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Padres Espanhóis Adoptam Crianças
2002-11-06 12:17:27

Desde há alguns meses que o conservador episcopado espanhol encara um inesperado desafio: o de um sacerdote que adoptou um órfão da Bielorússia, o primeiro caso de adopções de membros do clero tornado público em Espanha.

Após uma longa "aventura" burocrática, um sacerdote, de 48 anos, de uma pequena localidade de seis mil habitantes, adoptou Aleksey Gromico, um miúdo de oito anos, que de camisa e gravata, já fez a primeira comunhão.

"Nunca pensei em adoptar uma criança, nunca me passou pela cabeça ser pai, mas no meu caminho apareceu este pequeno que pela primeira vez se sentia querido por alguém e eu não tinha o direito de o deixar só", admite Valentin Bravo, pároco de El Espinar, na província de Segóvia, a norte de Madrid. Foi a esta povoação que Aleksey chegou há dois anos. Era mais um de um grupo de 50 miúdos que, em Espanha, tinham férias. Todos tinham sofrido no corpo o desastre da central nuclear de Chernobyl, e o pequeno Gromico, órfão de pai, mãe alcoólica, e que já passara por uma família de acolhimento e diversas instituições sociais no seu país de origem, vinha doente e revoltado."Ele não sabia o que era um beijo, uma carícia, a todo o gesto respondia com violência, desagrado, e estava doente", recorda o pároco Bravo.

Gromico, que nasceu em Gomel, uma localidade no limite geográfico da Bielorússia com a Ucrânia, a zona mais afectada pela nuvem radiocativa de Chernobyl, chama-se agora Alosa. É por este nome que o tratam os habitantes de El Espinar, onde recuperou a saúde, a alegria e a esperança. Alosa fala castelhano, está na escola e proclama : "O meu pai é padre". Alosa diz ser espanhol - a pátria é quem nos acolhe - e o seu quotidiano é simples e feliz como o de todos os seus amigos.

Antes da adopção, o pároco Bravo consultou o bispo de Segóvia que, através de Alfonso Frechel, o seu delegado diocesano, não levantou problemas. "Adoptar uma criança é um gesto admirável", disse Frechel. Aliás, o Código de Direito Canónico é omisso sobre estas situações.

No entanto, a divulgação deste caso provocou a reacção da Conferência Episcopal espanhola. O teólogo José Luís Moreno, director do secretariado de seminários e universidades do episcopado de Espanha, contrapôs: "Estamos contra este tipo de adopções porque a criança não fica numa família normal e porque o sentido do celibato implica não apenas não ter esposa, mas também renunciar a uma família".

A reacção da hierarquia eclesiástica propõe uma dicotomia. A que separa o dogma - aceitar a adopção por sacerdotes ou religiosas propiciaria a erosão do actual modelo de clérigos já há muito posto em causa - da realidade social vivida pelos pastores.

Outro sacerdote, Rafael Guerrero, de 46 anos, com actividade pastoral no Perú mas que se encontra nas Astúrias natal para se recuperar de uma doença cardíaca, saiu a terreiro. Guerrero adoptou há oito anos Raquel, uma pequena peruana abandonada ainda recém-nascida no hospital de Juliaca, a cidade mais próxima do lago peruano de Titicaca. "A vida colocou-me na posição de bom samaritano que passava ao lado do que atiram fora mas, em vez de explicar o mistério da Santíssima Trindade, ajudo e cuido de quem encontro", explicou. O sacerdote não se considera, de resto "um tipo raro". "Um padre, como qualquer cristão, deve responder a partir da fé às circunstâncias que se lhe apresentam, e a minha consciência não me permitia olhar para outro lado", acrescentou.

Os casos dos padres Valentin Bravo e Rafael Guerrero não são únicos. Outros sacerdotes espanhóis ampararam e adoptaram crianças em situações difíceis, permitindo a sua sobrevivência. Foi José Vivancos, um missionário nascido na província de Murcia, o primeiro pároco de Espanha a adoptar uma criança. Decorria o ano de 1986 e Vivancos, em missão nas Honduras, adoptou o miúdo Leonel, hoje um homem casado e com família. Rezam as crónicas que Don Javier Azagra, então bispo de Murcia, cada vez que encontrava "Pepe", como familiarmente era conhecido José Vivancos, dizia-lhe com simpatia: "És o único padre de Espanha com um filho".

Fonte Público

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