paroquias.org
 

Notícias






Caminhos da Quaresma à Páscoa: O TEMPO DA NOVIDADE
2003-03-04 06:04:48

Para todos nós
que estamos tão habituados a tudo,
ao amor, à fé e à solidariedade,
a Deus e aos outros
e que já nada nos surpreende: Quaresma!

Para todos nós
que pensamos saber tudo
e não ter mais nada a receber
porque já demos a volta
a todas as coisas: Quaresma!

Para todos nós
que estabelecemos o catálogo
das pessoas a amar
e das pessoas a desprezar: Quaresma!

Para todos nós
que fizemos a lista dos gestos a fazer,
dos ritos a executar
e das palavras a pronunciar
para se ser um cristão de bom tom: Quaresma!

Para todos nós
que andamos à deriva: Quaresma!

Cristo vem tirar a nossa existência
do desgaste e da desordem!

Com ele, num caminho de 40 dias,
o Evangelho ressoa como uma palavra nova,
uma nova que quebra
as rotinas dos nossos comportamentos.

Nele, num caminho de 40 dias,
aparece-nos o rosto de Deus
e também o rosto
que o homem é chamado a revestir.

Por ele, num caminho de 40 dias,
cria-se uma relação entre Deus e nós,
toda ela marcada pela aliança.

Graças a ele, num caminho de 40 dias,
o amor de Deus revela-se
à nossa admiração.

Ao fim de 40 dias,
é preciso contar com isso,
tudo é renovado.
Não poderemos voltar a viver de outro modo
senão pondo em prática
o que Cristo, nosso irmão quotidiano,
nos terá ensinado
pela sua vida, pela sua morte, pelo seu amor.

De facto, o caminho dos 40 dias
marca o início da Ressurreição,
pois começa para nós
o nosso segundo nascimento!


1ª SEMANA DA QUARESMA

PALAVRA NOVA

Uma Boa Nova,
um pouco como um ar novo,
uma música que vem despertar outras melodias,
quais reencontros que alteram
a ordem dos encontros,
e esperam, em nós, uma palavra para partir.

Uma Boa Nova, um pouco como um sonho,
aquele que trazemos no mais profundo de nós,
no mais secreto do coração,
e que vemos de repente desabrochar-se,
revestindo-se de palavras, de ritmos, de música.

Uma Boa Nova, um pouco como uma palavra,
aquela que vem quebrar o andamento dos hábitos,
sacudir os nossos hábitos de rotina.
Uma palavra de tal modo nova,
de tal modo surpreendente,
que o próprio inverno se veste de primavera.

Uma Boa Nova, um pouco como um amor,
como uma passagem do balbuciar à palavra,
da palavra aos actos.
Uma Boa Nova que não fica no céu,
mas que na terra se torna projecto,
acção, rosto.



2ª SEMANA DA QUARESMA

ROSTO NOVO

De que me serve contemplar o rosto de Deus
se não me admiro com o rosto dos meus irmãos?
Na verdade há, à minha volta,
a multidão dos rostos de Deus,
rosto de alegria e rosto de sofrimento,
rosto de infância e rosto de rugas,
rosto de transparência e rosto de paz,
rosto de tristeza e rosto de esperança.

Por muito auscultar o coração de Deus,
esquecemos as palpitações da nossa humanidade.
Por estudar demasiado os sinais de Deus
na ciência e na física celeste,
desviamos os nossos olhares
dos rostos de cada dia.

Há uma nova maneira
de olhar o rosto dos outros:
procurar neles a expressão do rosto de Deus.



3ª SEMANA DA QUARESMA

RELAÇÃO NOVA

Alguns contam
que entre Deus e os homens
tudo é questão de domínio e poder:
Deus está no alto, os homens estão em baixo,
Deus dá as ordens, os homens executam!

Outros divulgam ideias de comércio
entre Deus e os homens:
Deus é sensível aos sacrifícios,
os mais sofríveis se possível,
e para atrair a sua atenção
é preciso apresentar-lhe dinheiro ou oração.
Como se se pudesse comprar Deus!

Outros pregam que entre Deus e os homens
tudo se passa como no tribunal:
Ele é o Juiz Soberano
e é melhor evitar o menor erro!

Jesus vem e chama a Deus: Pai!
Tudo o que eles contam, divulgam e pregam
é atirado à poeira e derrubado.
Com Jesus Cristo,
doravante entre Deus e os homens
tudo é questão, para sempre e unicamente,
de amor filial e de aliança estreita
e de ternura nos braços eternamente abertos!



