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Comunicado de Sua Excelência Reverendíssima
2003-12-19 10:42:40

Reacção de S. Ex.a Rev.a D. Armindo às declarações apresentadas como suas pelo jornal "Expresso".

O Semanário “Expresso” publicou na edição de 13 de Dezembro de 2003 uma entrevista que me foi pedida e na qual foram abordados vários assuntos.

Recordo que a Senhora Jornalista na parte final de um diálogo muito calmo me confessou que gostava mais de fazer rádio do que fazer jornalismo, porque na rádio e em circunstâncias normais se ouvem as perguntas e as respostas sem mais, ao passo que nos jornais um texto pode passar por várias mãos até ficar pouco reconhecível.

De facto no texto em causa verifica-se uma certa composição que não respeita sequer a sequência do diálogo havido e sobretudo começa-se por um título que provocou as mais diversas e contraditórias reacções: “Aborto não devia ser penalizado”.

Ora, este título nem refere o essencial da entrevista (o que é, concorda-se, subjectivo), nem corresponde à verdade do que afirmei. Sobre o aborto comecei por dizer categórica e inequivocamente que sou contra o aborto, porquanto a pessoa humana tem direito à vida desde a sua concepção até à morte natural (também não admito por conseguinte a eutanásia). Perante o reparo de que há, por causa da penalização, muitos abortos clandestinos, respondi que na minha opinião continuará a haver abortos clandestinos mesmo com uma eventual despenalização.

Confesso que sinto muito o drama das mulheres que recorrem ao aborto e que, para além do sofrimento físico, psicológico e moral, têm de enfrentar o estigma da condenação e eventualmente da cadeia (E manifestei-o na entrevista).

Nada tendo que opor ao regulamento jurídico vigente nem ao comportamento dos profissionais da justiça, mas confesso (e confessei) que não gostaria de ser juiz para aplicar tais penalidades. E de facto não sou juiz mas, nada tenho que dizer da justiça, do cumprimento das leis e da aplicação das penas, me sinto melhor, como homem e como bispo, na minha missão de passar a mensagem da compaixão, do perdão e da paz. E é por isso que me sinto em plena comunhão e sintonia com a Igreja, a sua doutrina e os meus irmãos na fé.

Sei que as minhas palavras, avivadas pelo texto do jornal e pelo sentido que se lhes quis dar, provocaram reacções de censura e até de repúdio, de uma parte, e também, de outra parte, elogios, felicitações e até alguma exaltação. Compreender-se-á a perplexidade e até o embaraço que sinto, por verificar que fui espelho da situação social do país a este respeito. Não renego por isso mesmo aqueles que se excederam na precipitação e nas apreciações que me chegaram às mãos ou que foram publicadas.

Resta-me acentuar a minha fidelidade à Igreja e a minha compreensão e simpatia por todos os cidadãos do meu país, mulheres e homens. E também o meu respeito pelos diversos modos de pensar. É no respeito e na tolerância que se baseia a nossa comum cidadania e a nossa desejável fraternidade.

Porto e Paço Episcopal, 17 de Dezembro de 2003

(D. Armindo Lopes Coelho, Bispo do Porto)


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