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ONZE VEZES A PALAVRA PAZ
2003-05-05 19:15:11

A homilia de canonização colectiva realizada ontem na Plaza Colón foi o único discurso em que João Paulo II não pronunciou a palavra 'paz".
Nas restantes três declarações feitas em solo espanhol ao longo dos últimos dois dias, o Papa usou onze vezes o vocábulo.


Pelo meio utilizou ainda repetidamente palavras como 'pacífico' ou 'pacificador', numa clara intenção de linguagem.

"A recordação destes dias transformar-se-á numa oração, pedindo para vós a paz em fraterna convivência", terminou o Papa no último discurso em terras espanholas, quando se despedia da multidão reunida em Madrid.

Como tributo a este empenho Papal na instauração da paz ao redor do Mundo – do Médio Oriente ao próprio interior das fronteiras espanholas –, o arcebispo de Barcelona pediu ontem a atribuição ao Santo Padre do Prémio Nobel da Paz deste ano, a designar em Outubro.

"Seria um belo gesto para a pessoa de João Paulo II que recebesse o Nobel da Paz", disse Ricardo María Carles, numa entrevista concedida ao diário 'La Razón'. O lançamento do nome do Papa para o Nobel não é inédito nem de resultados fáceis.

Oriundos de países tradicionalmente protestantes (Suécia e Noruega), os prémios são ainda bastante influenciados por irmandades de sensibilidade laica, entre as quais a Maçonaria.

Mas o activismo pacifista em que João Paulo II se envolveu nos últimos meses, assim como a globalização das manifestações populares contra a guerra no Iraque, podem torná-lo num candidato a ter em conta.

ROUCO VARELA BRILHA NA HIERARQUIA CATÓLICA

Antonio María Rouco Varela, cardeal-arcebispo de Madrid, parece ver reforçada a sua importância na hierarquia católica após a quinta viagem de João Paulo II a Espanha. O líder da Igreja espanhola foi alvo de um agradecimento especial e personalizado do Papa e recebeu da parte da Comunicação Social, durante todo o fim-de-semana, os maiores elogios à sua postura séria e determinada. O editorial do diário 'ABC' de ontem foi mesmo escrito por si.

Ontem, ao despedir-se de João Paulo II, Rouco Varela até se permitiu um gesto de alegria como raramente se lhe vê. "Queremos ser suas testemunhas!", disse ao Papa, em referência ao 'slogan' da visita ('Sereis Minhas Testemunhas'). "Obrigado do mais fundo da alma por ter vindo de novo a Espanha", acrescentou, emocionado. Entusiasmadas, algumas rádios espanholas já falavam ontem na possibilidade de uma chegada de Rouco a Papa. A sucessão de João Paulo II é disputada há algum tempo por diversas facções da Igreja e tal nomeação não seria fácil. Mas, por outro lado, Espanha, um dos países católicos mais importantes do Mundo, já não tem um Papa há cinco séculos.

AZNAR PODE RESISTIR

Uma sondagem realizada ainda antes da visita de João Paulo II, mas quando a expectativa da chegada do Papa já fazia sentir-se em toda a Espanha, dá ao Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) 40 por cento das intenções de voto, contra 37 por cento do Partido Popular (PP). A diminuta vantagem dos socialistas faz Jose María Aznar, líder do PP, respirar de alívio.

Depois da inabilidade revelada antes, durante e depois da tragédia do 'Prestige' e do apoio manifestado à intervenção militar anglo-americana no Iraque, o primeiro-ministro parecia ter razões para temer uma derrota nas eleições municipais e autonómicas de 25 de Maio.

Mas o eleitorado, que se manifestou de forma maciça contra a sua actuação em ambas as situações, começa a perdoá-lo.

A sondagem foi publicada no diário 'La Vanguardia', no mesmo dia em que os jornais surgiam inundados com fotos de Aznar reunindo toda a família à volta de João Paulo II e curvando-se com veneração para beijar-lhe a mão. Jose Luis Rodríguez Zapatero, líder da Oposição, também se reuniu pessoalmente com o Papa, mas não conseguiu capitalizar a situação - a ponto de, quando subiu ao palco das celebrações da Plaza Colón, ter sido vaiado por populares que o acusavam de ateísmo e o desafiavam a rezar o terço. E, a um ano das eleições gerais, Jose María Aznar parece agora ter tempo para desfazer a ligeira desvantagem que tem - embora não haja ainda certezas sobre a sua recandidatura a primeiro-ministro.

"Os socialistas erram se crêem que o triunfo já é seu", dizia o editorial do "La Vanguardia".

A política marcou de forma indelével toda a visita do Papa a Espanha. João Paulo II não se referiu ao Iraque mas, para além dos sucessivos apelos à paz, pediu o fim do "nacionalismo exacerbado" - que atinge Espanha nas regiões do País Basco e da Catalunha -, e recusou mesmo reunir-se com responsáveis políticos (e dirigentes religiosos com actividade política) de simpatias separatistas.

NACIONALISMO EXACERBADO

As críticas de João Paulo II ao "nacionalismo exacerbado" foram ontem o grande destaque na cobertura da quinta viagem do Papa a Espanha feita pelos jornais locais. Alguns transcreviam os discursos completos, destacando essas passagens mais até do que a própria condenação da guerra.

CONTAS

Mais de 12,5 milhões de euros de lucro (dois milhões e meio de contos) foi quanto rendeu à Igreja espanhola a organização desta 99ª viagem pastoral de João Paulo II. A visita custou cerca de dois milhões de euros, mas os ingressos de 590 mil dos quase 700 mil jovens presentes na base aérea de Quatro Vientos (preço entre 10 a 30 euros), no sábado, e os bilhetes cobrados às 35 mil pessoas sentadas na Plaza Colón (20 a 40 euros), ontem, renderam entre 12,5 e 15 milhões de euros, segundo os cálculos da rádio espanhola ‘Cadena Ser’. Por calcular ficam ainda os vários patrocínios, de valor não divulgado, e a colecta organizada no final da cerimónia de ontem.

Fonte CM

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