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FRATERNIDADE NA TRAGÉDIA: A URGÊNCIA DA ESPERANÇA
2003-08-06 19:48:18

1. Perante a tragédia dos incêndios florestais, que além das perdas materiais, sacrificaram vidas humanas e geraram para milhares de pessoas grandes sofrimentos, a Presidência da Conferência Episcopal Portuguesa vem manifestar a todos os que sofrem a sua solidariedade e solicitude fraterna. Muito se tem dito e escrito, nos últimos dias, a propósito deste drama. Não é nosso intuito sermos apenas mais uma voz, a juntar a todas as outras. Não é competência nossa analisarmos causas, políticas e estratégias; o que nos faz falar é apenas a profunda comunhão com todos os que sofrem, manifestando-lhes o vigor do nosso amor fraterno, fazendo da nossa solidariedade um apoio para a esperança e para a coragem.

Sentimo-nos particularmente unidos às dioceses mais atingidas, aos seus bispos, sacerdotes e fiéis, juntando a nossa oração à sua, implorando de Deus o dom da coragem e da confiança.

Perante tanto sofrimento, o momento é de unidade de todos, cidadãos e estruturas, para fazer face ao imediato do sofrimento. Apelamos à solidariedade de todos os católicos de Portugal, na partilha fraterna, no acolhimento solidário, na presença amiga e consoladora. Sabemos que a Caritas Portuguesa e as Caritas diocesanas estão já a dinamizar-se, pois a elas compete organizar e coordenar as manifestações de solidariedade e de fazer chegar a quem sofre, o fruto da nossa partilha. Fá-lo-emos em coordenação com as estruturas do Estado e de todas as entidades mobilizadas para a solidariedade.


2. Uma palavra de gratidão e apreço é devida aos milhares de bombeiros que, em circunstâncias do género, nos dão sempre o exemplo de uma abnegação sem limites. Muitas das associações de bombeiros são, em Portugal, uma das mais significativas expressões do voluntariado organizado. Queremos exprimir-lhe, também nós, a gratidão de todos os portugueses. Que as proporções dramáticas dos incêndios levem toda a sociedade, a começar pelo Estado, a apoiarem estes servidores do bem colectivo, apetrechando-os progressivamente de meios e estruturas adequadas, e proporcionando-lhes uma formação à altura das tarefas que lhes são pedidas em favor das populações.


3. Os incêndios florestais constituem um alerta muito sério para a maneira como tratamos e estimamos a natureza, criação de Deus, meio essencial para o desenvolvimento harmónico da pessoa humana. Há aqui, como noutros capítulos da vida do homem em sociedade, uma dimensão cultural, base e fundamento de uma responsabilidade ética e social. A natureza é para ser usada pelo homem, mas não pode ser desfrutada e desrespeitada. Uma cultura de valorização e respeito pela natureza faz parte da cultura que inspira a dignidade da pessoa humana. Também neste campo se verificam egoísmos e interesses individualistas, que podem estar nas causas dos dramas.

Há certamente, margem para novas políticas de estruturação e defesa das florestas. Mas nada substitui a responsabilidade pessoal e o apreço de cada um por um bem que é de todos. Neste esforço por criar uma nova atitude cultural, inspiradora de uma responsabilidade ética, todos devem participar e a Igreja não recusa o seu papel específico. O respeito e o apreço pela criação faz parte constitutiva da fé cristã. O Deus, a quem chamamos Pai e que nos salvou em Jesus Cristo é o mesmo que continuamente embeleza a nossa vida com o dom da criação.
Possa Ele trazer o dom da consolação a todos os que, nestes dias, sofrem a angústia, o susto e o abandono.

Lisboa, 6 de Agosto de 2003

D. José Policarpo
Cardeal-Patriarca de Lisboa
Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa

Fonte Ecclesia

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