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Uma festa grande para a Igreja
2001-02-23 22:54:22

A Praça de São Pedro alindou-se, para um dos seus melhores dias. A azáfama já começara de véspera, com os cerimoniários do Vaticano a simularem as diversas fases da paraliturgia do consistório de ontem, para a criação de 44 cardeais

Ao alto da escadaria, foi colocado o trono papal, no qual João Paulo II presidiu à reunião, de 130 minutos. À sua direita, tomaram lugar 108 cardeais. Do lado oposto, 44 cadeiras vazias estavam prontas para serem ocupadas pelos novos presbíteros do Papa. Os investidos sentaram-se, primeiro, em duas filas de 22 cadeiras, alinhadas ao centro da escadaria. Imediatamente atrás destes, tomaram lugar as delegações oficiais, à direita, e centenas de bispos e familiares dos novos cardeais, à esquerda. Na vasta esplanada da praça, sentaram-se outros familiares e convidados.

O consistório começou com a nomeação dos 44 novos cardeais por João Paulo II, que referiu o título atribuído a cada um. Em nome de todos, o cardeal Giovanni Ré agradeceu a distinção que o Papa acabara de lhes conferir.

Na mancha de púrpura das duas filas de cadeiras alinhadas, três figuras havia que não usavam o tradicional hábito coral dos cardeais. Refiro-me ao patriarca emérito de Antioquia, sua beatitude Ignace I Daoud; ao arcebispo de Lviv, Ucrânia, D. Lubomyr Husar, e ao patriarca de Alexandria, sua beatitude Stéphanos II Gattas. O primeiro e o terceiro, do rito ortodoxo, usavam as vestes negras, o segundo, do rito copta, envergava o traje vermelho. Entre os novos purpurados, destaque-se ainda a figura do padre americano Avery Dulles, o único que ainda não é bispo. Trata-se de um sacerdote convertido do protestantismo, com uma verdadeira história familiar: é filho do antigo secretário de Estado Dulles, Presidente Eisenhower e bisneto do Presidente Wilson e do fundador da CIA. Nos sexto e trigésimo quarto lugares, respectivamente, por ordem da criação, estavam os cardeais portugueses: D. José Saraiva Martins, feito cardeal-diácono com a Diaconia de Nossa Senhora do Sagrado Coração, na Piazza Navona, exactamente onde foi ordenado presbítero pelo então vice-gerente da diocese de Roma, D. Ettore Cunial, em 16 de Março de 1957, e D. José Policarpo, feito cardeal-presbítero, a quem foi atribuído o título de Santo António in Campo Marzio (zona onde se situa a Igreja de Santo António dos Portugueses, em Roma). A falar português, registem-se, ainda, os novos cardeais de São Salvador da Baía, D. Geraldo Agnelo, e o de São Paulo, D. Cláudio Hummes. Originário da comunidade portuguesa da Venezuela é o novo cardeal de Caracas, D. Ignacio Antonio García.

Para reflexão de todos, foram cantados excertos da I Carta de Pedro, 5, 1-11, e do Evangelho segundo São Marcos, 10, 32-45. No final, o Papa proferiu a homilia.

Ao dirigir-se directamente aos novos purpurados, num dia de "festa grande para a Igreja Universal", em que criou os primeiros cardeais deste novo milénio, João Paulo II pediu-lhes que "soltassem as velas", para levarem a mensagem da Igreja ao mundo, atentos aos "sinais dos tempos" e abertos "ao diálogo com todas as pessoas e em toda a instância social". Os novos cardeais foram exortados a irradiarem a esperança, que transportam no coração, diante de um mundo que está a tornar-se "mais complexo e dinâmico", porquanto "a atenta consciência dos problemas existentes cria ou aumenta contradições e desequilíbrios". O Papa acentuou as "enormes potencialidades do progresso científico e técnico, como também o fenómeno da globalização, que se abre cada dia mais a campos novos", circunstâncias e razões que, disse, "nos pedem que estejamos abertos ao diálogo com cada pessoa e em todo o âmbito social".

Os novos cardeais ergueram-se, para recitarem o Credo e, assim, professarem a fé, prestando em seguida o juramento. Depois, um a um, acercaram-se do Papa, para receberem o solidéu, o barrete cardinalício que a si próprios impuseram, e a bula da criação, em que se regista a ordem e o título cardinalícios de que foram investidos.

Nessa altura, os peregrinos dos países originários dos novos purpurados erguiam-se, em aplauso. Recebido o barrete, os novos cardeais cumprimentaram os seus pares mais antigos e foram tomar o lugar ao lado do Papa. E o consistório encerrou-se com a oração dos fiéis, a recitação do Pai-Nosso e a bênção final do Papa.

As delegações de peregrinos começaram a debandar e a concentrar-se em locais predeterminados, para o almoço. Com o grupo de portugueses, fui encontrar o bispo português da igreja Anglicana, D. Fernando Soares, em amena cavaqueira com D. Januário Torgal Ferreira. Os anglicanos estão a fazer um curso de ecumenismo em Roma e uma das "disciplinas" era exactamente assistirem e estudarem o consistório. Pergunto a D. Fernando se o ecumenismo vai bem. Responde-me prontamente: "O diálogo entre as cúpulas é óptimo, mas ao nível da base temos muitos problemas." Sinais dos tempos?

À nossa volta, o burburinho é grande. A Praça de São Pedro fica vazia. Nos restaurantes em redor do Vaticano, a festa ainda continua.

P. S. - Em muitos casos, a comunicação social portuguesa manifesta a sua incompetência ou ignora factos importantes do universo religioso, em geral, ou do catolicismo. Não é, por exemplo, obrigatório que a presidência de uma conferência episcopal dê acesso ao cardinalato.

Aliás, como afirma o cardeal Dom José Saraiva Martins, "há conferências episcopais que contam com cardeais no seu seio e cujo presidente não é cardeal".

Fonte DN

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