paroquias.org
 

Notícias






ANJO OLHA PELO DOURO
2002-12-27 12:12:23

Com inauguração marcada para o próximo dia 4 de Janeiro, o "Anjo de Portugal", como tem sido designado, não contará com a presença do Presidente da República. Jorge Sampaio foi convidado mas, nesse dia, está marcado o regresso de uma viagem ao Brasil.

Apesar deste contratempo esta é uma obra de grande dimensão e ainda maior significado. Segundo Horácio Moreira, presidente da associação de familiares, "ele representa uma aspiração que vemos concluída e serve de alento para todo o trabalho que queremos desenvolver em prol, não só das famílias, mas de toda a comunidade".

Com três elementos centrais, em que a escultura do Anjo surge como a mais visível, o monumento é composto por uma cripta, em que estão inscritos os nomes das 59 vítimas da tragédia, e um escadório, que liga a obra às margens do Rio Douro, onde durante mais de um mês, em Março de 2002, se desenvolveram as operações de resgate.

"Com este espaço encontrámos uma forma de eternizar o que aconteceu em Entre-os-Rios e de proporcionar aos familiares, principalmente aos que não recuperaram os corpos, um local de recolhimento e oração", refere Horácio Moreira. Depois da primeira obra em que se envolveram "de alma e coração", a associação que representa as famílias vai avançar em breve com um novo trabalho.

Tal como explica o presidente, "a ideia do fechar de um ciclo, em que deixamos um memorial aos mortos, é algo que queremos passar para toda a comunidade, ou seja, com isto estamos a mostrar que, a partir de agora, estamos a trabalhar em força com um único objectivo, ajudar os vivos".

Entre os projectos na calha encontra-se a construção de um complexo social, constituído por uma sede, um espaço comunitário e um centro de apoio para crianças em risco. "O terreno foi cedido pela autarquia de Castelo de Paiva, na freguesia de Raiva, e em breve surgirá um estudo prévio para o complexo", salienta o mesmo responsável.

"Um dos aspectos mais importantes, para além da sede, que terá uma sala museu, é a criação de um espaço único em todo o Vale de Sousa. Um centro para ajudar crianças abandonadas ou vítimas de maus tratos", frisa Horácio Moreira, e explica a importância do projecto: "Para todos nós, o que mais nos tocou foi a perda da vida de tantas crianças no acidente da ponte, daí que o objectivo é trabalhar com elas, porque são o nosso futuro".

Quanto a custo da obra não há previsões, mas “existem cerca de 100 mil euros, resultantes de donativos, o que não será suficiente”, refere.

SIMBOLISMO PROJECTA MEMORIAL

O "pai" do memorial às vítimas de Entre-os-Rios é o arquitecto portuense Henrique Coelho, que confidenciou ao CM o susto inicial que apanhou, quando foi contactado pela associação de familiares e pela autarquia de Castelo de Paiva, para conceber um monumento daquela envergadura.

Tal como refere, "depois do medo inicial, começou o frenesim e a responsabilidade de responder por tudo o que agora está à vista". A inspiração foi buscá-la ao rio, que "tinha de ser o denominador comum de toda a obra", e o apoio veio do escultor e amigo Laureano Ribatua, "que concebeu e executou a parte escultórica, o Anjo de Portugal, que é o marco mais impressionante do monumento".
"Tinha que pensar numa forma de simbolizar a relação entre o rio, a ponte e a tragédia, sem nunca esquecer o que realmente queríamos fazer no local, ou seja, um memorial às vítimas, algo que não é felizmente comum em Portugal", salienta.

A ligação ao rio é feita, não só pela vista obtida a partir do miradouro do Anjo, mas também pela longa escadaria que liga o interior do monumento a uma das margens. Para que o espaço de recolhimento "não se assemelhasse a um sarcófago", o arquitecto optou pela construção de uma cripta aberta, "que liberta as emoções e cujo elemento central e simples é um mural com os nomes de todas as vítimas".

Quanto ao Anjo de Portugal, inspirado no "Anjo Custódio" que era o protector dos marinheiros portugueses na época das Descobertas, Henrique Coelho diz que a escolha do escultor "foi perfeita". "É uma figura que não tem a ver apenas com religiosidade, é algo de universal que por todos é visto como um símbolo de protecção, de travessia (daí olhar para a ponte e para o rio) e de mudança", esclarece.

Outros pequenos pormenores do monumento, como o ramo de oliveira na mão do Anjo ou a pomba que repousa em frente, por cima de uma pala dourada, são explicados pelo criador como "coisas de um surrealista, no bom sentido, que gosta de proporcionar às pessoas uma hipótese de olharem para a obra e de a interpretarem por si".

OBRA ÚNICA EM PORTUGAL

Os trabalhos do monumento estiveram a cargo da Conduril, a empresa de construção civil que "aceitou o desafio de fazer uma obra diferente, não só em relação ao que normalmente são as suas áreas de actividades, mas algo de inovador em Portugal", segundo refere o arquitecto.

A construção da cripta "não foi fácil", como adianta Paulo Barcelos, o engenheiro responsável pela obra. "Quando iniciámos os trabalhos deparámos com um terreno difícil, de fracas fundações, daí que as obras se tenham atrasado. Só podíamos operar numa frente e sempre com redobradas medidas de segurança", salienta.

No decurso dos trabalhos esteve envolvida uma equipa de duas dezenas de pessoas, que concluíram o monumento em cerca de oito meses. Segundo o técnico, "a construção foi feita à base de betão branco, muito em voga desde a Expo 98, que é um material difícil e mais caro, mas que agrada muito aos arquitectos".

No total, o memorial de Entre-os-Rios foi feito com 800 metros cúbicos de betão, 80 toneladas de ferro e quatro mil metros de cofragens. O escadório é composto por 130 degraus, que descem cerca 30 metros até ao rio, enquanto a cripta, com uma área de 168 metros quadrados, tem um pé-direito (altura) de quase seis metros. O mais impressionante da obra é a escultura do Anjo, com 12 metros de altura e 12 toneladas de peso, que é, segundo o arquitecto Henrique Coelho, "a maior escultura moldada a bronze do País".

Fonte CM

voltar

Enviar a um amigo

Imprimir notícia