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Libertar e dignificar a mulher e as famílias na migração
2002-11-06 12:32:44

De 9 a 14 de Outubro de 2002, sob a presidência de D. Luís Pelâtre, Vigário Apostólico de Instabul e presidente do Comité Europeu para as Migrações, encontraram-se em Izmir, na Turquia, os bispos e directores nacionais responsáveis pela Pastoral das migrações das Conferências Episcopais da Europa (CCEE).

Foi este o país escolhido não só para fortalecer solidariamente na fé e no testemunho a pequena comunidade católica, de apenas 5.000 baptizados que vive uma experiência secular na convivência entre cristãos e muçulmanos, mas também porque os turcos constituem hoje o grupo mais numeroso de imigrantes na União Europeia. Os participantes neste Vº Congresso Europeu, representando ... países, puderam durante um dia inteiro confrontar-se com professores da Universidade de Izmir sobre a situação da mulher e da família neste país maioritariamente de cultura e religião islâmicas. Particparam como observadores a Comissão Católica Internacional das Migrações,

1. A migração global tornou-se um sinal distintivo do nosso tempo. É, não só expressão de uma economia que se estende a nível mundial ou de um desenvolvimento que cresce além das fronteiras, mas torna-se sempre mais expressão da incapacidade política e da insegurança social, quer nos países de origem, quer nos de destino. A migração, além de determinar as relações interpessoais dentro do núcleo familiar e da própria sociedade, provoca mudanças nos diferentes âmbitos: político, económico, da vida social e civil.

2. Nos últimos 20 anos a migração global tem-se transformado. Em particular, tem aumentado o rosto feminino dos movimentos migratórios. São cada vez mais as mulheres que deixam a própria pátria para ganhar para (sobre)viver, para contribuir à vida da própria família, para encontrar no estrangeiro novas perspectivas de vida profissional, para procurar segurança pessoal, refúgio de perseguição ou de ofensa à própria dignidade. Cresce o número de mulheres que optam por este percurso com uma nova consciência; elas iniciam este "êxodo" de forma independente, quer das famílias, quer dos próprios pais ou esposos. Apresenta-se muito diversificada a situação das mulheres migrantes: existem as mulheres ao abrigo do "reagrupamento familiar", as trabalhadoras "temporárias" em âmbitos de trabalho especifico feminino, as mulheres da segunda e terceira geração, as mães solteiras ou separadas com filhos a cargo, as refugiadas e, infelizmente, em número crescente, as mulheres, algumas ainda menores, "compradas" através do tráfico humano. Muitas delas acabam por engrossar os circuitos rentáveis da prostituição forçada e do trabalho escravo. Este novo rosto da migração forçada lança urgentes e novos desafios á acção da Igreja na Europa.

2. O Congresso deu um enfoque particular, entre outros, aos seguintes aspectos:

a) o conhecimento da situação local é uma condição indispensável para uma avaliação correcta da problemática, tendo a situação da mulher e o significado da família um papel determinante neste contexto;
b) os papéis da mulher e da família, através da estreita ligação social que mantêm, têm um significado decisivo na compreensão das migrações e constituem um elemento importante para o sucesso da integração;
c) o Islão mantêm uma sua forte influência através da doutrina e da sociedade. De facto, este contexto tem que ser tomado em consideração em todo e qualquer tipo de diálogo inter-religioso, favorecendo as possibilidades, mas também salvaguardando do risco da instrumentalização e discriminação.

O fenómeno das migração é habitualmente avaliado em modo pessimista porque emergem mais facilmente as experiências negativas. Porém, um olhar atento diz-nos que: são muitas as experiências de convivência positiva, chegando mesmo a ultrapassar aquelas problemáticas; apesar de ser muito pouco reconhecido, as mulheres e as famílias contribuem de maneira incalculável ao processo da migração e da vida.

3. Por conseguinte, eis os novos desafios para a pastoral dos migrantes:

a) A Igreja - como Igreja universal - em que vivem pessoas de diferente proveniência, língua e cultura, oferece o ministério da mediação entre os homens e as culturas.
b) O processo de inserção funciona quando os migrantes não são apenas considerados "objecto" da pastoral, mas "sujeito" de evangelização, quando partilham a responsabilidade na acção pastoral da comunidade.
c) a diversidade pode tornar-se riqueza e ser sinal de catolicidade. A pastoral dos migrantes e a solidariedade para com eles não é obra de alguns especialistas, mas pertence á própria missão da Igreja no seu compromisso pela justiça e pela paz.
d) a corresponsabilidade dos leigos (a tempo inteiro, parcial ou volontário) é uma exigência para o futuro da Igreja na sociedade europeia. Por isso, é preciso continuar a insistir na formação dos leigos.

4. Os participantes do Congresso exprimem as seguintes recomendações:

1. No espírito do Evangelho, o nosso primeiro interesse consiste na vida concreta das pessoas e no encontro com elas em espírito de abertura, independentemente da cultura, língua ou religião.
2. A Igreja defende a dignidade das pessoas, em particular das mulheres e crianças. Ela pede o respeito pelos direitos humanos e empresta a própria voz aos que não têm voz.
3. As mulheres consagradas (religiosas e seculares) podem assumir um importante papel de mediação, sobretudo, em contexto interreligioso.
4. A Migração está a tornar-se uma dimensão transversal em todas as disciplinas da formação teológica e dos vários sectores da pastoral.


Izmir, 14.10.2002
Documento Final

Fonte Ecclesia

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