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Igreja Assinala Dia das Vocações com Quebra no Número de Seminaristas
2003-05-11 20:17:16

A Igreja Católica assinala hoje o Dia Mundial de Oração pelas Vocações ainda com números de crise: na última década, em Portugal, baixou de 1363 para 686 o número de seminaristas, incluindo-se aqui os alunos do 2º ciclo do ensino básico até ao nível superior do curso de Teologia.

No que respeita apenas aos seminaristas "maiores" (alunos do curso de Teologia, que estão já a preparar-se para a ordenação), a quebra foi de 434 para 340. Apesar destes números - que não incluem os dados das congregações e ordens religiosas, mas cuja realidade é semelhante -, o cónego Álvaro Mancilha, 44 anos, secretário da Comissão Episcopal do Clero, Seminários e Vocações (CECSV), encara com "esperança" o futuro, tendo em conta alguns "sinais de mudança" que existem.

"Sentimos um renascer. O que aconteceu ainda no passado fim-de-semana em Madrid, com o Papa, é significativo. Como é que um velho débil atrai aqueles jovens?", afirma. Mas será isso sinal de que os mais novos se deixam seduzir também pelos apelos de João Paulo II? "Jesus Cristo também acabou sozinho na cruz e esse foi o maior falhanço", responde Álvaro Mancilha. "A realidade não está sujeita a esquemas e estratégias humanas, temos que acreditar que Deus também vai conduzindo a História e as transformações demoram muito tempo."

Certo é que a evolução dos números das 20 dioceses portuguesas teve uma melhoria na primeira metade da década de 90: em 1992-93 havia 434 alunos de Teologia em todo o país; no ano seguinte, aumentaram para 444, depois para 469. A partir de 1995-96, foi sempre a descer, de 438 até 342 - menos uma centena, em seis anos lectivos. No ano lectivo de 2001-02 volta a subir para 362, baixando de novo este ano para 340.

E o pior é que olhando para os números que poderiam contrariar esta descida - os dos 2º e 3º ciclos do ensino básico e do ensino secundário - a tendência de quebra mantém-se. No nível secundário, por exemplo, os seminaristas portugueses passaram de 357 em 1992-93 para 171 no corrente ano lectivo.

O que pode abrir uma brecha de optimismo nestes dados é o chamado pré-seminário. Esta instituição funciona basicamente com actividades específicas de integração e preparação dos jovens que manifestam interesse em ser padre - mas continuam a frequentar os estudos nas escolas onde andavam antes. No caso dos alunos do secundário, o número de "pré-seminaristas" subiu de 42 para 143 nestes 11 anos lectivos considerados. No nível universitário, o aumento foi de 0 para 34.

No total do pré-seminário, há também uma pequena quebra (para a qual contribuem sobretudo os alunos do 2º ciclo do ensino básico, com idades entre os 10 e os 12 anos): no período considerado, passou de 658 para 623. O maior número foi no ano 1998-99, com um total de 932 alunos. Somando o total de seminaristas e pré-seminaristas, o número passou de 2021 há uma década para 1309 no presente ano lectivo.

Significa isto que o modelo de formação dos seminários contribui para um maior afastamento dos jovens da vocação sacerdotal? "A inserção dos seminaristas nas paróquias procura fazer com que eles olhem para todas as realidades", responde Álvaro Mancilha. Da sua experiência pessoal de passagem pelo seminário, o secretário da CECSV diz que não sentiu que o seminário impossibilitasse outras experiências.

Também o estilo de vida - a maior parte dos padres vivem sozinhos, muitas vezes esgotados entre missas e funerais, reuniões e múltiplas actividades - pode estar em jogo. "Não podemos negar que, se os jovens se confrontam com um estilo de vida por vezes exausto", tenham receio de adoptar a ideia do sacerdócio, diz o padre Mancilha, que é também director espiritual do Seminário Maior do Porto.

A hipótese de os padres viverem em pequenas comunidades responsáveis por várias paróquias, que tem sido levantada em encontros e fóruns do clero nos últimos anos, pode ser um caminho para ajudar a ultrapassar o problema, admite Álvaro Mancilha. "Mas é preciso conjugar a liberdade de cada um com essas possibilidades", afirma. "Há coisas que não se fazem por decreto."

E a disciplina do celibato? Não será um obstáculo a que muitos se decidam por ser padre? O secretário da comissão episcopal diz que não; o problema está no "egoísmo" e em algumas "concepções sobre a sexualidade" que hoje dominam. "O celibato continua a ser um grande valor e um testemunho", afirma, no sentido de "viver a gratuidade", embora actualmente "a sociedade não aponte para este caminho."

Fonte Público

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