o modo de viver a fé em Jesus, traduzido para o nosso tempo: um testemunho do essencial, uma relação intensa com a palavra de Deus, uma parábola de comunhão e simplicidade, uma concretização da beleza nas nossas vidas. Nesse sentido, Taizé é uma Primavera da Igreja. Tempo de desocultar cores e flores que estavam escondidas, momento de deixar brilhar o sol, ocasião de tratar frutos que hão-de amadurecer." Refere o jornalista António Marujo, num texto escrito em 2003. Ele próprio frequentador assíduo da comunidade, como era a falecida Maria de Lourdes Pintasilgo e milhares de outros portugueses, jovens e menos jovens.

Que mistério possui esta pequena comunidade, que descobriu como vocação o acolhimento e o semear da reconciliação na família humana? Um mistério que vale a pena descobrir. A verdade é que os jovens que passam pela colina – e que são desafiados a prosseguir o seu caminho na paróquia a que pertencem, já que Taizé nunca os quis organizar em movimento - assumem sempre a profunda marca na sua vida deixada pelas semanas ali passadas. Um descoberta progressiva, em ritmos diferentes, de uma relação pessoal com Deus, também traduzida numa relação com os outros.


Em Taizé o dia começa cedo. No centro dos encontros, três vezes por dia a oração em comum reúne todos os que se encontram na colina numa celebração simples através do canto e do silêncio.
Todos os dias, alguns irmãos da comunidade reúnem com os jovens sob uma tenda de circo para fazer o que em Taizé se designa por " introduções bíblicas". Os temas diversificados ( este ano propõe-se «Da dúvida à confiança» – Como reconhecer a presença de Deus nas nossas vidas? ; «Até às fontes da alegria: reflexão baseada na Carta para 2004» – O que me traz um sopro de vida? Como ir até às fontes da bondade, da alegria e da confiança? O que espera Deus de mim? Como posso viver e apoiar uma comunhão com outros? ou «Criados à imagem de Deus» – Porque é que a vida é simultaneamente tão difícil e tão bela? Qual o sentido e a vocação do ser humano?) e este momento de encontro é seguido pela partilha em grupo, num grupo plural e multilingue formado na segunda-feira e que permanece durante toda a semana. Este grupo é a base da teia de relações e conhecimentos que se fazem ao longo da semana. Fala-se sobre o tema proposto, mas também sobre os respectivos países, e realidades culturais e sociais, e até sobre as experiências e inquietações pessoais. A ninguém é exigido que acredite em Deus, tão só que assuma uma atitude de procura e de disponibilidade para ouvir e partilhar dúvidas e certezas.
É ainda possível, para os que o desejarem, passar a semana em silêncio para deixar o Evangelho iluminar profundamente a sua própria vida.
Depois do lanche, alguns workshops sobre temas mais específicos, permitem perceber a relação entre as fontes da fé e a realidade pluralista do mundo contemporâneo: « É possível o perdão? », « O desafio da mundialização», « Como responder ao chamamento de Deus?», «Que Europa queremos?»… Há ainda temas sobre arte ou sobre música.


"Que flores e cores, que sóis e frutos Taizé nos ensina, então, a descobrir? " questiona-se António Marujo, numa comunicação enviada para um encontro que ocorreu em 2003 em S. José "Antes de mais, o apelo ao essencial. O cristianismo continua, hoje, carregado de acessórios desnecessários, de pesos que a história nos legou. O essencial, dizia o princepezinho, o essencial é invisível aos olhos, pois só se vê bem com o coração. E o essencial, no cristianismo, é o mandamento do amor. Que fizemos dele, que temos feito desse apelo maior de Jesus às nossas vidas? Amar o outro é o mais difícil, sabemo-lo todos. Exige conhecê-lo e respeitá-lo na sua forma de vida e nas suas opiniões. Passa também pela tolerância para com os seus erros e fracassos. Implica uma proximidade e uma compreensão profunda do outro a partir do lugar em que ele se coloca. Traduz-se em ter paciência, em não ridicularizar ninguém, em não fazer condenações apressadas – seja no trabalho ou na família, no trânsito ou com amigos. “Neste período da história, o Evangelho convida-nos a amar e a dizê-lo através da nossa vida. Antes de tudo, é a nossa vida que torna a fé credível à nossa volta.” (I. Roger, “Deus só pode amar”)

Viver uma semana em Taizé é assim uma proposta, dirigida sobretudo aos Jovens com menos de 30 anos, de umas férias diferentes, longe do stress das filas e dos engarrafamentos, numa região de grande beleza natural e onde é possível viver uma riquíssima experiência de descoberta do outro e de uma relação pessoal com Deus. Tem ainda a vantagem de , graças ao sistema de funcionamento em comunidade, ser bastante acessível: 35 a 40 euros por semana para os jovens, sensivelmente o dobro para os adultos. A isto acrescem as viagens, que no caso das peregrinações organizadas na região centro custam 100 euros, em autocarro, com um dia de visita ao Fórum Barcelona como possibilidade extra. Porque não experimentar?


Informações Práticas:

A Comunidade de Taizé vive do seu trabalho e não aceita qualquer donativo. A participação nas despesas dos encontros visa fazer face exclusivamente aos custos de alimentação e alojamento e é calculada em função do nível de vida de cada País. Para os jovens portugueses a comunidade sugere uma contribuição de 4 a 5,5€ por dia, cerca do dobro para os adultos.
Quem desejar ir a Taizé este verão, pode fazê-lo, a partir da Região Centro, em dois grupos que estão a ser organizados graças à colaboração de várias comunidades da Região Centro, com o apoio das respectivas estruturas da Pastoral Juvenil.
A partida de Coimbra será pelas 20 horas das sextas-feiras 13 e 20 de Agosto, e o regresso será na manhã das segundas-feiras 23 e 30. Haverá pessoas de diversas origens (Coimbra, Aveiro, Viseu, Guarda) e provenientes de vários movimentos...
Para informações funciona um espaço de atendimento em Coimbra, na Igreja de S. José, às quartas, das 18 às 20. Poderão também contactar a organização para o E-mail amigos.taize.coimbra@sapo.pt ou pelo telefone 968729619 (António José Monteiro). A participação nesta peregrinação é aberta a todos os interessados. Segundo os organizadores ainda há alguns lugares disponíveis.

António J. Monteiro



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