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TEXTOS DAS CONFERÊNCIAS DAS JORNADAS DO MMF
2002-11-21 22:17:25

Abertura Oficial das Jornadas do Movimento da Mensagem de Fátima

Salão do Bom Pastor, Centro Pastoral Paulo VI
Fátima, 21 de Novembro de 2002

«MARIA, SERVA E SENHORA – A MISSÃO”


"Quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o Seu Filho, nascido de uma Mulher"(Gal,4,4). Este breve texto paulino compendia as linhas mestras de toda a cristologia, que inclui a mariologia, a saber:
- o amor do Pai ,que procura o bem e a salvação dos seus filhos;
- a missão do Filho, que Se faz homem, para a todos redimir;
- o dom do Espírito Santo, que tinha tornado Maria "cheia de graça" e fez que ela gerasse o Redentor, "por obra do Espírito Santo";
- a maternidade de Maria, que nos dá o Salvador e é ícone da Sua Igreja.

Circunscrevendo-nos, nesta breve reflexão, à função maternal de Maria, tentaremos sublinhar três aspectos:
1. Mariologia da Serva e Senhora
2. Actos simbólicos da Serva e Senhora
3. Missão da Serva e Mensagem da Senhora.

I. A SERVA DO SENHOR E A SENHORA

Todos sabemos, quase de cor, o que narra S. Lucas sobre a anunciação e o nascimento de Jesus (Lc.l,16-38).
O mensageiro de Deus interrogou Maria, "uma virgem desposada com um homem chamado José" , e declarou-a “cheia de graça”, recomendando que não temesse, pois que "nada é impossível a Deus".
Devidamente informada e divinamente inspirada, Maria anuiu e respondeu: "Eis a serva do Senhor".
A palavra "serva" pode significar servitude, mas não é servidão, nem escravatura ou cativeiro. E aquela que se consagra para servir.
Maria de Nazaré entrega-se ao Senhor, quê "pôs os olhos na humildade da sua serva"(Lc.1,48).
A maneira de resumo, e em prosa rimada, poder íamos escrever:

Não sei que idade tinha/a Menina ou Senhora//
Sei que era jovenzinha/como no céu vive agora//
em eterna juventude/a mesma solicitude.
Andou três dias a pé/até chegar a Belém//.
Ao partir de Nazaré/já só pensava ser Mãe//.
São muitos os filhos seus/cá na terra e nos céus//.

Quanto se poderia desenvolver sobre o papel de Maria na obra da salvação é condensado por Paulo VI, que diz à cerca de Maria, serva do Senhor, desde a anunciação até à sua gloriosa assunção: “A vida da castíssima esposa de José (virgem no parto e depois do parto, como sempre acreditou e professou a Igreja Católica - LG 52,55,57, 59 e 63 - e como convinha àquela que era elevada à dignidade incomparável da maternidade divina) foi uma vida de tão perfeita comunhão com o Filho, que participou das mesmas alegrias, das mesmas dores, e dos mesmos triunfos. Depois que Jesus subiu ao céu, Maria permaneceu unida a Ele com amor ardentíssimo, enquanto cumpria fielmente a nova missão de Mãe espiritual do discípulo predilecto e da Igreja nascente. Pode então afirmar-se que toda a vida da humilde serva do Senhor, desde o momento em foi saudada pela anjo até à sua assunção em corpo e alma à glória celeste, foi uma vida de amoroso serviço” .
E Paulo VI (que também nos legou a exortação apostólica "Marialis Cultus" de 2 de Fevereiro 1974, lembrado e citado por João Paulo II, na Carta Apostólica "Rosarium Virginis Mariae" de 16 de Outubro 2002) diz-nos ainda na "Signum Magnum" um hino de louvor aos atributos de Maria: "Associando-nos, aos Evangelistas, aos Padres e Doutores da Igreja, que o Concílio Vaticano II recordou (LG), cheios de admiração contemplamos Maria, firme na fé, pronta na obediência, simples na humildade, exultante na liturgia ao Senhor, ardente na caridade, forte e constante no cumprimento da sua missão até ao holocausto de si mesma" (SM,6) .
Neste mesmo sentido de fidelidade e perseverança, o Concílio Vaticano II (LG 58) diz com ênfase e autoridade que a Virgem Maria "prosseguiu na peregrinação da fé, e conservou fielmente a sua união com o Filho até à cruz".
Mais um sextilha simples pretende resumir o percurso de Maria:

Desde o anjo Gabriel/à casa de S. João/
Maria foi sempre fiel/à sua consagração/.
um sim extraordinário/em Caná e no Calvário.