4ª SEMANA DA QUARESMA

OBRA NOVA

"Tudo é velho!" diz-se às vezes
para constatar, com o Eclesiastes desiludido:
"Não há nada de novo debaixo do sol".
Constatação depois de uma longa vida de regozijo?
Mas tudo isso provoca
secura, desencorajamento, falta de empenho...

Como é encorajador e revigorador
o anúncio de Isaías:
"Vou criar novos céus
e uma nova terra
e não nos lembraremos mais do passado
que não subirá mais ao coração..."

E o Apocalipse anuncia a sua realização:
"Eis que faço o universo novo..."

Estas palavras são comprometedoras,
porque este mundo novo
não é somente uma promessa de futuro,
começou na manhã de Páscoa.

Pelo baptismo, cada um de nós
participa desde já
neste dinamismo que trabalha,
como um fermento irresistível,
o velho mundo.



5ª SEMANA DA QUARESMA

VIDA NOVA

Ir, no seguimento de Cristo
e em comunhão com Ele,
até ao fim da confiança em Deus,
apesar das dúvidas e dos sofrimentos,

é acolher a eternidade numa vida cheia de mortes,
e vislumbrar, apesar dos insucessos e dos medos,
a vida nova e o mundo novo
em que nada, nem as lágrimas nem o pecado,
nos poderá separar do amor de Deus.

Ir, no seguimento de Cristo
e em comunhão com Ele,
até ao fim do amor e do dom de si,
na certeza de que o perdão e a reconciliação
podem vencer os ódios, a desconfiança e a exclusão,
que a solidariedade e a partilha podem ultrapassar
as barreiras dos egoísmos e das injustiças que se enfrentam,

é, apesar de todas as mortes que nos ameaçam,
acolher na nossa vida o Reino de Deus
que torna todas as coisas novas,
e abrir a este mundo que morre
dos seus ódios antigos
o caminho duma vida nova no amor
vivido em actos e em verdade.

SEMANA SANTA

AMOR NOVO

Cristo entra em casa dos pobres
e em casa de todos os outros
que moram na face da terra,
a fim de que todos possam ver, no meio deles,
a presença viva de Deus.

Cristo dá-se aos famintos de justiça
e de direito e a todos os outros
que procuram levantar-se com dignidade,
a fim de que todos possam saborear
a partilha concreta de Deus.

Cristo abre os braços
aos doentes de sida e a todos os outros
que estão presos na solidão
e mergulhados no sofrimento,
a fim de que todos possam sentir, junto deles,
a compaixão de Deus.

Cristo desce com os prisioneiros da morte
e quebra as suas amarras
a fim de que todos possam passar
à vida de Deus.

Com Cristo, surge um amor novo
em que só conta
o outro a salvar!

PÁSCOA

NOVO DIA

Aurora do inaudito, irrupção do impossível:
no coração das trevas jorra a luz,
das profundezas da morte surge a vida!
o Crucificado ressuscitou!

Nova manhã do mundo,
nova criação!
Deus diz: Não temais!
E o que ele diz acontece:
aqueles que o Vivo chama
põem-se de pé para caminhar juntos,
para além de todas as angústias,
de todos os insucessos e de todas as mortes,
rumo ao novo dia de uma humanidade reconciliada.

Deus diz: A paz esteja convosco.
E o que Ele diz acontece:
aqueles que Cristo atrai a si
tornam-se verdadeiramente irmãos e irmãs,
para além de todas as fronteiras
do ódio e da injustiça,
para além de todas as barreiras de raça,
de cultura, de religião,
para serem juntos
neste mundo da fatalidade e da morte,
o sinal de uma graça e de uma liberdade
selando para sempre a falência do inevitável.

DEPOIS DA PÁSCOA

ENTRADA NUM POVO NOVO

Durante 40 dias
fizemos o caminho rumo à Páscoa.
Concretamente, pudemos participar
na revitalização pascal do Povo de Deus.

As nossas celebrações, com efeito,
não são comédias nem encenações,
elas não nos levam a fazer "como se",
mas a participar - aqui e agora -
na grande obra de construção e
de realização de um mundo novo.

Isso começou com o nosso baptismo.
Foi há muito tempo para muitos de nós,
E, sobretudo, aconteceu sem a nossa presença consciente.

Mas, em cada noite de Páscoa,
não propõe a Igreja "reactualizar" a nossa caminhada,
retomar consciência do acto inaudito
que se passou então com Deus?

Numa época em que o individualismo sobressai,
é bom e salutar sentir-se POVO.
Povo pesado e pecador talvez,
mas povo que vai adiante,
seguro da presença do Ressuscitado no seu meio.


Adaptado de "Chemins de Pâques 1994"
pelo P. Manuel Joaquim Gomes Barbosa

Fonte Ecclesia

voltar

Enviar a um amigo

Imprimir notícia