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O lugar de Fátima no catolicismo em Portugal
2003-05-10 21:14:15

O reitor do Santuário de Fátima, Pe. Luciano Guerra, recorda que a vida da Igreja Católica, em Portugal, tem quase dois milénios de história e não se limita ao que aconteceu em Fátima.

Agência ECCLESIA - O catolicismo português pode ser qualificado de "peregrinante" por causa da influência de Fátima?
Pe. Luciano Guerra - Fátima é realmente uma referência contemporânea e há acontecimentos que marcam a vida dos católicos portugueses, como as vindas do Papa, mas não creio que seja Fátima a grande referência da vida católica em Portugal.
Há muitos peregrinos que vêm cá repetidamente, mas a vida da Igreja em Portugal faz-se pela vida paroquial. Fátima não é uma referência verdadeiramente essencial.

AE - No opúsculo sobre o Ano do Rosário publicado pela Conferência Episcopal Portuguesa afirma-se que "o caminho da santidade, em Portugal, tem um nome: Maria." Até que ponto é que a vivência dos acontecimentos de Fátima é responsável por este facto?
LG - Tenho a noção de que hoje em dia os cristãos ligam mais o Rosário a Fátima do que anteriormente, mas estou convencido de que já antes se rezava muito o terço em Portugal. É normal que, tendo sido essa a recomendação mais acentuada de Nossa Senhora, Fátima exerça ainda hoje uma acção de persuasão sobre os peregrinos.
O influxo do Santuário, portanto, é importante, mas não é essencial. Entendo que devemos desmistificar a ideia que os não-praticantes têm sobre Fátima: a referência fundamental para os Católicos em Portugal é a Sagrada Escritura, são as posições do Magistério. Fátima é um acidente importante na história da Igreja em Portugal e na história da Igreja Universal.
Este acidente aconteceu no séc. XX e a Igreja Católica tinha já várias centenas de anos de Tradição e de vivência, é importante notar isso.

AE - A peregrinação a Fátima não peca por ser entendida desde um ponto de vista excessivamente individualista?
LG - Isso acontece com aqueles que só vêem em Fátima o lado utilitário; há mesmo quem não consiga ver mais do que o aspecto económico, por exemplo.
Quem pensar assim, pensa em termos individualistas, mas não podemos esquecer que à volta dessa pessoa há outras, 5, 10, 20 ou 100 mil a participar num acto comunitário. Quem olha para as coisas de longe temos de simplificar e isso acontece a propósito de Fátima. É um preconceito que veda às pessoas a possibilidade de apreender uma realidade rica, complexa e espiritual.

AE - Porque é que essa riqueza não se consegue levar de volta para as comunidades paroquiais em tantos casos?
LG - Há um trabalho de fundo que é preciso fazer hoje em dia na Igreja a respeito das dificuldades derivantes do excesso de individualismo. Há uma dificuldade imensa em perceber a vida comunitária; há pouca capacidade de fazer comunidade e não podemos esperar que Fátima opere esse milagre. Até porque só quem tiver Fé pode ver Fátima como uma Graça.
Estou convencido, porém, que algumas pessoas se sentem impulsionadas para a vida da Igreja, aqui no Santuário.

Fonte Ecclesia

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