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Povo de Alcains Inconformado com Afastamento de Padre
2004-03-17 19:54:47

"Queremos o padre Tavares de volta". Esta é uma das frases escritas a negro numa faixa que permanece pendurada na igreja de Alcains.

A população está revoltada e inconformada com o afastamento repentino do pároco e reitor do seminário de Alcains, Manuel Tavares. Pelas ruas desta vila não é difícil encontrar paroquianos indignados com a forma como o padre se foi embora. "É uma grande injustiça, ele está a ser escorraçado por ter feito o bem", enfatiza Ana Paula Ribeiro.

Os elogios ao pároco saltam de boca em boca e ninguém consegue perceber as razões desta decisão que conduziu ao "desaparecimento" do pároco, já que Manuel Tavares, que vivia em Alcains há cerca de oito anos, não é visto na vila há uma semana. O trabalho social que o pároco vinha a desenvolver com os jovens em risco e os imigrantes de Leste merece o louvor dos populares, que não hesitam em suspeitar que, por detrás desta decisão, estarão justificações relacionadas com dinheiro. Todos apontam o dedo ao bispo da diocese de Portalegre e Castelo Branco, D. Augusto César.

"A igreja, aos olhos de alguns, funciona muito como um bem material e um homem que consegue juntar jovens e ajudar imigrantes não dá lucro. A igreja estava a ficar pobre em termos monetários, mas muito rica em termos humanos", denuncia Ana Paula Ribeiro. Sem certezas, os moradores exigem uma explicação e o regresso do pároco "que tem ajudado muitas pessoas".

Apesar de analfabeta, com 85 anos, Ti Ana Clara, como é tratada pelos alcainenses, escreveu ao patriarca de Lisboa, a solicitar a sua intervenção. Exibe o recibo do registo da carta e revela que gostaria de ir, pessoalmente, à capital falar com D. José Policarpo. "Não há direito o senhor bispo de Portalegre fazer pouco da vila de Alcains. Não deixou o padre Tavares despedir-se do povo nem dormir no seminário, como se fosse um criminoso. O que quer é dinheiro e este padre gastava-o todo com os pobres. (...) Dinheiro de Alcains nunca mais vê", salienta esta mulher. Conta Ti Ana que um grupo de homens da vila até lhe sugeriu um protesto: "Diga lá às mulheres que ponham uma pedrinha nos bolsos e quando lhe pedirem a esmola que a ponham dentro do saco para as enviar ao bispo".

Depois de sinos a rebate, manifestações, um cordão humano e uma audiência com o Bispo da diocese de Portalegre e Castelo Branco, D. Augusto César, os populares vão seguir o exemplo de Ti Ana e enviar um abaixo-assinado, com duas mil assinaturas, ao patriarca de Lisboa. As crianças não querem voltar à catequese, os jovens ameaçam não voltar à igreja e o povo de não dar esmolas nem pagar missas. As portas da igreja estão fechadas e, ao que dizem, parece que tão cedo não haverá um novo pároco em Alcains. Também não aceitam que o edifício esteja encerrado e vão reclamando: "Ele pensa que manda na igreja, mas a igreja é nossa".

O PÚBLICO contactou responsáveis da diocese que asseguraram que o bispo, D. Augusto César "não presta declarações". No entanto, na audiência com um grupo de moradores de Alcains que se deslocaram a Portalegre anteontem, o "bispo assumiu que a decisão de afastar o padre Tavares da paróquia de Alcains terá sido conjunta", revela João Reis, que esteve presente nesse encontro. Sobre os motivos desta deliberação, D. Augusto César "não foi muito objectivo e disse que cada um mandava na sua casa", explica João Reis, salientando que o bispo "deixou transparecer" que na origem deste afastamento estará "alguma gestão que não estava de acordo com as regras determinadas e não era do seu agrado". Até à hora de fecho desta edição não foi possível falar com o padre Manuel Tavares.

Por MARISA MIRANDA

Fonte Público

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