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«Funerais à americana» com início adiado
2001-01-14 13:33:22

Se nos casamentos é a Igreja Católica que tenta travar os gastos excessivos, no sector funerário é o Governo a querer impor alguma contenção nos preços praticados.

Até ao fim do mês será apresentado um diploma onde é fixado um «preço social» para funerais. As agências ficam obrigadas a incluir nos seus pacotes um serviço para as famílias mais desfavorecidas.

Esta intervenção do Estado surge quase três anos após o início da entrada em Portugal das poderosas multinacionais norte-americanas, líderes mundiais desta actividade, que fazia prever uma inflação nos preços.

No início de 1999 pairava sobre o sector funerário nacional o espectro de uma autêntica invasão do «american way» de enterrar os mortos. A SCI (Service Corporation International) e a Stewart, respectivamente em primeiro e terceiro lugar no «ranking» mundial das funerárias, já tinham conquistado nessa altura quase metade do mercado de Lisboa e preparavam-se para fazer uma incursão no resto do território.

As agências mais emblemáticas e tradicionais de Lisboa - como a Salgado, Barata, Magno ou a Melo - passaram a fazer parte da grande família americana.

A SCI começou por utilizar um «marketing» agressivo e apresentava objectivos bem determinados que deixaram apreensivos os portugueses. Principalmente os mais conservadores, que achavam que um funeral iria parecer mais uma festa. Aparentemente, tal estratégia está mais suavizada e é agora com palavras mais doces que os americanos tentam conquistar o coração e a carteira dos que perdem entes queridos.

«Não queremos mudar os hábitos dos portugueses, mas sim servi-los melhor e com profissionalismo», afirma Lina Belo Santos, presidente da SCI, detentora de 35% do mercado da capital.

Lina Santos, também administradora da Agência Melo, substituiu no ano passado Manuel Noronha de Andrade, que no início de 1999, enquanto representante da organização, garantiu ao EXPRESSO que até final desse ano haveria em Portugal o primeiro complexo funerário «à americana».

Dois anos volvidos, a construção não se verificou e, segundo Lina Santos, «deixou de ser prioridade» na empresa: «Vamos valorizar o que cada agência tem de melhor e não impor a cultura americana», assevera.

A mais directa concorrente da SCI, a Stewart, presidida por Juvenal Coelho, também desistiu, para já, do projecto de tanatório que tinha em mente. «Houve um abrandamento desse investimento», reconhece. «A Igreja não mostrou muita abertura e achámos que seria um risco demasiado grande», justifica.

Entre 1999 e 2000 a Stewart adquiriu mais cinco agências em Lisboa, duas na margem sul, uma em Oeiras e outra no Algarve, e a SCI comprou duas em Lisboa, uma em Sintra e outra em Torres Vedras. A quota de mercado das multinacionais alcançou agora o pleno dos 50% na região de Lisboa.

Tanto para a Stewart como para a SCI as novas regras anunciadas pelo Governo «não trazem nada de novo». Juvenal Coelho, também presidente da Assembleia Geral da Associação Nacional das Empresas Lutuosas, considera-a «mais uma medida avulsa do Governo, num sector completamente desregulamentando, onde as prioridades deviam ser outras».

Ambas as multinacionais minimizam o impacto da medida governamental ao mostrarem que as suas tabelas já incluem um chamado «serviço mínimo com dignidade». Nas agências da SCI custa 110 contos e nas da Stewart 104 mil escudos.

De acordo com os últimos dados do INE, relativos a 98, esta actividade teve nesse ano um volume de negócios da ordem dos 18.8 milhões de contos.


Fonte Expresso

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