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SEMANA DE ORAÇÃO PELA UNIDADE DOS CRISTÃOS 2004
2004-01-20 21:01:50

Eu Vos Dou A Minha Paz - Jo 14, 27

Rezamos raramente pelo que não nos interessa e mais fervorosamente, pelo que nos toca profundamente, nos diz respeito às pessoas e ao mundo que conhecemos. E, no entanto, a oração dispõe o coração humano a acolher o próximo. Santo Isaac, o Sírio, fala do coração misericordioso como aquele que arde com grande compaixão por todas as pessoas, por toda coisa criada. Movido por uma “misericórdia intensa e veemente”, por uma compaixão “sem medida, semelhante à de Deus”, o coração oferece sua prece em meio a todos sofrimentos, eleva uma súplica mesmo por aquele que o feriu, pelos “inimigos da verdade” (Homilia 81) O mundo de hoje precisa desses corações misericordiosos, da oração que se eleva dos gemidos da humanidade e de todo o mundo criado.


Eu Vos Dou A Minha Paz” Jo 14, 23-31

Rezamos raramente pelo que não nos interessa e mais fervorosamente, pelo que nos toca profundamente, nos diz respeito às pessoas e ao mundo que conhecemos. E, no entanto, a oração dispõe o coração humano a acolher o próximo. Santo Isaac, o Sírio, fala do coração misericordioso como aquele que arde com grande compaixão por todas as pessoas, por toda coisa criada. Movido por uma “misericórdia intensa e veemente”, por uma compaixão “sem medida, semelhante à de Deus”, o coração oferece sua prece em meio a todos sofrimentos, eleva uma súplica mesmo por aquele que o feriu, pelos “inimigos da verdade” (Homilia 81) O mundo de hoje precisa desses corações misericordiosos, da oração que se eleva dos gemidos da humanidade e de todo o mundo criado.

A busca pela paz no Oriente Médio, partilhada por muitos outros povos em outras partes do mundo, forma o pano de fundo da celebração e meditações para essa Semana de Oração pela Unidade Cristã 2004. Como a paz em nosso mundo permanece enganosa e é obstruída a cada crise, sua busca e as profundas esperanças que estão entrelaçadas nessa procura, formam uma parte vital da oração que se eleva de nossas almas ao coração misericordioso de Deus.

Queremos paz. É humano encontrarmos realização nela e ansiarmos por ela do fundo de nossos corações. No entanto, o caminho que leva à paz não é evidente, nem está bem trilhado. Nossa esperança é de que o terceiro milênio seja de paz e de retorno à fé em Deus. A palavra árabe para paz é salaam; a palavra hebraica da mesma linhagem semítica é shalom. No Oriente Médio, como em todos os contextos onde os adeptos de diferentes religiões vivem, lado a lado, relacionamentos construtivos entre tradições religiosas – construídas no diálogo e no objetivo comum de paz e justiça, enraizada no reconhecimento compartilhado da dignidade de cada pessoa humana – são pré-requisito essencial para sermos abençoados com o dom da paz. Em contrapartida, um espírito de reconciliação e missão comum entre cristãos e comunidades cristãs é fundamental para a busca da paz. Nossa preocupação comum em favor da paz deverá servir para nos aproximarmos mais uns dos outros na comunhão.

O conceito bíblico de paz é ricamente expressivo e de muitas facetas, sugerindo inteireza e bem-estar, felicidade e segurança, integridade e justiça. Nossa fé cristã nos conta que a verdadeira paz nos é dada somente se seguirmos os caminhos de Deus, como é demonstrado nas Escrituras, e se tomarmos o rumo da paz proclamada e vivida por Jesus Cristo. “Ele é nossa paz” (Ef 2, 14), e a exemplo de seus discípulos, nossa unidade deve ser a reconciliação nele. O testemunho da paz de uma comunidade cristã fragmentada é carregado de ambigüidades; uma contradição interna enfraquece nossa habilidade de espalhar a paz de Cristo. Contrariamente, a unidade entre as Igrejas dá poder e credibilidade ao nosso testemunho, colocando convincentemente diante do mundo a visão de uma reconciliação universal em Cristo.

As Igrejas orientais sobreviveram através de difíceis circunstâncias históricas. Essas Igrejas antigas e os países que são o berço do cristianismo foram freqüentemente privados de paz. Ansiaram por ela durante gerações e rezaram com persistência para obtê-la. Sua presente situação faz com que elas desejem a paz mais do que nunca. Seu patrimônio e herança, tradições e ritos os incitam a pedir ardorosamente pela paz em suas orações; por isso escolheram nesse ano o tema da paz para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.

