paroquias.org
 

Notícias






O Natal está mal, mas recomenda-se
2003-12-09 22:44:23

Agência ECCLESIA – Os símbolos e as decorações natalícias chegaram esta ano ainda mais cedo, quase que se diria a destempo. Não o choca esta situação?
Micael Pereira – Sim e não. Sim, porque parte desses sinais estão associados a mitos que não fazem grande sentido, histórias de publicidade que apostam sobretudo na criatividade como se esta fosse o único valor. Lá serem bizarros são...
Esta situação provoca uma dispersão, perverte o sentido do Natal mesmo para um comerciante, tal é a degradação. Assim, a festa chega cedo e, sobretudo, chega mal.


AE – E o lado positivo desta antecipação?
MP – Julgo que é extremamente importante o que se está a passar em termos de iluminações, de suportes decorativos, porque estão a criar em termos públicos o “tempo” do Natal, um tempo longo que pode corresponder, por exemplo, ao Advento embora não tenha uma demarcação litúrgica.
Quer sob o ponto de vista cristão, quer sob o ponto de vista humano, tem muito sentido a criação destes “tempos”, dos quais apenas existem o Natal e as férias. Aliás, perante esta manifesta insuficiência não estou a ver nenhuma entidade que tenha capacidade de criar “tempos” – uma vida alternativa, um ambiente diferente que não passe apenas pelo comércio.

AE – Nem a Igreja?
MP - Em termos cristãos a Igreja precisa, mais uma vez, de cristianizar e aproveitar a visibilidade do Natal para reforçar a sua mensagem e perceber a sensibilidade actual.
Há vertentes do Natal que podem ser aproximadas de Cristo, mas que fazem sentido para as pessoas de hoje sem referência a Cristo. São vectores humanos cristianizáveis, por assim dizer.

AE – É curioso, contudo, que a festa de Natal tenha perdido parte significativa do seu conteúdo religioso?
MP – Perdeu e não foi por acaso. Eu julgo que houve campanhas ideológicas bastantes importantes, primeiro falando da família, depois a outros títulos, cujo fim era destruir a festa do Natal. Estas coisas não se corrompem espontaneamente e é preciso ter em conta que a situação actual tem muito a ver com campanhas laicas.
Hoje isso desapareceu e há campanhas “patetas”, com mitos sem sentido: compreenderá que uma garrafa com chifres de rena não é propriamente uma proposta muito profunda, nem sequer lúdica, é um bocado louco.

AE – Apesar de tudo, é possível vislumbrar nas pessoas a necessidade de uma festa com valores positivos?
MP – Em todas as épocas houve festas a comemorar as grandes referências, o ano tem de ser pontuado por esses momentos. O Natal está na cidade a ser uma festa da luz, por exemplo, como nunca foi, por causa das iluminações, e seria necessário passar da luz aos presépios, à música, à iconografia, estimulando as autoridades locais a fazê-lo, com benefício para todos.
Uma outra simbologia é a passagem da compra obsessiva à permuta: fazer apelo à solidariedade, às relações familiares, os ritos de escolher a prenda para aquela pessoa precisa – mesmo os que estão mais distantes, o que fica claro no trabalho que temos para escolher algo para eles.
Tudo isto tem contrapartidas, como a compra compulsiva e a imposição de objectos de moda, um lado não agradável que não me leva, contudo, a ver o Natal apenas como consumismo.

AE – Continua a acreditar, portanto, que é possível recolocar Jesus Cristo no centro da celebração natalícia?
MP – Eu penso que sim, desde que não tentemos remar demasiadamente contra a maré e evitemos denúncias moralistas que não fazem nada. É preciso conhecer quais são os símbolos actuais, que correspondem às necessidades actuais, e tentar reencaminhá-los para o grande símbolo que é o nascimento do Homem-Deus, o seu despojamento.

AE – Seria preciso que os cristãos evitem dizer que o Natal é todos os dias, então?
MP – Precisamos de variação ao longo do ano e uma das boas maneiras de derreter o Natal é dizer que ele acontece todos os dias ou que a sua comemoração é indiferente. Uma atitude dessas, por parte dos cristãos, é suicidária.

Fonte Ecclesia

voltar

Enviar a um amigo

Imprimir notícia