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Folheto Anti-aborto Distribuído em Escolas Particulares Gera Onda de Críticas
2004-03-06 08:10:05

Numa das imagens vê-se um feto colocado num prato e um homem aparentemente oriental, de talheres na mão, que se prepara para comer.

Ao lado, um texto informa que se "matam dois bebés por segundo, mais que todas as guerras juntas e que no hospital de Taywan até se compram bebés mortos a 50 - 70 dólares para churrasco!!!" Há testemunhos anónimos que descrevem o sofrimento, o desespero e até uma tentativa de suicídio de pessoas que abortaram ou o aconselharam.

Todas estas mensagens e imagens anti-aborto constam de um folheto informativo, concebido pela associação SOS Vida, a que a agência Lusa teve acesso. O Padre Jerónimo Gomes é um dos principais dinamizadores deste movimento cívico de apoio às mulheres grávidas e confirmou que tem facultado estes desdobráveis "a quem pede" e que terão chegado já a vários estabelecimentos de ensino. "Ainda há uns três ou quatro dias me pediram de uma escola de Águeda uma quantidade grande", confirmou ao PÚBLICO.

O Ministério da Educação garantiu, ao final da tarde, que os panfletos com mensagens chocantes a descrever com pormenor o aborto não foram distribuídos no interior das 15 mil escolas públicas do país. "Até às 18:30, todas as direcções regionais fizeram um esforço excepcional para apurar o que o gabinete do ministro pediu e não foi detectada nenhuma distribuição em nenhuma escola pública", disse à agência Lusa fonte do gabinete de David Justino.

Imagens "não são chocantes"

Acompanhado de imagens ultrassónicas de fetos no útero, o folheto, intitulado "Amor precisa-se", cita ainda testemunhos de obstetras condenando a interrupção voluntária da gravidez e atestando "cientificamente que a vida humana começa no momento da concepção". E acrescenta-se: "As imagens permitem observar como a criança vai sendo torturada, desmembrada, desarticuldada, esmagada e destruída pelos insensíveis instrumentos de aço do abortista".

A SOS Vida manifesta-se mesmo contrária às situações de aborto permitidas pela actual legislação. "Em caso de violação ou perigo de saúde para a mãe, não se pode tentar resolver uma violência com outra não menos terrível", lê-se no folheto.

A Lusa relata que, no caso de um colégio católico de Lisboa, o folheto terá sido entregue pelas professoras aos alunos e com a indicação de passar aos pais. Um dos encarregados de educação contou que a sua criança, de seis anos, ficou muito impressionada, chorou e teve pesadelos durante a noite.

O padre jerónimo Gomes tem, no entanto, uma visão diferente e assegura que a recepção a estes folhetos tem sido muito positiva. "Estas imagens não são chocantes. Tudo se pode dizer às crianças desde que seja científico e de maneira simples. Hoje em dia, as violências são apresentadas a torto e a direito na televisão", diz. Acrescenta que a, pedido do coordenador da Pastoral da Saúde, padre Feytor Pinto, foram enviados mais de dez mil folhetos para médicos, professores e assistentes sociais reunidos num encontro nacional sobre saúde, em Fátima, noticia a Lusa.

Ao PÚBLICO, Feytor Pinto esclarece que a solicitação para o envio dos panfletos para o encontro de Novembro passado partiu do padre Jerónimo Gomes. Quanto ao folheto, manifesta-se "frontalmente contra a sua distribuição, seja nas escolas públicas ou privadas". "As crianças não se educam assim, pelo susto, pela agressão. E o que lá vem é uma agressão", reforça o coordenador da Pastoral da Saúde, que lembra que o "Amor precisa-se" é uma reprodução de um manifesto "distribuído na América há 25 anos".

Chuva de críticas

A Escola Secundária Poeta António Aleixo, em Portimão, uma das que alegadamente teriam autorizado a distribuição dos panfletos, desmentiu entretanto essa notícia. Luís Correia, presidente do conselho executivo, explicou que a associação SOS Vida esteve na escola, no ano passado, "para uma acção de hora e meia para falar sobre o tema", mas que o folheto distribuído "não tinha nada a ver com essas imagens ou frases chocantes"

A sessão inseriu-se no âmbito do projecto desenvolvido na Área-Escola, dedicado ao tema "Cidadania e Solidariedade". O estabelecimento de ensino contactou a SOS Vida, houve uma "discussão aberta com os alunos sobre esse tema, com diferentes pontos de vista", garante Luís Correia.

O folheto mereceu já a crítica da Confederação Nacional das Associações de Pais, que, em declarações à Lusa, considerou "lamentável que, seja em nome de que valores forem, se violente desta forma as crianças", numa campanha que apelidou de "terrorista". A opinião é partilhada pela Associação para o Planeamento da Família. A presidente, Maria José Alves, defendeu que este tipo de acções "não visam informar, mas apenas chocar e desinformar da maneira mais imprópria".

Também a Federação Pela Vida, que se opõe à despenalização do aborto, manifestou-se contrária a "qualquer campanha com imagens chocantes".

No plano político, as reacções também se multiplicaram. O PS pediu explicações ao Governo, o PCP apresentou um requerimento ao Ministério da Educação solicitando todos os dados sobre situação e o Bloco de Esquerda pediu a presença da secretária de Estado da Educação, Mariana Cascais, no Parlamento para "prestar todos os esclarecimentos deste deplorável acontecimento".

A associação SOS Vida foi criada em 1999, por iniciativa do bispo do Algarve, D. Manuel Madureira Dias. Presta atendimento telefónico e dá actualmente apoio domiciliário a 304 mães, afirma o padre Jerónimo Gomes.

Fonte Público

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