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Mulheres Debatem Ordenação e Maior Participação nas Estruturas Religiosas
2003-08-06 19:39:38

O 2º Sínodo Europeu de Mulheres tem início hoje, na Universidade Autónoma de Barcelona (Espanha) e prolonga-se até ao próximo domingo.

A iniciativa, que congrega mais de mil participantes de várias confissões religiosas e também outras interessadas em discutir o papel da mulher na sociedade, pretende debater a forma como as "distintas religiões e tradições espirituais podem formar e transformar a vida quotidiana numa Europa multicultural".

Apesar de não ser o prato forte da agenda, o acesso das mulheres ao sacerdócio na Igreja Católica não deixará de estar presente nos debates, até porque são promovidos pela associação internacional Sínodo Europeu de Mulheres e por outras organizações católicas que se têm empenhado no assunto.

Julieta Dias, freira católica das Religiosas do Sagrado Coração de Maria, é uma das duas portuguesas que participam no encontro. Mas não coincide com algumas das orientações das organizadoras. Desde logo, na própria concepção de um encontro só para mulheres. "Que as mulheres se juntem e discutam, acho bem, embora eu prefira mais as coisas em comum, pois também não desejaria que agora passasse a haver uma Igreja só de mulheres."

O sínodo propõe-se impulsionar acções em favor do diálogo inter-religioso e intercultural, numa Europa em que crescem fenómenos como o anti-semitismo e o anti-islamismo. Aliás, a iniciativa assume como essencial a relação entre a espiritualidade e a política. Antje Röckemann, presidente da associação internacional Sínodo Europeu de Mulheres, diz que a ideia da reunião é a de um "movimento de mulheres que partilham a visão de uma espiritualidade relacionada com a política" e que pretendem "participar na formação da Europa".

Sobre o acesso das mulheres ao sacerdócio, tema que mereceu largas referências nas conclusões do primeiro sínodo, realizado na Áustria em 1996, Julieta Dias pensa que o enfoque da questão é quase sempre mal colocado. A ordenação sacerdotal, diz, deveria ser revista "no sentido de não ser sacerdotal mas ministerial". Uma concepção que assenta mais na ideia de um serviço à comunidade do que numa noção sacralizada da função do padre, mais próxima de algumas igrejas protestantes? "Aparentemente sim", diz a irmã Julieta. Mas, "na prática, em muitas igrejas protestantes o ministério dos pastores também é muito clericalizado".

Igualdade no acesso aos sacramentos

Julieta Dias pensa que o problema é essencialmente de ordem cultural: "Sou 100 por cento feminista e dou a cara pela igualdade das mulheres no acesso a todos os sacramentos. Não quero ser padre, mas gostaria de ser ordenada para exercer um qualquer ministério. E é por afirmar isso que sou incompreendida, mesmo por algumas mulheres." Mesmo no caso dos homens, acrescenta, o sacramento da ordem deveria ser revisto.

Quanto à origem do cristianismo e à tradição, Julieta Dias não tem dúvidas: "Jesus escolheu homens e mulheres para andarem com ele; as mulheres é que anunciaram primeiro a ressurreição e os primeiros passos para a organização da Igreja foram dados por mulheres, que também estiveram à frente de comunidades, tal como os homens."

A transformação veio depois, com Santo Irineu e Tertuliano que, no século II, passaram a defender a marginalização da mulher. "Toda a gente perdia" com as mulheres em lugares de autoridade, defendiam, pois "a mulher é indigna de exercer qualquer serviço".

Estas ideias foram-se difundindo até serem assumidas plenamente pelas comunidades cristãs no século IV, recorda a irmã Julieta. A par com o que se passava na sociedade, que também olhava a mulher apenas como "fazedora de filhos e doméstica", a situação levou à secundarização do sexo feminino.

Para esta religiosa nem sequer servem os argumentos de que "as mulheres já fazem muita coisa na Igreja" ou que o tema pode ser deixado à inspiração divina. "As mulheres fazem muita coisa, mas se discordam" dos padres ou de quem manda são muitas vezes marginalizadas. E remeter o assunto para Deus é não querer tomar posição sobre o assunto.

Julieta Dias confia que a atitude da Igreja Católica mudará. Mas antes disso será reconhecida a possibilidade de os padres poderem casar, diz. "Pode ser o primeiro passo para se perceber que na Igreja de Cristo qualquer pessoa é adequada para ser ministro de Deus, ao contrário da mentalidade subconsciente que hoje domina."

Fonte Público

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