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Católicos e Protestantes pela Primeira Vez Juntos em Jornada Ecuménica
2003-05-29 09:54:04

Uma grande feira religiosa com encontros, debates, concertos, actividades culturais, leituras bíblicas e onde não faltam mais de 1000 quiosques espalhados pelo centro de Berlim onde os mais diversos grupos cristãos - incluindo de homossexuais - se apresentam aos mais de 130 mil participantes inscritos e 200 mil visitantes esperados (só ontem, chegaram a Berlim 1600 autocarros e 16 comboios especiais).

É este o ambiente da Jornada Ecuménica das Igrejas, que ontem foi inaugurada na capital alemã, onde decorre até domingo. E que este ano, pela primeira vez, é organizada em conjunto por católicos e protestantes.

Não falta a pitada de polémica inter-confessional neste encontro. Com a publicação da encíclica sobre a eucaristia, na Páscoa, o Papa veio dizer que não deve haver confusão com a comunhão: os católicos devem comungar nas missas católicas e não na santa ceia protestante. Na Alemanha, o texto de João Paulo II foi visto como dirigido especificamente para a realidade da Igreja Católica naquele país: habituados há muito a conviver em conjunto, católicos e protestantes entendem que a separação deve ser superada também ao nível do sacramento da missa. A maioria dos teólogos (católicos e protestantes), alguns padres e bispos e muitos outros cristãos pensam que a eucaristia também deve ser um factor de construção da comunhão. Por isso, vão ao ponto de não se opor a que católicos participem nas celebrações da ceia protestante (o equivalente da missa católica) e vice-versa.

Esse fenómeno, chamado inter-comunhão na gíria religiosa, "acontece diariamente de facto, embora 'de jure' seja um tema tabu", explica ao PÚBLICO Joaquim Nunes, português, assistente pastoral [espécie de funcionário superior, que colabora com o pároco] numa paróquia de Frankfurt.

Para domingo próximo, aliás, o quase interdito da encíclica do Papa teve consequências: a grande celebração final do "Ökumenischer Kirchentag", no próximo domingo, às 14h00, limitar-se-à a uma celebração de oração, em que usarão da palavra os presidentes da Conferência Episcopal Alemã, cardeal Karl Lehmann, bispo de Mainz, e do Conselho Central da Igreja Luterana, Manfred Koch. Desde que se começou a organizar proximamente o encontro, o lado católico não aceitou a possibilidade de uma missa/ceia conjunta, já por se recear a reacção do Vaticano.

Para contrariar essa orientação da hierarquia, e em paralelo, 500 padres católicos e 500 pastores protestantes juntar-se-ão numa outra celebração, em que está prevista a inter-comunhão - com os participantes a poderem comungar sem distinção. O mesmo acontecerá em duas paróquias de Berlim - uma católica, outra protestante - que se convidaram mutuamente para celebrações em que a inter-comunhão acontecerá.

Bizantinices? O problema é que, para a doutrina oficial católica, a eucaristia é um sinal visível da comunhão entre as pessoas. Ora, se essa comunhão não existe formalmente entre as diferentes igrejas cristãs, não se pode celebrar a missa em conjunto - muito menos comungar, o acto principal da celebração da missa. Para muitos alemães, sobretudo do lado católico, a encíclica do Papa veio assim provocar alguma frustração. O próprio cardeal Lehmann, conhecido por ter posições em matéria de diálogo ecuménico ou de questões morais não coincidentes com as do Vaticano, afirmou, em reacção à encíclica, que ela "só desilude num primeiro momento", ajudando a reflectir nestas questões - uma forma de confessar que esperava mais.

Fonte Público

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