Atualmente, para as Igrejas do Oriente Médio, que vivem lado a lado como uma minoria dentro de sua cultura, com sua multiplicidade e seus muitos casamentos mistos, o trabalho do ecumenismo não é um ideal abstrato, mas uma necessidade vital. Somente através da fomentação de um espírito ecumênico, elas são capazes de existir significativamente. Unidade e paz são suas mais sinceras preocupações, seu sonho supremo e universal. Uma luta comum as reconciliou e uma visão do futuro serviu para uni-las. A paz é sua preocupação diária, sua esperança permanente.

Nos primeiros dias do cristianismo a comunidade cristã era uma e, enquanto encarnava aquela unidade que nunca foi fácil, a Igreja primitiva permaneceu, através dos séculos, como um modelo principal de comunidade que podia viver em paz e proclamá-la efetivamente. Hoje não é mais assim, pois ainda não estamos completamente unidos e nosso testemunho sobre a paz está comprometido. Aqueles que desejam paz fariam bem em rezar e lutar pela unidade na paz. Atenta a esse relacionamento, a Igreja é chamada a rezar pela paz na unidade e em unidade pela paz.

A escolha do tema desse ano é o resultado da convicção das Igrejas do Oriente Médio de que cristãos através do mundo, fazendo essa oração ecumenicamente, estariam sustentando solidariamente as esperanças e sofrimentos do povo dessa região. Seu pedido nos lembra o apóstolo Paulo que durante suas viagens recebia dádivas para a Igreja mãe de Jerusalém. Hoje o dom buscado é a oração e o apoio espiritual de irmãs e irmãos unidos num desejo comum de harmonia.

Paz significa recolocar as coisas em sua ordem natural conforme a determinação de Deus. Ela diz respeito a todos os tipos de relacionamentos. O Paraíso tem sido freqüentemente representado como uma vida pacífica entre Deus e o povo de Deus, entre cada pessoa e seu vizinho, entre a raça humana e o mundo criado. A paz existe somente onde há justiça. Contrariamente, o pecado é o que causa a ruptura desses relacionamentos. O pecado dispersa, a justiça une. Nossas ações diárias e a escolha que fazemos têm repercussões para o bem ou para o mal; através delas nós nos aproximamos ou nos distanciamos inevitavelmente de Deus e de nosso próximo; obtemos e espalhamos paz, dissipamos ou rompemos com ela. No Oriente, o povo cumprimenta-se desejando a paz, porque isso é o que de mais belo se pode oferecer ao outro, o melhor relacionamento que se pode manter com o próximo e o direito que mais se deve defender.

Deus Pai é o Deus da paz, que nos reconciliou pelo sangue de seu único Filho (2Cor 13, 11). Nas anáforas eucarísticas das Igrejas orientais, o povo proclama “a misericórdia da paz, o sacrifício do louvor”, recordando a misericórdia de Deus mostrada em sua auto-revelação e o dom de si próprio em Cristo, que nos leva a partilhar a paz que somente Deus pode conceder. Jesus veio para construir a paz na terra e para no-la dar (Jo 14, 27), ele chama sua Igreja para ser fermento de um novo paraíso, universalizando aquela verdadeira paz que ele tanto desejou oferecer ao mundo. Os ritos litúrgicos: culto e adoração, em sua variedade de formas, buscam a reconciliação dos seres humanos com Deus, uns com outros, com o universo e dentro de nós. Assim sendo, a oração pela paz implica numa forte dimensão interior: faz surgir conversão e abertura de nossos corações, para que possamos possuir a misericórdia de Cristo em nós; ela fomenta a confiança infantil de que Deus está trazendo para nós e dentro de nós o que não podemos criar por nós mesmos; ela produz frutos através das obras de caridade realizadas como ação de graças a Deus e para favorecer a reconciliação e a vida pacífica com nosso próximo; ela convida à perseverança no asceticismo e na purificação interior. Em suma, como já foi sugerida, a oração pela paz está necessariamente ligada ao desejo de unidade em todas os aspectos da vida humana.

