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Homilia da missa de encerramento do Centenário do Nascimento de S. Josemaría Escrivá
2003-01-12 12:31:11

O brilho da estrela que há cento e um anos se acendeu em Barbastro (Espanha) ainda não parou de brilhar. Antes, pelo contrário, se foi tornando cada vez mais intenso. É por isso que hoje nos reunimos aqui para dar graças a Deus, que, pela voz do Sucessor de Pedro, nos aponta o brilho dessa estrela como caminho seguro que conduz até à plenitude da vida e ao encontro de Deus, nosso Pai.

Na verdade, S. Josemaría, desde a infância começou a viver maravilhado pela ideia da filiação divina, certeza que, mais tarde, a fé gravou no seu coração a letras de fogo e fez dele um apaixonado pela santidade na oração, no trabalho e no apostolado exercido tanto na paróquia e nos bairros pobres como nos hospitais e no ambiente universitário.
Foi também a partir dessa ideia central que ele deu vida à Obra da qual se serviu para congregar colaboradores e propor a todos quantos dele se abeiravam um caminho de santidade. Já que, ao contrário do que alguns pensam erradamente, a santidade não é privilégio de quem usa trajo clerical ou hábito religioso nem de quem pertence a uma qualquer instituição. A santidade é uma proposta acessível a todos e concretiza-se, para cada um, no viver em Deus a vida que lhe é própria, como disse S. Josemaría: «ser santo não é fácil mas tão pouco é difícil. Ser santo é ser bom cristão: parecer-se com Cristo».
Como Cristo em Nazaré assumir o trabalho de cada dia, conscientes de que dessa forma se cumpre a missão que Deus confiou a cada homem e a cada mulher de «cultivar e guardar» o jardim desta terra, preservando-lhe a finalidade e aperfeiçoando-o, como nos foi proclamado na primeira leitura. Visto nesta perspectiva, o trabalho quotidiano, feito com perfeição e com persistência, é um autêntico caminho de santidade. Por ele se concretiza «o chamamento universal à santidade» de que nos fala o Concílio Vaticano II, na sequência da palavra da Sagrada Escritura, dirigida a todos: «sede santos como o vosso Pai celeste é santo».
Desde as mais simples e humildes até às mais árduas e sublimes, «as tarefa profissionais são testemunho da dignidade da criatura humana; ocasião de desenvolvimento da própria personalidade; vínculo de união com os outros; fonte de recursos; meio de contribuição para a melhoria da sociedade em que vivemos e de fomentar o progresso da humanidade inteira. Para o cristão o trabalho, assumido por Cristo, como realidade redimida e redentora, converte-se em meio e caminho de santidade, em concreta tarefa santificável e santificadora» (Forja,702)
Podemos dizer que a santidade se alcança pelo cumprimento da própria missão, não por coacção, como escravos, mas por amor, como filhos de Deus, nosso Pai, que em Cristo nos concedeu a graça de sermos membros da Sua família e nos constituiu herdeiros da glória celeste, como escreveu S. Paulo aos Romanos. A vida de santidade é vida de união com Deus pela oração e pelo compromisso com a transformação do mundo, segundo o modelo de justiça, de verdade, de paz e de amor que nos propõe Jesus Cristo.
Para isso, precisamos de romper as amarras que nos fecham no nosso pequeno mundo, povoado de egoísmos e de mesquinhos interesses individualistas, e alargar o nosso horizonte de acção, lançando-nos na aventura do apostolado por uma sociedade mais justa, uma cultura mais humana, uma família mais estável e uma juventude com ideais mais elevados. É o Mestre quem no-lo pede: «faz-te ao largo e lançai as redes». Pedro, pescador exímio, estava desalentado com o fraco resultado da sua técnica, ainda que associada a uma longa experiência. Mas porque acreditou na palavra do Mestre, lançou a rede e ficou maravilhado com a inesperada abundância de peixe. Assim acontece com todos aqueles que ouvem a palavra e a põem em prática. E S. Josemaría é um exemplo luminoso, ao alcance dos nossos olhos. Porque acreditou na palavra de Jesus e a pôs em prática na sua vida de sacerdote, Deus fez dele «um pescador de homens». A Obra por ele fundada, três anos após a sua ordenação sacerdotal, é uma rede imensa, resistente e bem constituída. Através dela, muitos milhares de pessoas entraram e continuam a entrar na barca da Igreja, testemunhando com as suas vidas a veracidade das palavras de Jesus.
Hoje reunimo-nos para dar graças a Deus pelo dom maravilhoso que concedeu à Igreja na pessoa e nas obras deste seu filho que nos é apresentado como novo modelo de vida cristã, numa sociedade cada vez mais secularizada e cada vez mais carenciada de respostas para os problemas fundamentais da existência. E, ao mesmo tempo, vimos pedir a Deus, por sua intercessão, que todos os seus seguidores tomem como dirigidas a eles as palavras de Jesus : «não temais».
Vós que algum dia vos encontrasses com essa alma de eleição que é S. Josemaría, se, como Pedro vos sentis pecadores e incapazes de levar a cabo a missão que Deus vos confia no mundo e na Igreja, confiai nas palavras de Jesus e não vos detenhais. Avançai sempre. Não vos deixeis vencer pelo medo nem pelo temor. Contra o medo, pensai na palavra de Jesus: «eu venci o mundo». Contra o temor, tende em conta que o temor é apenas o princípio da sabedoria. A plenitude encontra-se no amor. E no amor, como nos diz S. João, não há temor. Onde há amor aí está Deus.
Sede audazes na acção. Não tenhais medo, nem vos assustes, nem vos assombres, nem vos deixeis levar pela falsa prudência. Como S. Josemaría, recomeçai sempre com o entusiasmo e com a frescura da manhã.

Lisboa, 9.01.03
+ José Alves, Bispo Auxiliar de Lisboa

Fonte Ecclesia

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