paroquias.org
 

Notícias






À PROCURA DA PALAVRA: FIÉIS DEFUNTOS
2003-10-30 21:00:18

“As coisas visíveis são passageiras,
ao passo que as invisíveis são eternas”.
2 Cor 4, 13

O outro lado

Não sei do que nos lembramos daqueles nove meses em que fomos crescendo na barriga das nossas mães. Penso é que, se nos perguntassem se queríamos sair, logo diríamos “não!”, porque o desconhecido assusta e o calor e o amor da mãe bastavam para a nossa felicidade.


Em algumas manhãs dos novembros chuvosos e frios que não apetece enfrentar, até o vale dos lençóis reproduz um pouco esse mundo acolhedor. Mesmo que nos contassem maravilhas deste mundo tão feito para nós, da beleza das cores, dos sons, dos malmequeres e do azul do céu e do mar, não sei se trocaríamos a “casinha” segura onde tudo nos era dado com o estado de “sem-abrigo” em que nos iríamos tornar! Mas não nos perguntaram nada e, também porque estávamos grandes demais, chegou a hora de deixar o nosso universo, a nossa comodidade, para passar para o outro lado, o lado da luz, que enfrentámos com um berro de choro!
Ainda que o começo não tenha sido muito agradável fomo-nos adaptando espantosamente a este novo ambiente, felizes pelo sabor das coisas e sorridentes com as luzes e sons que povoam a nossas vida. Aqui vamos construindo história, criando raízes nos lugares e nas pessoas, enriquecendo a memória com volumes e volumes de experiências que nenhuma biblioteca poderá conter. Não queremos pensar que um dia teremos de passar a um novo estado. E como será possível que tudo aquilo que é belo e bom se perca, como se fossem coisas insignificantes? Poderá a nossa memória ser como as fotografias dos japoneses, que dizem poder reproduzir todas as obras de arte do mundo se um cataclismo as destruísse? Se as coisas visíveis são passageiras, porque deixam no nosso coração este rasto de eternidade?
Algumas vezes ponho-me a refilar com Deus: que Ele não pode simplesmente “deitar fora” o espanto da literatura, o encanto da música, a beleza da pintura, a maravilha do cinema. Somos pessoas com tudo isso e muito mais! E abro-me à surpresa desse outro lado, em que Deus leva a uma plenitude inimaginável toda a beleza que já aqui começámos, apenas, a vislumbrar. E não faz isso sozinho, mas connosco, num dinamismo também indescritível, mas nada comparável à nossa “balbúrdia” de multidões.
O pouco que sabemos dessa nova etapa é dito por Jesus. Fala-nos do Pai que nos ama e que tem um abraço para nós. Diz-nos que somos uma família de irmãos. O resto, como será a nova casa e que luz aí brilhará, não sabemos. Vá lá, já sabemos um bocadinho mais do que da primeira vez! Nas flores que vão inundar os cemitérios neste mês possamos ver os sorrisos daqueles que já estão na Vida!

P. Vítor Gonçalves


voltar

Enviar a um amigo

Imprimir notícia