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Igreja Acusada de Proclamar Que o Preservativo Não Evita a Transmissão da Sida 2003-10-12 08:19:18 Os preservativos deixam passar os espermatozóides e o vírus da sida. Foi isto que disse à BBC o cardeal Alfonso Lopez Trujillo, presidente do Pontifício Conselho para a Família. As polémicas declarações foram incluídas num documentário que amanhã será transmitido na estação britânica. Mas as reacções à notícia de tal posição não se fizeram esperar.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que afirmações erróneas como estas são "um perigo". E ontem mesmo deu uma conferência de imprensa, em Genebra. "Quem quer que afirme que o preservativo masculino não protege contra a sida está a dizer uma falsidade", declarou a porta-voz, Fadéla Chaib, citada pela AFP.
Recordou que os estudos da OMS sustentam que em 90 por cento dos casos os preservativos são eficazes na luta contra a propagação do vírus da imunodeficiência humana (HIV) e que quando não o são é porque foram indevidamente utilizados.
O cardeal Trujillo, que ocupa uma posição importante no Vaticano, sustentou as suas afirmações declarando que os espermatozóides, bem como o vírus, "atravessam facilmente a rede formada pelos preservativos". E considerou que os que defendem que aquele método de contracepção é uma barreira eficaz "estão enganados".
A OMS garante, por seu lado, que pode haver rompimento de preservativos, mas que estes não têm "buracos" que os tornam permeáveis. "Estas afirmações são perigosas quando estamos a enfrentar uma pandemia global que já matou mais de 20 milhões de pessoas e afecta 42 milhões", acrescenta. Em todo o mundo, um jovem é infectado em cada 14 segundos.
Trujillo é "um alto irresponsável"
Em Portugal, a associação Abraço diz que Lopez Trujillo é "um alto irresponsável". "Perante a situação que estamos a viver actualmente, alguém que venha questionar os dados científicos que existem em relação ao preservativo é de uma irresponsabilidade enorme, está a cometer um verdadeiro genocídio", sustenta a médica Maria José Campos, da associação.
Mas a julgar pela informação disponibilizada na BBC "on-line", o "Sexo e a Santa Sé" - o nome do documentário que o programa "Panorama" do primeiro canal emitirá no domingo por volta das 22.15h - tem mais razões para alimentar a contestação.
Revela, por exemplo, que há membros do clero, em diferentes países, a dizer às populações que os preservativos contêm buracos através dos quais o vírus passa. Há imagens de uma freira a aconselhar um director de coro seropositivo a não utilizar preservativo com a mulher. E há quem garanta, no Quénia, que alguns padres têm dito às pessoas "que os preservativos estão contaminados com o HIV".
O programa conjunto das Nações Unidas sobre o HIV/sida fala de "desinformação". "As afirmações são totalmente incorrectas. Os preservativos de latex são impermeáveis e previnem a transmissão do vírus", afirmou Catherine Hankins, da ONU/sida.
O "Sexo e a Santa Sé" foi gravado em quatro continentes com o objectivo de retratar o impacto - na vida das pessoas - da doutrina do Papa sobre sexo. Os seus autores prometem, no "site" da BBC "on-line", mostrar por que é que o Papa "é acusado pelos seus opositores de ter arruinado tantas vidas".
Recorde-se que o Vaticano opõe-se aos métodos de contracepção como o preservativo e defende uma mudança de hábitos sexuais. Algo que em África, o continente mais afectado pela sida, tem tido diferentes leituras, como mostra um artigo ontem difundido pela AFP.
O arcebispo de Nairobi, no Quénia (país onde 20 por cento da população está infectada) afirma que a sida se tem disseminado tão depressa porque há preservativos disponíveis. "Nós não defendemos o preservativo e fazemos campanha contra ele", diz por seu lado a o arcebispo de Lagos, na Nigéria.
"O preservativo facilita a libertinagem sexual e não é uma garantia a 100 por cento", aponta o arcebispo de Kumais, no Gana. Já Alexandre Mbengue, abade senegalês, admite que em certos casos "é melhor utilizar um meio artificial que transmitir a morte". No Gabão, a Igreja Católica abstém-se de condenar a utilização do preservativo, assegura o padre Jean Kazadi, coordenador da associação das conferências episcopais da região da África Central.
Fonte Público
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