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Fundador da "Família Cristã" É Hoje Beatificado pelo Papa
2003-04-27 09:56:30

O Papa João Paulo II proclama hoje seis novos beatos, entre os quais o padre Tiago Alberione, fundador da revista "Famiglia Cristiana", a revista europeia com maior tiragem - um milhão de exemplares por semana - e de congregações religiosas que se dedicam a trabalhar com os meios de comunicação social.

Nascido em 1884, na região de Alba (noroeste de Itália), Alberione quis dedicar-se, desde o início da sua vida de padre, a um campo de actividade cuja importância a Igreja Católica só viria a reconhecer décadas mais tarde, em pleno Concílio Vaticano II (1062-65).

Por causa da sua capacidade de antecipar o futuro, não faltaram a Alberione "muitas incompreensões", como diz ao PÚBLICO o actual director da edição portuguesa da "Família Cristã", padre José Carlos Nunes. A primeira coisa que o padre Alberione quis imprimir foi a Bíblia. Na época, a autoridade católica, ainda em reflexo da Reforma protestante de Lutero, olhava de soslaio para a possibilidade de os cristãos lerem o texto sagrado e poderem interpretá-lo à sua maneira. O fundador da Sociedade de São Paulo viu-se assim confrontado com a interdição papal de imprimir bíblias e acabou por só conseguir fazê-lo já depois da morte de Pio X, o Papa que condenou o modernismo.

A escolha do campo de actividade de Alberione correspondia à realidade que o próprio já verificava em 1950 e que se acentuaria nas décadas seguintes: "Hoje, o mundo em geral, a juventude e a classe dirigente recebem todos os dias outras doutrinas, ouvem outras teorias na rádio, assistem a qualquer espectáculo de cinema, viram-se para a televisão, para o mais amoral ou imoral. O sacerdote prega a poucos fiéis espalhados por igrejas quase vazias em muitos locais."

"É a parábola da ovelha perdida ao contrário", comenta José Carlos Nunes, 31 anos, director da "Família Cristã" há dois anos. "Há 99 pessoas lá fora e resta uma dentro da igreja", diz, aludindo à história do evangelho. Para contrariar o cenário que então já se apresentava à Igreja, Alberione sugeria "uma viragem radical de mentalidade e de método pastoral". Ou seja, utilizar os meios de comunicação, os "mais eficazes para comunicar o pensamento".

Quinto de sete filhos de uma família de agricultores, Giacomo Alberione conta na sua autobiografia que quis desde cedo dedicar a sua vida ao sacerdócio. Ordenado padre em Junho de 1907, o bispo de Alba pede-lhe, sete anos depois, que assuma a direcção da "Gazeta d'Alba", o jornal da diocese. A partir daí, o seu destino ficou indelevelmente ligado à comunicação social. De início, compra máquinas e cria uma escola tipográfica, em 1927 funda a Sociedade de São Paulo, o primeiro instituto religioso dedicado ao trabalho com meios de comunicação. Logo no ano seguinte, correspondendo à ideia de associar também mulheres ao mesmo objectivo, cria a Pia Sociedade Filhas de São Paulo.

A ideia de Alberione era que os "paulistas" - nome pelo qual passam a ser conhecidos os membros do instituto - assumissem todas as tarefas necessárias: tipógrafos, distribuidores, jornalistas, escritores, produtores, realizadores, administradores ou contabilistas. No início, era assim que acontecia, com um "exército de apóstolos", como o próprio dizia, para assegurar o trabalho editorial. O próprio Alberione chegou a dirigir vários filmes de ficção inspirados em temas religiosos - como uma versão de "Sansão e Dalila". Hoje, a quebra de vocações faz com que seja necessário recorrer aos leigos para assegurar muitas tarefas especializadas. A redacção da "Famiglia Cristiana", por exemplo, é assegurada por vários jornalistas profissionais.

No início, condicionado pela linguagem da época, Tiago Alberione falava da "boa imprensa". Também aqui, a sua ideia muda com a evolução dos tempos: passa a falar do "apostolado da edição", depois do "apostolado das edições" e, finalmente, do "apostolado das comunicações". Quando morre, a 26 de Novembro de 1971, ainda não se falava de Internet, nem de CD-ROM, nem de DVD. Tudo isso seria assumido pelos seus herdeiros espirituais.

A beatificação de Alberioni, esta manhã em Roma, pode ainda ser lida, diz o padre José Carlos Nunes, como uma reconciliação entre o Vaticano e os paulistas. Há seis anos, textos publicados na "Famiglia Cristiana", sobre alguns temas sensíveis como a homossexualidade ou o pluralismo teológico, foram o pretexto para uma intervenção do Vaticano na cúpula do instituto e da revista mais lida de Itália. Com a beatificação, os espíritos parecem estar mais pacificados.

Fonte Público

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