A oração pela paz também nos prepara, como indivíduos cristãos e como Igreja para empreendermos a missão profética que pertence intrinsecamente ao corpo de Cristo: ser instrumentos e artesãos da paz e justiça, de uma nova humanidade, em nosso mundo destruído e crivado de guerras. O comprometimento ativo em favor da paz e justiça é fruto do trabalho do Espírito Santo dentro de nós. Esse não é um projeto humano, mas obra de Deus; e as Escrituras relatam com vivacidade que a paz de Deus não é a paz do mundo. Os profetas Isaías (2, 4) e Miquéias (4,3) falam de um tempo em que as nações “ de suas espadas forjarão relhas, das suas lanças, podadeiras.” A visão da transformação dos instrumentos de guerra naqueles que constroem comunidades continua a inspirar os cristãos a manusearem habilmente a ferramenta do diálogo e da solução não violenta de conflito, na busca da paz com justiça, usando meios totalmente coerentes com o fim que procurado, a exemplo de Jesus. Miquéias e Jeremias também deram testemunho de uma tradição profética de clamor contra a hipocrisia e a falsa retórica de paz, insultando aqueles que dizem “‘Tudo em paz! Tudo em paz!’ Quando não há paz” (Jer 6, 14), “aqueles que, ... “se têm algo para morder em seus dentes, proclamam: ‘Paz’; Mas a quem não lhes põe nada na boca, eles declaram a guerra santa”. (Miq 3, 5) Muitos cristãos e comunidades cristãs em nossos dias discursaram publicamente sobre os meios de construir a paz, desafiando, às vezes, plataformas políticas e ideológicas, decretos de “paz” construídos sobre violência, injustiça, e opressão dos outros. Em algumas partes do mundo, o testemunho profético de confrontação de definições estreitas ou falsas de paz com visão bíblica não é possível, ou acontecem a um grande custo pessoal e comunitário. Essas regiões ocupam lugar especial em nossa oração pela paz.

Em 2004, cristãos do mundo inteiro têm novamente uma data comum para a celebração da Páscoa. O Mistério pascal é a origem de nossa esperança, fonte de nossa missão, promessa de que a paz é possível. Ele nos recorda que, embora a violência, a injustiça e o ódio possam temporariamente ter sucesso, Deus tem o poder de transformar morte em vida, reconciliar tudo o que parece minar a paz, que finalmente prevalecerá. Como celebramos a Páscoa na mesma data nesse ano no mundo cristão, possam nossas celebrações durante esse santo tempo ser um incentivo para partilharmos mais profundamente a esperança e a alegria, assim como a missão, que se levanta do túmulo do Senhor ressuscitado. O ano 2004 também acontece durante a Década para Superação da Violência do Conselho Mundial das Igrejas, iniciativa que nos convida à oração e nos chama para um compromisso de trabalho para a paz.

Através da cerimônia religiosa ecumênica e graças aos textos bíblicos e às meditações para os Oito Dias, evidenciaremos a visão bíblica da paz que será refletida sob diversos ângulos na esperança de reunir cristãos para a abertura dos ricos tesouros de nossa herança, e para sermos melhores instrumentos da paz transformadora de Cristo no mundo. O texto evangélico para o culto religioso é tirado de João 14, 23-31, que é parte do discurso de despedida de Jesus para os discípulos antes de sua morte. Nesse contexto pascal, Jesus garante a seus seguidores que se guardarem sua palavra, ele e o Pai estabelecerão morada neles. “Ele lhes oferece o dom e a promessa da paz: “Eu vos deixo a paz; eu vos dou a minha paz”. Ao partir, Jesus diz a seus discípulos que devem ser os portadores da paz para todo o mundo, sob a orientação do Espírito Santo.

Esse mesmo texto joanino proporciona um ponto inicial para as meditações dos Oito Dias, expondo e refletindo sobre as implicações do entendimento cristão sobre a paz. Toda harmonia, na Igreja e no mundo, tem seu fundamento no amor criativo e vivificante de Deus por nós. (1o dia). Revelando o amor do Pai por nós, Jesus promete a seus discípulos trazer paz interior e serenidade mesmo diante dos tumultos. (2o dia). Aqueles que ouvem as palavras de Jesus e as levam a sério tornam-se portadores de sua paz (3o dia). Esse é o trabalho do Espírito Santo: trazer a paz e o perdão, estimulando-nos a colocar nossas mentes e corações a serviço do mundo desejoso de concórdia (4o dia). Enquanto o mundo procura paz e segurança pela força e exercício do poder, a paz de Cristo vem através da humildade e serviço, buscando superar o mal com o bem (5o dia). Seguir pelo caminho do discipulado é viver de modo crescente sem medo e ansiedade, sempre mais atento ao amor de Cristo que é maior do que qualquer coisa que se oponha a nós (6o dia). Confiando na ressurreição de Cristo e esperando sua vinda em glória, a vida cristã é para ser vivida diante de um horizonte de esperança, e em permanente solidariedade com aqueles cujas vidas são pela dúvida, medo e tristeza (7o dia). A autêntica paz, a que Deus anseia nos dar, traz alegria, mas também nos obriga a nos dedicarmos aos outros, de modo que todos possam compartilhar essa paz. (8o dia).

Fonte Vaticano

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