A Igreja teve sempre diligente cuidado em não exagerar a dulia mariana e sobretudo não endeusar a Senhora.Com toda a clareza ensina e repete que "um só é o Mediador entre Deus é os homens" (lTim.2,5-6). E O Concílio Vaticano II reafirma, com a força do seu magistério, que "a função materna de Maria para com os homens, de nenhum modo obscurece ou diminui a única mediação de Cristo, mas mostra e facilita a sua eficácia" (LG 60).
Maria sabe quem é e sabe Quem é o seu Filho. Ao declarar-se "Serva do Senhor" e ao ouvir der proclamada "cheia de graça" , Maria conscientemente entrega-se e consagra-se ao serviço do Redentor, Jesus Cristo, com Quem "participa, de maneira subordinada, na universalmidade da mediação do Redentor, único Mediador" (RM,40).


II. ACTOS SIMBÓLICOS DA SERVA E SENHORA

Se foi Maria que se declarou “Serva do Senhor”, foi a sua prima Isabel que, pouco depois, a proclamou Senhora e "bendita entre todas as mulheres"(Lc l, 42-45). Isabel, inspirada, pois "ficou cheia do Espírito Santo", testemunha, de forma interrogativa e laudatória: "E donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor?"
A Serva do Senhor é Mãe do Senhor. E grande Senhora. Não é deusa, mas é omnipotência suplicante!
A doutrina e a prática da Igreja profética e orante sempre apresentaram e veneraram Maria como "Mãe santíssima de Deus". Assim diz o Magistério conciliar: "Desde os tempos mais antigos a beata Virgem Maria é venerada com o título de Mãe de Deus; sobretudo depois do concílio de Éfeso, o culto do povo de Deus em relação a Maria cresceu admiravelmente em veneração e em amor, em invocação e em imitação, segundo as suas próprias palavras proféticas: todas as gerações me proclamarão bem-aventurada, porque grandes coisas fez em mim o Omnipotente! Este culto, de todo singular difere essencialmente do culto de adoração que é prestado ao Verbo Encarnado como ao Pai e ao Espírito Santo"(LG 66).
Maria é Senhora . É invocada com muitos títulos, desde Mãe de Deus e Mãe da Igreja, mas o mais frequente, em todas as línguas e culturas é de "Nossa Senhora", o que permite a cada um de nós dizer, de maneira filial e tão portuguesa: "a minha Nossa Senhora".
A singular nobreza desta Senhora reside no facto bíblico-dogmático de ser "Mãe do Filho de Deus, Filha Predilecta do Pai e Templo do Espirito Santo" (LG 53).Aí a fonte de todos os títulos e virtudes.
E como foi ela escolhida e predilecta? Toda a grandeza e todo o poder de Maria resultam e fluem da "insondável e livre vontade de Deus" ( MC 56).
Se folhearmos a vida na Bíblia, e se abrirmos o espírito ao Espírito, podemos ler um hino harmonioso de Serva e Senhora. Na infância de Jesus e na sua vida pública até ao Calvário e Ascensão (LG 57,58 e 61), vemos sempre Maria como "humilde serva do Senhor" e "Mãe do Divino Redentor".
A terna Mãe de Nazaré, é Mãe em todo o mundo. Diz o Concílio que continua a ser "nossa Mãe na ordem da graça" (LG 61).
No Céu, a solícita Mãe do Salvador exerce a sua missão salvífica, sem cessar . A intercessão dos anjos (CIC 3436) e dos santos (CIC 956,1434,2156 e 2683) é superada e mediada pela intercessão de Maria, que, na comunhão dos santos, presta “o mais alto serviço ao desígnio de Deus” (CIC2683) .
