paroquias.org
 

Notícias






A narrativa bíblica e a crise da linguagem religiosa
2004-07-08 21:16:48

A actual crise da linguagem religiosa, testemunho do final de um certo modo de ser cristão, faz-nos acreditar que na nossa sociedade, a Fé não mais se transmitirá pelas veias da assimilação a um determinado contexto sócio-cultural.

O Pe. José Tolentino Mendonça, poeta e biblista, acredita que essa crise, com os seus reflexos nas várias áreas da Teologia, “tem constituído não só motivo de incerteza e angústia, mas representa também um incitamento à criativa procura de caminhos”.

Esta convicção levou o actual secretário da Comissão Episcopal da Cultura a apresentar hoje na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, a sua tese de Doutoramento sobre o tema “A Construção de Jesus. Uma leitura narrativa de Lc 7,36-50”. O trabalho defende a recuperação do espaço “metafórico e narrativo” na comunidade cristã e apresenta-se como uma obra em que o poeta se coloca ao serviço do exegeta para dar “um sopro de frescura que reabilita a unidade do texto”.

O olhar que se lança sobre a importância de ler a Bíblia no 3º milénio, com curiosidade e criatividade, fizeram com que Tolentino Mendonça utilizasse termos que não aparecem regularmente na análise dos textos sagrados: intriga, espaço, pontos de vista, tudo isto é apresentado como um testemunho da atenção que o autor presta às estruturas narrativas que, desde sempre, marcam a fé cristã.

“Tornar ao texto, respeitar os seus mecanismos” é o propósito que dá vida a este trabalho, onde Tolentino Mendonça aborda o relato de uma mulher, a que não se dá nome, que irrompe em casa de um fariseu, Simão, para chorar, lavar, ungir os pés de Jesus e pedir perdão.
Para o biblista, o texto tem uma palavra fundamental a dizer sobre Jesus, que tem de ser compreendida, ainda hoje: ele é aquele que perdoa. “A polémica reacção das autoridades judaicas, nomeadamente doutores da Lei e fariseus, visava a relação de Jesus com os pecadores”, disse.
Ao dedicar a sua tese de Doutoramento “a todos os que alguma vez choraram aos pés de Jesus”, Tolentino Mendonça vincou a sua alma de poeta, o mesmo que diz sobre o seu trabalho e a abordagem narratológica à Bíblia que “se o escondido se manifesta, não se deixa reter como um inútil troféu, mas continua vivo, desafiador, imperscrutável”.
Com orientação do jesuíta Jean-Noel Aletti, o trabalho deste sacerdote mostra que o evangelista é, verdadeiramente, um autor, abordando o modo como, pela criação literária, se expressa uma determinada visão religiosa.
A discussão pública das provas de Doutoramento de Tolentino Mendonça contou com a presença dos Bispos do Funchal, D. Teodoro de Faria, e os auxiliares de Lisboa D. Manuel Clemente e D, Tomaz Silva Nunes, além de vários professores da UCP, antigos alunos e amigos presentes.
Nascido no ano de 1965, em Machico, Tolentino Mendonça estudou no Seminário diocesano do Funchal e na Universidade Católica, em Lisboa, e foi ordenado sacerdote em Julho de 1990, por D. Teodoro de Faria. Prosseguiu os estudos superiores em Roma, tendo desempenhado ainda o cargo de Reitor do Pontifício Colégio Português.

Poeta de eleição, José Tolentino Mendonça tem vários títulos publicados. Além dos livros de poemas ("Os Dias Contados", 1990; "Longe Não Sabia", 1997; "A que Distância Deixaste o Coração", 1998) e do ensaio "As Estratégias do Desejo: Um Discurso Bíblico sobre a Sexualidade" (1994), “Baldios”,(1999) Tolentino Mendonça é autor de uma elogiada tradução do "Cântico dos Cânticos" (1997) e de "Salmos", entre outros títulos.

Fonte Ecclesia

voltar

Enviar a um amigo

Imprimir notícia