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A formação dos sacerdotes
2004-03-30 20:50:48

Que se promova a sólida formação dos candidatos às Sagradas Ordens e a formação permanente dos ministros já ordenados.

1. A diminuição de vocações para o sacerdócio – preocupação constante da Igreja nas últimas décadas – é, sobretudo, evidente nas Igrejas europeias. Estas vêm assistindo ao inexo-rável envelhecimento dos seus sacerdotes e à sua incapacidade para os substituir, devido à falta de vocações para este ministério eclesial.


Ora, como recorda João Paulo II, a Igreja não pode manter-se sem sacerdotes, pois estes são essenciais à sua constituição hierárquica e à celebração comunitária da fé – sem sacerdotes, não há eucaristia; e sem eucaristia, não há comunidade eclesial viva, evangelizada e evangelizadora. As «celebrações dominicais da Palavra», sem sacerdote, constituem uma solução de recurso que não pode nem deve generalizar-se – sob risco de as comunidades católicas perderem o essencial daquilo que as distingue no contexto mais vasto das Igrejas cristãs.

2. Perante esta realidade, uma tentação compreensível será diminuir a exigência na escolha dos candidatos a este ministério eclesial. João Paulo II tem advertido frequentemente contra esta tentação. De facto, enquanto a Igreja mantiver as actuais exigências relativamente aos seus sacerdotes – inteira disponibilidade para aquilo que o Bispo pedir, desprendimento emocional, quer de lugares quer de pessoas, multiplicidade de tarefas (algumas das quais poderiam e, em certos casos, deveriam ser assumidas profissionalmente por leigos), celibato para toda a vida… – não é legítimo diminuir o grau de exigência na escolha dos candidatos. Fazê-lo será arriscar problemas futuros bem mais graves do que a diminuição do número de sacerdotes – abandonos logo nos primeiros anos da vida sacerdotal, infidelidades no celibato, incapacidade de relacionamento saudável com as pessoas e as comunidades e, até, comportamentos desviados que trazem enorme sofrimento aos próprios e a outros e constituem um contra-testemunho demolidor – os últimos tempos têm sido elucidativos a este respeito.
3. Esta exigência na escolha deve aliar-se à exigência na formação dos candidatos ao sacerdócio: formação humana, filosófico-teológica e espiritual. Não que o sacerdote se afirme apenas ou essencialmente pelo saber – mas sem este, não será capaz de lidar com um mundo cada vez mais complexo e com comunidades cada vez mais exigentes. Não que o sacerdote deva ter a pretensão de aparecer como excelente em tudo – mas sem excelência naquilo que lhe é específico, não realizará devidamente o seu ministério e acabará por defraudar a Igreja, as comunidades e a si próprio. Não que o sacerdote precise de títulos e de antepor o tratamento de «doutor» ao de «padre» – mas sem aquele saber que os títulos significam, dificilmente será capaz de apresentar um cristianismo afirmativo, que não se esconde, antes se apresenta sem complexos na praça pública, capaz de dizer a todos as razões da esperança que o anima.

4. A formação contínua dos sacerdotes já ordenados é igualmente indispensável. Sacerdotes que não lêem, não frequentam acções de formação específicas para o seu ministério, desinteressados dos debates que percorrem a sociedade e têm eco inevitável na Igreja, rapidamente caem no conformismo de uma vida intelectualmente pouco exigente. E arriscam a falta de relevância que, com frequência, se encontra no discurso de quem deveria constituir a primeira linha do anúncio do Evangelho. Esta falta de relevância leva consigo a perda de capacidade da Igreja para influenciar os caminhos do futuro através de uma acção afirmativa no presente. Sem triun-falismos destituídos de sentido, sem pretensões de domínio ou imposição, sem ignorar a legítima diversidade de propostas característica de sociedades laicas, nas quais gostamos de viver; mas também sem renunciar a dizer o que lhe é próprio, na esperança de ser escutada e, assim, contribuir para um futuro mais digno, porque mais humano.

Elias Couto

Fonte Ecclesia

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