Mais uma vez podemos abrir as páginas do Vaticano II e ler: "Na verdade, Maria, assumida ao céu, não depôs a sua missão salvífica, antes, com a sua multiforme intercessão, continua a obter-nos os dons da salvação eterna" (LG 62) .
Este culto mariano, tão especial e misterioso, exaltado no concilio de Éfeso (451) baseia-se em S. Lucas (1,48). Está claramente no magistério e na vida da Igreja. É um culto de hiperdulia e "distingue-se essencialmente do culto de adoração (latria) que é prestado ao Verbo Encarnado, como ao Pai e ao Espírito Santo" (LG 66) .
Admitida a prerrogativa principal ou fontal de que Maria acreditou (Lc 1,45) e aceitou ser a Mãe do Salvador, por obra do Espírito Santo, todos os sentimentos genuinamente cristãos poderão ser atribuídos a Maria. Constam da tradição oral e escrita. Basta citar mais uma vez o Concílio, que resume: "Maria Virgem é invocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora, mediadora e Senhora do socorro, todavia tudo deve ser entendido de modo que na retire ou acrescente à dignidade e eficácia de Cristo, o único Mediador"(LG 62).
Maria foi inteiramente livre. Acreditou e quis ser Mãe. Por isso é o ícone mais perfeito da liberdade. Assim diz o Cardeal Ratzinger: "Aderindo a Deus de maneira perfeita. e toda orientada para Ele, Maria, pela sua fé ao lado do seu Filho, é o ícone ou a imagem mais perfeita da liberdade e da libertação do género humano e de todas as coisas. É para Maria que a Igreja (da qual Maria é Mãe e Modelo) deve olhar, a fim de compreender integralmente o significado da sua missão" .
Quer dizer que a missão de Maria é a missão da Igreja, e vice-versa.
De igual modo, a Mensagem de Maria é a Mensagem da Igreja. Tudo, pois, que vamos sintetizar sobre Maria Serva e Senhora, poderemos atribuir à Igreja, que está ao serviço e é Mãe.
São muitos os sinais bíblicos que identificam a Serva e Senhora.
Em Nazaré dialogou com o anjo, como Senhora; quis saber o quê e o como. De seguida entregou-se como Serva. Pouco mais tarde, quando a prima a elogiou, Maria apressa-se a dizer que "foi o Senhor que pôs os olhos na humildade da Sua Serva". No Templo, com Simeão e Ana; na viagem para o Egipto e no regresso, Maria continuou a ser Serva e Senhora.(cfr. Lc 2, 35 e 38).
Ainda antes da vida pública de Jesus, quando tinha 12 anos e fora a Jerusalém "pela festa da Páscoa", os pais andaram aflitos à sua procura. A Serva e Senhora, ao reencontrar o Filho, a Senhora perguntou "por que fizeste isto?" E, como Serva, ouviu a resposta e "guardava todas estas coisas no seu coração"(Lc 2,51).
E o que aconteceu em Caná? Era festa. A Serva e Senhora tinha observado e feito o que podia. Acabou por dizer ao Filho. "Não têm vinho". E mandou aos serventes: "Fazei tudo o que Ele disser" (cfr. Lc 2,1-12). Este relato é uma boa imagem de Maria como Serva e Senhora.
E junto â cruz? João (19,25-27) fala-nos de Maria, em três versículos, como Mãe. Entretanto, no testamento pessoal de Cristo, Maria é chamada Mulher ou Senhora. E João, que representava cada um de nós, acolheu Maria como Mãe e recebeu-a “em sua casa”.
Maria, porque é Mãe e Cristo e Mãe da Sua Igreja, é, poderemos repetir e sublinhar, Serva. da Missão da Igreja e Senhora da Mensagem da Igreja.
À maneira de conclusão, poderia juntar duas singelas sextilhas:

Maria Serva e Mulher / continua a rezar:
"Fazei o que Ele disser" /Amar e saber amar
com alegria e alento/ é o grande mandamento!

