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Santa Sé «trava» americanos
2002-10-20 18:54:21

O Vaticano leu a Carta para a Protecção das Crianças e Jovens, redigida pelos bispos americanos e não a aceitou, considerando necessário uma reflexão mais aprofundada das medidas a adoptar, antes de se afastarem liminarmente do sacerdócio padres suspeitos da prática de abusos sexuais. Nesse sentido, a Santa Sé defende a criação de uma comissão conjunta _ quatro bispos nomeados pela Igreja Católica dos EUA e outros quatro designados pelo Vaticano.


Para as vítimas, esta decisão é um claro sinal de resistência contra a implementação de reformas no seio da Igreja Católica. Mark Serrano, da direcção da Rede de Sobreviventes dos Abusos dos Padres, considera a posição de Roma como «uma vitória dos burocratas do Vaticano e dos bispos recalcitrantes», acrescentando que as vítimas vão continuar a fazer pressão para que sejam modificadas as leis nos EUA por forma a tornar mais fácil levar a tribunal os padres culpados.

Segundo Mike Emerson, porta-voz da Voz dos Fiéis, movimento que advoga a reforma da igreja americana, a posição do Vaticano «dá aos bispos a possibilidade de separarem e escolherem somente a parte da Carta que gostariam de ver aplicada nas suas dioceses. Não era isso que estávamos à espera».

Dos 46 mil padres dos EUA, pelo menos 300 foram afastados das suas paróquias desde que rebentou o escândalo dos abusos sexuais em Janeiro, quando um padre de Boston foi enviado para outra diocese mesmo depois de as acusações de ter molestado sexualmente crianças terem chegado ao conhecimento dos seus superiores.

Em Junho, os bispos americanos reuniram-se e decidiram adoptar uma série de medidas para evitar novos escândalos de abusos sexuais: entre outras medidas, decidiram que os padres seriam retirados do trabalho da igreja sempre houvesse alegações credíveis de estarem envolvidos em abusos sexuais, e retirava a possibilidade de um padre ser reabilitado, estabelecendo que seria retirado do seu ministério «por uma única acção de abuso sexual contra um menor, passada, presente ou futura».

Russell Shaw, ex-porta voz da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos, afirma que é errado pensar-se que a resposta do Vaticano representa o fim da questão: «O jogo não acaba aqui. Toda a gente gostaria que acabasse da noite para o dia, mas é uma questão demasiado vasta e complexa. »

E o reverendo Robert Bullock, do Fórum de Padres de Boston, diz estar à espera de uma resposta da liderança do clero americano, por forma a sanar o fosso cavado entre os bispos e os padres: «Fez-se tudo o que havia a fazer pelas vítimas, mas continua em aberto saber-se o que será feito para que os padres tenham um julgamento justo.»

Já para o reverendo Robert Silva, presidente da Federação Nacional dos Conselhos de Padres, a resposta do Vaticano representa «é uma grande ajuda. Dá mais energia aos padres para que continuem a procurar um tratamento justo».

Na sua resposta, assinada pelo cardeal Giovanni Battista, o Vaticano afirma-se chocado com os casos de abusos sexuais, mas ressalva que os mesmo foram praticados por «um pequeno número» de sacerdotes. Para além disso, a Carta pode ser uma «fonte de confusão e ambiguidade».

O presidente da Conferência Episcopal dos EUA, Wilton Gregory, já aceitou as recomendações do Vaticano.

Fonte DN

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