paroquias.org
 

Notícias






Bispo do Algarve - Não faz sentido celebrar a Eucaristia se não comungamos da Palavra nem da partilha fraterna
2002-11-12 21:14:18

O Bispo do Algarve, D. Manuel Madureira Dias, foi o primeiro palestrante de um ciclo de dez reflexões que a paróquia de São Pedro, em Faro, começou a levar a cabo durante o presente ano pastoral.

Nesta primeira conferência, realizada no passado dia 5 de Novembro, sob a temática da Eucaristia, D. Manuel Madureira Dias, acentuou de forma marcante a íntima relação existente entre a prática da partilha fraterna e a comunhão da celebração eucarística.
Inspirado por um autor do século II o Prelado começou por constatar que os cristãos não podem viver sem Eucaristia e que “a Sagrada Escritura e a Eucaristia são um todo”, pois “quer sob forma de Palavra, quer sob a forma Alimento, estamos na própria presença de Jesus”. “Se os cristãos acreditam na Sagrada Escritura, não podem viver sem Eucaristia. Se temos fé cristã na Sagrada Escritura, só por ignorância total é que podemos dispensar-nos da Eucaristia, pois justamente a Sagrada Escritura refere-se à Eucaristia imensas vezes” – sustentou o Bispo do Algarve.
E passou a dar alguns exemplos desta sustentação da Eucaristia na Sagrada Escritura. Recordando do capítulo sexto de São João, o episódio na sinagoga de Cafarnaum em que Jesus dirige à multidão que o rodeava uma “enigmática” frase indirectamente alusiva à Eucaristia – “Eu sou o Pão descido do céu”, – confirmando que é o “verdadeiro Pão, o verdadeiro Alimento” para aqueles que o quiserem receber.
O relato da última Ceia pelos restantes evangelistas e por São Paulo na sua primeira carta aos Coríntios foi outro dos exemplos escolhidos por D. Manuel Madureira Dias, assim como a descrição de São Lucas da passagem dos discípulos de Emaús que só reconhecem Jesus ressuscitado no gesto da bênção e do partir do pão. A narração da vivência das comunidades primitivas, no livro dos Actos do Apóstolos, quando todos eram “assíduos ao ensino dos Apóstolos, às orações e à fracção do Pão” e o ensinamento de São Paulo, também na sua primeira epístola ao povo de Corínto, chamando a atenção para a “dignidade da celebração do Pão”, foram outras passagens enumeradas por D. Manuel.
Na segunda metade da sua intervenção o Bispo do Algarve começou por apresentar uma definição para Eucaristia – sacramento e mistério – , que na sua origem grega tem este duplo significado. “Mistério no sentido de algo que não é acessível aos nossos sentidos, à nossa capacidade terrestre e humana, à nossa inteligência limitada. Algo que me transcende, que está para lá de mim, que me ultrapassa, mas ao mesmo tempo a que eu tenho algum acesso por caminhos intermédios, por imagens, por comparações, por sinais” – esclareceu o Bispo do Algarve, reforçando a sua ideia com um exemplo prático: “quando nós somos, pela fé, lavados na água e invocamos o Espírito Santo, acreditamos que aquele banho de água é sinal. Aquela água é um sinal exterior, porque quem purifica o coração não é a água, mas o Espírito Santo. A isto chamamos sacramento” – esclareceu o Prelado.
D. Manuel Madureira Dias referiu-se igualmente aos elementos que Jesus utilizou para instituir a Eucaristia: o pão e o vinho. “Jesus Cristo identificou o pão com o seu corpo que ele ia entregar e identificou o vinho com o sangue que ele ia derramar”. “Aquele pão não é apenas o sinal sensível de um corpo ou de um alimento, mas o sinal sensível de um corpo entregue, oferecido. Um corpo colocado em cima do altar da cruz para ser, de alguma maneira, a substituição de uma humanidade inteira a fim de que seja redimida do seu pecado” – acrescentou o Bispo diocesano.
“Jesus Cristo ‘inventou’ uma maneira de mesmo depois da morte, depois de ressuscitado e glorificado, permanecer como corpo entregue e sangue derramado através de um sinal sacramental feito do pão e do vinho” – completou D. Manuel.
Mas o Bispo do Algarve identificou também a Eucaristia como “memorial da morte, ressurreição e ascensão de Jesus ao céu”. Memorial não apenas no sentido de fazer memória, de recordar o que aconteceu, mas sobretudo no sentido de “tornar presente neste momento a mesma coisa que então se realizou”. Segundo o Prelado, “a seguir à consagração torna-se presente para a comunidade o mesmo mistério que Jesus realizou na sua ceia”. “E não apenas o mistério da Ceia como tudo o que ela representou, como antecipação do corpo entregue e do sangue derramado” – acrescentou.
Este memorial da morte e ressurreição é igualmente – segundo o Pastor diocesano – “memorial da Nova Aliança”. “Houve uma série de compromissos assumidos entre Deus e o Povo (selados com o sangue das vítimas imoladas) no decorrer da história do Antigo Testamento, tendo sido todos eles violados por parte do povo. O Senhor quis fazer alguma coisa de novo, de tal maneira que celebrou uma Nova Aliança, selada agora com o próprio sangue do seu Filho” – elucidou D. Manuel.
Para terminar o Bispo do Algarve esclareceu ainda que a “toda a Eucaristia é comunhão”, desde o seu início até ao seu término. “Acolher o desafio que Deus me faz nas leituras e responder positivamente a esse desafio é comungar” – afirma D. Manuel, deixando um aviso: “Quem não comunga da Palavra também não deve receber a Eucaristia, fazendo de conta que comunga”. Mas a comunhão deverá ser também em relação aos irmãos alerta o Bispo diocesano: “é depois de Deus me ter proposto o amor (com a Aliança) e de eu ter respondido com amor, – a ele e aos irmãos – , que eu vou “confirmar” com ambos o meu compromisso, comungando do Corpo de Cristo”. “Não se devia entender a celebração da Eucaristia sem uma prática de partilha fraterna no exterior da igreja” – defendeu D. Manuel.

Fonte Ecclesia

voltar

Enviar a um amigo

Imprimir notícia