Maria livre e sincera/quis ser Serva do Senhor/
A vida foi primavera/na riqueza do amor.
Maria, nossa Senhora/é Mãe aqui e agora.





3. A MISSÃO DA SERVA E A MENSAGEM DA SENHORA

Anunciada desde toda a eternidade (LG 56,61-62), Maria foi “predestinada” a exercer uma missão salvífica subordinada ao único Salvador, Jesus Cristo. Isto é claro para todos os bons marianos e explicado correntemente e coerentemente pelos mariólogos. Portanto, a missão de Maria é a de seu Filho, e a mensagem de Maria é o Evangelho.
O Concílio Vaticano II (apesar de terem passado quase 40 anos) continua a ser o compêndio da doutrina da Igreja (com o seu CIC que já fez 10 anos).Vamos (re)ler o n.º 255 da Lumen Gentium, onde se diz que Maria foi predestinada e foi também pré-anunciada. De seguida, sem hesitações, declara que “os livros do AT e do NT, assim como a veneranda tradição, mostram de modo sempre mais claro a missão da Mãe do Salvador na economia da salvação”.
O que é a missão? E o que é a missão de Maria? Sem buscar resposta nos dicionários ou nos tratados, poderemos resumir que a missão corresponde a um conjunto de objectivos, com os seus próprios meios e destinatários. A missão cristã é evangelizar e salvar todas as pessoas, pela graça de Deus. A missão da "Serva do Senhor" é ser mediadora para o seu Filho, o único Salvador, que age na Sua Igreja, numa missão una e única, que se diz simultaneamente profética, sacerdotal e caritativa.
Acerca da Missão de Maria e da Igreja, entre tantos textos conciliares e pontifícios, simbolicamente escolho uma citação de João XXIII na convocatória para o Concílio Vaticano II. Diz: "O divino Redentor Jesus Cristo, que antes de subir ao céu tinha conferido aos apóstolos o mandamento de pregar o Evangelho a todas as gentes, como apoio e garantia da sua missão fez a consoladora promessa de estar sempre com eles, todos os dias, até ao fim dos tempos (Mt.28,20).Tal presença divina, viva e operante sempre na Igreja, manifesta-se sobretudo nos períodos mais graves da humanidade. Então a Esposa de Cristo mostra-se em todo o seu esplendor de mestra da verdade e ministra da salvação" .
E o beato Papa João XXIII termina a introdução da sua Carta que convoca o grande concilio ecuménico do século XX com as palavras que o apóstolo João ouviu do seu Mestre: "Tende confiança, eu venci o mundo"(16,33).
Não queria encerar este apontamento, em citar João Paulo II. Sirvo-me da Carta sobre o Rosário . Diz assim no número 14:"O primeiro dos sinais realizado por Jesus (a transformação da água em vinho nas bodas de Caná) mostra-nos precisamente Maria no papel de Mestra, quando exorta os servos a cumprirem as disposições de Cristo (cf. Jo 2,5). E podemos imaginar que Ela tenha desempenhado a mesma missão com os discípulos, depois da Ascensão de Jesus, quando ficou com eles à espera do Espírito Santo, e os animou na primeira missão. Percorrer com Ela as cenas do Rosário é como frequentar a “escola” de Maria para ler Cristo, penetrar nos seus segredos, compreender a sua Mensagem".
Termino mesmo com o apelo de sermos bons alunos na escola de Maria, para lermos Cristo, para vivermos Cristo, e para revelarmos e darmos Cristo Salvador a todo o mundo.
Com Maria!
Como o pastorinho Francisco ou a pastorinha Jacinta, poderia concluir com duas sextilhas, a saber:

A Senhora da Mensagem/precisa de mensageiros
a quem incute Coragem/para sermos bons obreiros
como servos do Senhor/na vida sempre melhor!

Maria tem a missão/de nos dar o Salvador
para termos Salvação/em família de amor
semeando paz e bem/ com Nossa Senhora Mãe.


Leiria, l de Novembro 2002, solenidade de Todos-os-Santos
+ D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva
Bispo de Leiria-Fátima e Assistente Geral do M.M.F.


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