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Factos para a História da Igreja em Portugal em 2002
2003-01-01 12:08:44

Chega hoje ao fim mais um ano. Para a História ficam factos e figuras que serão lembrados pelas gerações futuras, quando olharem para a Igreja em Portugal no ano de 2002.


Carlos Azevedo, especialista em História da Igreja e actual vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa ressalva que “na história da Igreja o que de mais importante acontece não se sabe, porque é conversão na vida das pessoas, no segredo do coração”. Não obstante, na medida em que esse esforço se concretiza percebe-se uma acção da Igreja no seu conjunto que marca a vida da sociedade em que vive.
O maior evento eclesial de 2002 em Portugal, segundo este estudioso, foi o “Congresso Nacional da Família”, pela mobilização geral para uma iniciativa que chamasse a atenção “da necessidade urgente de uma pastoral familiar eficaz”, conseguindo-se que o Estado fosse pressionado para ter em atenção os valores familiares “na legislação, na economia e na educação”, salvaguardando e fomentando esta estrutura fundamental. Este congresso decorreu de 10 a 12 de Outubro, sob o tema “Família, faz-te ao largo!”.
A recepção ao recenseamento da prática dominical é algo de incontornável neste ano, porque “fez acordar muitas Dioceses para a realidade”, lembra este historiador. As jornadas de 19 e 20 de Junho dedicadas ao “Domingo e prática dominical”, realizadas pela CEP são o expoente máximo de um conjunto de reuniões, debates, apresentações, com padres, leigos e sociólogos, por todo o país. “Todo este esforço vai trazer mudanças”, conclui, “porque é preciso encarar de frente a realidade, pelo que a reflexão e impacto deste tema foi e será muitíssima”.
A nível editorial o ano foi muito produtivo, destaca Carlos Azevedo: “por um lado saiu o último volume da História Religiosa de Portugal, que ficará a marcar a historiografia portuguesa, e por outro lado começou a colecção de estudos teológicos por parte da Faculdade de Teologia da UCP, com mais de 30 volumes, que permitirá, pela primeira vez na história religiosa de Portugal, que autores portugueses escrevam tratados e livros de iniciação a toda a problemática das ciências religiosas”. Para além destes destaques, a publicação das biografias do Cardeal Cerejeira e de D. António Ferreira Gomes permitem avaliar muito positivamente a produção de estudos teológicos e históricos.
A acção da Igreja portuguesa no campo social e político fica marcado pela mobilização em torno da solidificação do processo de paz e promoção do desenvolvimento de Angola, com realce para a campanha “Fome em Angola, Urgência de caridade”, coordenada pela Cáritas portuguesa no mês de Outubro. Também o novo Timor-Leste mereceu iniciativas de várias Dioceses, o que demonstra, segundo Carlos Azevedo, que a Igreja em Portugal “não vive voltada só para si, mas é próxima das suas irmãs”.
Desde fora têm chegado os imigrantes e o ano foi muito marcado pelas polémicas em torno da nova legislação, da acção do Acime, e da não-assinatura de um pacto social sobre a imigração por parte do colectivo das associações católicas que trabalham com os imigrantes.
Aliás, o facto de 2002 ter trazido um novo Governo para Portugal conduziu à discussão de novas questões, sobretudo o problema do trabalho – que mereceu um documento da CEP, “o trabalho na sociedade em transformação”, de um impacto notável na sociedade portuguesa – com o que isso implica de mudanças legislativas. A reflexão da Igreja sobre o impacto dos problemas económicos na vida dos portugueses pecou, segundo Carlos Azevedo, por “falta de profundidade”, tendo faltado uma proposta de um estilo de vida renovado “a única solução possível para os problemas que afligem as pessoas, vincando a necessidade de uma grande partilha e austeridade de vida, com uma consciência mais viva da fraternidade”.
A mudança governamental obrigou ainda a negociações sobre o espaço da Igreja na RTP, com algumas indefinições e conflitos no mês de Março e, por enquanto, sem uma certeza absoluta do que será o futuro do programa “A Fé dos Homens” no canal da sociedade civil. Porque é por dever pastoral e direito social que o tema do religioso tem de estar incluído no serviço público de televisão.
O ano de 2002 ficou marcado pelos escândalos da pedofilia e os Bispos portugueses não deixaram de tomar uma posição firme, numa nota do conselho permanente da CEP publicada a 10 de Dezembro, onde se afirma a “condenação moral, clara e inevitável, sobre todos os actos de violência e ofensa à inocência das crianças”.
A Igreja em Portugal não se escondeu em 2002, reflectiu, olhou a realidade em volta, mobilizou-se para causas humanitárias, criticou e exigiu. Concluiu a revisão da Concordata, que será assinada em 2003, viu nascer dois novos Bispos auxiliares, defendeu o direito à Educação Moral Religiosa e Católica, foi ao encontro dos agentes que mudam a sociedade, na economia, na política, na cultura. O Balanço que fica deve ser positivo, mas os desafios que se apresentam em 2003 são muitos e de respeito.

Fonte Ecclesia

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