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"Celebrar a Páscoa com amor"
2003-04-14 22:19:59

Homilia do Domingo de Ramos
Sé Patriarcal, 13 de Abril de 2003

1. A Páscoa é um mistério de fé e de amor. A densidade da Páscoa é a densidade do amor; antes de mais do amor infinito de Deus por nós, manifestado no sacrifício do seu próprio Filho.


Aceitar o sacrifício do próprio Filho por causa dos outros só pode significar a intensidade dramática do amor de Deus por nós. Do amor de Jesus Cristo pelo Pai, na Sua piedade e obediência filiais, encarnando no Seu coração humano a intensidade do amor de Deus por nós. Do amor daqueles que amam Jesus, O acompanham, sem desfalecer, no itinerário doloroso da paixão, vencem todos os medos e vão até ao Calvário onde permanecem em adoração silenciosa. A paixão de Jesus é um drama de amor; foi importante que Jesus se sentisse amado, no momento em que morre por amor, ainda que não tenham sido muitos os que mantiveram a sua fidelidade até ao fim. Uns fugiram, Pedro negou-O, a multidão mudou de campo. Entre esses fiéis ao amor a Jesus, até ao fim, avulta Maria, a Mãe, cujo coração acolhe o sentido daquele drama.

Jesus mostra claramente que gosta desse amor, num momento tão exigente da Sua vida. A cena narrada por São Marcos de uma mulher anónima, que derrama um frasco de perfume sobre a cabeça do Senhor é disso sinal. A narração sublinha o muito amor daquela mulher: a qualidade preciosa do perfume, alabastro; a quantidade e a totalidade. Parte o frasco, porque quer que ele seja todo para o Senhor. Esta abundância significa, num gesto, a intensidade de amor pela pessoa do Senhor. Perante as críticas dos circunstantes, Jesus defende-a. O sentido dado àquele perfume, por aquela mulher, é mais profundo do que uma esmola dada aos pobres. Ele é bálsamo de amor, no momento da Sua paixão: "embalsamou, de antemão, o Meu corpo para a sepultura". Este gesto de amor foi de tal maneira precioso para Jesus, que toca o essencial do Evangelho como boa-nova de salvação: "Onde quer que, pelo mundo inteiro, se proclamar a Boa-Nova, dir-se-á também o que ela fez, para sua memória". Talvez esta mulher anónima, com a sua intensidade de amor, estivesse entre o número daqueles que ficaram aos pés da Cruz de Jesus.
Um outro sinal de que Jesus desejava ser amado pelos seus, naquela hora, é a sua mágoa manifestada por encontrar os Apóstolos a dormir, num momento em que a Sua alma está angustiada até à morte: "Depois voltou, encontrou-os a dormir e disse a Pedro: Simão, estás a dormir? Não pudeste vigiar uma hora?".

Esta ânsia de ser amado continua viva, no coração de Cristo, mesmo depois da Sua ressurreição, em cada Páscoa da Igreja. Até porque ao fazer-nos participantes do Seu triunfo pascal, comunicou-nos o Seu Espírito, Espírito de amor que nos torna mais capazes de amar. Jesus comunica-nos o Espírito para que O amemos mais, mais intensamente e não O deixemos sozinho, em nenhuma Páscoa celebrada, até que Ele venha. Cada Páscoa da Igreja, cada Eucaristia celebrada, é a festa das núpcias do Cordeiro, a alegria do amor esponsal entre Cristo e a Igreja.

2. Essa é a diferença qualitativa da nossa Páscoa e da primeira Páscoa de Jesus: hoje Ele pode e espera ser muito mais profundamente amado por todos quantos celebram com Ele a Páscoa. A Páscoa é uma celebração de amor. Ele deseja ser ungido pelo perfume do nosso coração convertido, odor de caridade que será bálsamo para as feridas do mundo. Nesta Páscoa temos de Lhe entregar o ardor do nosso desejo, a humildade da nossa confiança, o júbilo do nosso louvor.

Queremos segui-Lo como discípulos, com os ouvidos bem abertos à Sua Palavra, para que nenhuma se perca sem dar fruto a cem por um. Temos de Lhe dar a alegria de, em Seu Nome, derramar o bálsamo do Seu amor sobre todos os homens que sofrem, que ainda O não sabem amar, nem são capazes de se deixar amar. Mistério de amor, cada Páscoa deve ser uma irradiação de amor, porque toda a evangelização é um testemunho pascal.
Na medida em que a Igreja viver da Páscoa, ela será mais o fermento de uma civilização do amor, em que todos os homens são irmãos, em que a escuta dá lugar ao diálogo e este se revela como o único caminho para a paz. A Páscoa deste ano é ensanguentada pelos horrores da guerra. Quanto sofrimento escusado e inútil! A reacção da Igreja só pode ser a de se unir profundamente ao seu Senhor, numa aliança de amor. Só esse amor abraçará e transformará o mundo. Por tudo isso, a Páscoa deste ano é, talvez, mais exigente do que as outras. Não é verdade que, perante os horrores da guerra, nós não podemos fazer nada. Podemos amar, amar mais, acompanhando essa nova paixão de Cristo, expressa no sofrimento dos nossos irmãos. O Senhor quer ser mais amado nesta Páscoa, porque amando-o a Ele, abraçamos o mundo.

Esse é o Seu triunfo, de que nos fala o Apóstolo Paulo na Carta aos Filipenses: "Deus O exaltou e Lhe deu o Nome, que está acima de todos os nomes". O Seu Nome é o Santo Nome de Deus; e Deus é Vida e é Amor. Que nesta Páscoa brote do fundo no nosso coração esse desejo: "Que toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para Glória de Deus Pai".

† JOSÉ, Cardeal-Patriarca

Fonte Ecclesia

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